quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

SEPARAR O TRIGO DO JOIO


É verdade que a forma muitas das vezes é tão importante quanto o fundo. Mas é, igualmente, verdadeiro dizer que em muitas ocasiões há quem se agarre à forma para esconder a falta de conteúdo ou para desfocar do essencial. Vale isto para dizer – a propósito do casamento entre pessoas do mesmo género – que a discussão formal em curso pretende apenas “tapar o sol com a peneira”.


Não aceitar o casamento, mas apenas a união civil; assim como não concordar com a aprovação do diploma pelo governo ou pelo parlamento, mas antes por referendo é, em meu entender, um exercício de calculismo político para uns e de pura demagogia para outros.

No contexto civilizacional actual, impedir duas pessoas, apesar do género, de se unirem e, por via disso, obter iguais direitos (e deveres!) a outras uniões é incompreensível e desajustado. Só por puro preconceito se pode aceitar o “ok, que se juntem, mas não têm os mesmos direitos dos casados”.

Discriminar negativamente em função da raça, da cor, do credo, entre outros, é há muito (felizmente) considerado um crime, pelo que se não compreende qualquer tipo de discriminação em função das opções sexuais, quando isso diz apenas e só respeito ao próprio indivíduo e à sua consciência, não afectando em nada a comunidade ou o relacionamento com os outros. Aceitar que o Estado, a Lei ou os dictâmes da Igreja se imponham à vontade e as liberdades individuais (no caso) é absolutamente inaceitável e um retrocesso social e cultural.

Pois bem, há muito que Portugal – integrado na União Europeia onde outros países ditos mais avançados já deram esse passo – está preparado para reconhecer a pessoas do mesmo sexo o direito a casarem e, por via disso, as mesmas prerrogativas e deveres legais. Finalmente houve a vontade política que faltava, visto que a consciência social dominante era a este propósito pacífica. Fica bem ao Partido Socialista cumprir uma promessa eleitoral com tal celeridade (assim cumpra outras noutros domínios) e fica-lhe melhor ainda afirmar-se como partido que privilegia os direitos individuais e as liberdades. Essa é a marca da esquerda moderna!

Resta-me alertar para um erro que me parece alguns (os fanáticos) desejarem cometer: querer avançar de imediato para a adopção por pessoas do mesmo sexo. Para que conste sou defensor da adopção por casais homossexuais, porém este ainda não é o tempo nem o momento.

Ora, ao contrário do que acima se disse, parece-me que o país precisa ainda de debater melhor o tema da adopção, as consciências precisam todavia de compreender que manter crianças institucionalizadas é pior do que as entregar a quem as quer amar, independentemente da opção sexual. Portugal precisa, porém, de ser confrontado com as suas fraquezas legais e administrativas no domínio da adopção para, depois sim, se mudar: não apenas permitindo a casais homossexuais que adoptem, mas facilitando aos milhares de tantos outros (heterossexuais) que desistem no labirinto burocrático. Sempre com prejuízo das mesmas: as crianças!

CONTRA-CORRENTE


Temos por hábito dizer que é muito difícil dar presentes a quem já tem muito ou quase tudo, por isso mesmo esta época natalícia se pode facilmente transformar num pesadelo quando procuramos prendas para alguns familiares e amigos mais afortunados.

Mas o inverso não é menos verdadeiro: decidir o que oferecer a quem não tem nada ou tem muito pouco é de igual modo uma tarefa árdua, porquanto a definição de prioridades e a presunção do que é melhor para os outros é frequentemente motivo de discórdia.

Se estas regras simples se aplicam ao quotidiano dos homens, de igual modo se estendem aos das organizações, entidades e Estados. Vale isto para dizer que não é nada fácil responder ao desafio de buscar prendas para o país e menos ainda para a cidade de Coimbra…porque lhe falta quase tudo!

O actual contexto aconselha a muita contenção nos custos e, sobretudo, a maior prudência nas opções, por isso mesmo eu ficaria neste desiderato pelo campo das atitudes e menos pelo das soluções materiais.

Nota prévia – gosto de seguir o ditado antigo que diz que se conselho fosse bom seria vendido e não dado! Posto isto…

Ao país falta estima – bem sei que é histórico, mas… - por isso seria muito importante adquirirmos uma outra atitude nacional: de mais reconhecimento pelos nossos próprios valores, feitos e conquistas. Há muitos a quem falta “Mundo” para compreenderem como “lá fora” nem tudo é bom e que há muito feito “cá dentro” que também é cobiçado. Por isso Pai Natal venham de lá sacos e sacos de auto-estima para Portugal.

Mas Portugal precisa também de mais ambição. Ser segundo é sempre ser o primeiro dos últimos, dizem. Concordo. Para sairmos da cepa torta temos de querer ir mais longe, de fazer melhor, de alcançar sempre mais. Não nos poderemos resignar com a mediania. Há no país muitos e bons exemplos de vencedores mundiais. Há que estudar os conceitos e replicá-los. Nas escolas, nas empresas e, sobretudo, no Estado.

Portugal precisa, acima de tudo, de definir para si um modelo que assente no mérito. Um conjunto de indicadores que ponham os portugueses em avaliação permanente e com metas mensuráveis, que uma vez atingidas devem ser objecto de premiação e de reconhecimento. Uma sociedade que não reconhece os melhores não promove a competição; uma comunidade que não é a competitiva cai no atavismo e fica-se pela mediania.

Por fim, Portugal precisa mesmo de mais sentido da responsabilidade. Sobretudo quem tem poder (dos políticos aos jornalistas, dos gestores aos juízes) deve ter consciência do real impacto que as respectivas acções e omissões geram nos outros, sejam ou não os destinatários directos.

Em Portugal pensa-se pouco no efeito decisório, só isso pode justificar a vulgaridade com que se trata o segredo de justiça, a banalização com que se fala de eleições antecipadas e a intencional destruição pública do Projecto Magalhães, por exemplo.

Enfim, se o país precisa de tudo isto (e de muito mais) imagine-se uma cidade como Coimbra, há muito um modelo de mediania e de atavismo! Votos de tudo igual ao país, mas em…dobro!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXXVI


Na semana em que o Mundo tem os olhos postos em Copenhaga por causa da Cimeira do Clima, vale a pena perceber de que modo a internet e as novas tecnologias foram contribuindo nos tempos mais recentes para a sustentabilidade ambiental do planeta.

Há muito que o cálculo da “pegada ecológica” (ecological footprint) pode ser feito na net, dando-nos a percepção real da “quantidade de terra e água que seria necessária para sustentar as gerações actuais, tendo em conta todos os recursos materiais e energéticos gastos por uma determinada população”.

Ora, este tipo de iniciativa, promovida por diversas universidades e organizações não governamentais (ex: http://earthday.net/footprint2/index.html), tem feito mais pela consciencialização ambiental, sobretudo das novas gerações, que muitos diplomas legais ou conferências inter-governamentais.

Hoje em dia, as novas tecnologias permitem a divulgação eficiente de boas práticas e, essencialmente, consubstanciam modelos energeticamente eficientes. Os utilizadores e consumidores têm uma crescente consciência ambiental, de tal modo que as opções são feitas não apenas com base na performance dos produtos e serviços, mas também no respectivo comportamento energético e ambiental.

Ser “Amigo do Ambiente” não é mais uma questão marginal de meia-dúzia de “freaks”; é efectivamente uma condição diferenciadora no mercado para conquistar a simpatia generalizada dos consumidores; é uma marca distintiva para políticos e políticas; é, em suma, um sinal dos tempos modernos em que as consciências colectivas acordaram para aquele que é seguramente o maior desafio para a condição humana: preservar o planeta e o ambiente.
Publicado no JORNAL OJE

EUROPA: NÃO HÁ MAIS TEMPO A PERDER!


O Tratado de Lisboa é um marco importante no processo de construção europeia. Para nós, portugueses, duplamente relevante: pela reforma institucional que consubstancia e por fixar o nome da nossa capital para a posteridade.


Mas, a final, tudo isso será muito pouco se os actores europeus – eurocratas, eurodeputados, governos e parlamentos nacionais – não compreenderem que o tempo escasseia para definitivamente ser criada uma verdadeira identidade europeia.

Depois de criada para unir na construção do pós-guerra, de alargada para fazer face aos dois blocos da “Guerra Fria”, de aprofundada por via de um mercado e de uma moeda comum é, hoje, chegado o tempo do passo seguinte: criar uma efectiva cidadania europeia.

E o que é isso da cidadania europeia? É um quadro de valores comuns no domínio social, cultural e político. O mesmo será dizer que uma vez criada a Europa dos números importa agora edificar o mais relevante. Tudo o resto!

Enquanto existirem disparidades sociais tremendas entre os diversos cidadãos europeus (designadamente nos rendimentos e nos indicadores de qualidade de vida) a ideia europeia está longe de ser efectiva. Enquanto as oportunidades para os jovens forem substancialmente distintas no seio dos 27 países estamos muito longe de uma cidadania europeia. Enquanto os níveis de desemprego forem totalmente assimétricos no mesmo espaço geográfico não poderemos falar numa Europa socialmente justa…

A verdade é que continuamos a ter várias Europas e não uma Europa. E dentros das várias europas agregações de interesses. Temos a Europa dos países ricos e a dos países pobres. A Europa do Norte e a Europa do Sul. A Europa do eixo Franco-Alemão e a Europa dos outros. A Europa dos cépticos e a Europa dos convictos. A Europa dos interesses agrícolas e a Europa da Inovação. A Europa aberta e a Europa proteccionista. Enfim, este “puzzle” europeu tem dificultado a construção das referidas identidade e cidadania europeias.

Pois bem, por mais interessante que seja o novo ordenamento jurídico do Tratado de Lisboa, por mais inovadoras que sejam as mudanças nas maiorias deliberativas, por mais carismáticos que possam ser o Presidente do Conselho Europeu, da Comissão ou a Alta Representante tudo isso significará muito pouco se no curto prazo a Europa social, cultural e política não existir de facto. Hoje ela está longe, muito longe mesmo, de existir.

Esta ausência de uma identidade europeia tem permitido que os grandes blocos emergentes – China, Índia e Brasil – além dos Estados Unidos, claro, se afirmem crescentemente: nas trocas comerciais, nas influências culturais, no poderio militar, em suma, no comando geo-estratégico do Mundo.A Europa que temos actualmente recorda-me aquela estória da pequena formiga que montada num grande elefante em movimento se dirige a este dizendo: “Ei Elefante, já viste a tamanha poeira que estamos a levantar?!...”. Tudo não passa de uma ficção. E já não há mais tempo a perder!..

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O FUTURO É HOJE!!


Lisboa acolheu a XIX Cimeira de Chefes de Estado e de Governo do espaço Ibero-Americano. Falou-se muito de Honduras, da ausência de Chavez e de outras pequenas coisas mais. Portugal, no seu todo, e que teve uma capacidade organizativa notável, acaba por retirar pouco deste momento.


Senão vejamos: o DN trazia, ontem, um especial sobre a Cimeira do qual retirei os seguintes números: a Espanha investiu, em 2008, no conjunto dos países ibero-americanos, o valor global de 1300 milhões de dólares. Portugal, por seu turno, apenas 2,5 milhões. Impressionante diferença! A Espanha, depois dos EUA, é o maior investidor externo no conjunto daqueles países; Portugal não tem expressão…


Estes dados devem dar que pensar. Sobretudo num momento de crise nacional e europeia, em que os indicadores demonstram que a América Latina crescerá no próximo ano em média 6%, talvez valesse a pena pensarmos em mudar de vida. Mudar de estratégia.

Portugal tem objectivamente a necessidade de crescer por via da internacionalização das empresas. Tal só é possível exportando mais. Ora, há poucos países com um potencial natural para absorverem o que criamos: os africanos de língua portuguesa e os da América Latina, com o Brasil inelutavelmente à cabeça, devem ser os prioritários.

Já não basta falarmos na comunhão de valores históricos, de patrimónios artísticos e de identidades. Já chega de citações de Fernando Pessoa e de Camões a propósito da importância da língua enquanto factor de unidade. Chega de prosápia e de discursos cheios de metáforas.

Tudo isso é verdade, mas este é o momento em que Portugal deve, definitivamente, observar a América Latina como o continente do futuro, como o parceiro natural e desejável. Para tanto, há que mudar a nossa filosofia diplomática: do rissol e do canapé para a “agressividade” comercial, para a criatividade na construção de parcerias, para, em suma, o pragmatismo diplomático que a circunstância obriga. É que o futuro é hoje!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXXV


Cortar o acesso à internet a quem dela faça um uso abusivo, entenda-se pirataria ou outra actividade que prejudique interesses de terceiros. Esta é actualmente a grande questão que inunda blogues e outros fóruns dentro e fora da net.


Alguns países, designadamente a França e a Espanha, já se adiantaram internamente com iniciativas legislativas que geraram polémica e discussões infindáveis nas respectivas geografias. Tal a relevância do tema que os demais países europeus não ficaram imunes. Aliás, o Parlamento Europeu aprovou esta semana um pacote legislativo (sobre Telcos), do qual resulta a possibilidade dos Estados membros fecharem o acesso a qualquer cidadão que “pise o risco” por três vezes.

O Parlamento Europeu esclareceu que tal só pode suceder após prévio “processo equitativo” de defesa perante uma autoridade nacional. Adiantou ainda que “será impossível cortar automaticamente o acesso a uma pessoa sem lhe dar primeiro a possibilidade de apresentar a sua posição”. Ora, pelo menos sabemos que algumas garantias de defesa existem, porém não se faz ideia de que tipo de autoridade nacional falamos nem tão pouco se de uma autoridade judicial se deveria tratar.

Uma coisa é certa: a internet é hoje uma realidade incontornável das nossas vidas e, por isso mesmo, reflecte as virtudes e os defeitos dos seus utilizadores/criadores. Nela são geradas das mais belas obras intelectuais e produzidos os maiores atentados à propriedade intelectual. Na net navegam os cidadãos mais ilustres e os bandidos mais reputados. Nela se constroem modelos que geram milhões e outros que assentam na gratuitidade mais absoluta. Em suma, a internet é um mundo belo de contradições. Como o real.

Este é um debate que merece a pena ser tido com serenidade e sem preconceitos. Para quando em Portugal?..


Publicado no JORNAL OJE

A LEI DA ROLHA


Que Coimbra tinha parado no tempo já nós desconfiávamos. Que Encarnação preferia o atavismo à modernidade é uma evidência, mas que a Lei da Rolha (que data de Agosto de 1850) viria a ser recuperada é que nunca esperámos.

Pois bem, foi com estupefacção que soubemos que a maioria do PSD-PP tinha imposto o silêncio forçado nas reuniões da Câmara Municipal.

Há mais de vinte anos que os jornalistas assistiam e noticiavam o que se passava nas reuniões do executivo do Município de Coimbra. A presença dos profissionais da comunicação social permitia aos munícipes ir tomando contacto com a actividade dos que elegeram. Para o bem e para o mal…

Na falta de mecanismos de informação sobre a actividade municipal (antes não havia internet, agora mesmo havendo a transparência ainda não é absoluta) a notícia ou os meros relatos do que se passava na Praça 8 de Maio foi, durante muito tempo, o único elo de ligação e de escrutínio popular dos eleitos. Agora, acabou-se. Significa menos abertura e mais opacidade, o oposto do que é desejável e imperativo. Coimbra é assim, nos últimos anos pauta-se pelos maus exemplos.

Compreendo que para o Presidente e para alguns vereadores a ausência de quem dá notícia do que se lá passa até poderia ser vantajoso…ai se era! Mas chegar a tanto?!...

Esta decisão de Encarnação envergonha a democracia, nega o passado histórico de Coimbra no combate contra a censura e contra o silêncio forçado. A cidade não pode continuar adormecida a permitir que tudo lhe seja feito. A cidade não são os eleitos, mas os que elegem e estes devem acordar da letargia profunda em que vivem há anos.

Para a história ficará o triste espectáculo de uma maioria que aprova um regulamento que nos apouca e (lamentavelmente) de alguns vereadores socialistas cuja abstenção irresponsável não dignifica…nem se desculpa por distracção.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXXIV


A Academia Internacional das Ciências Digitais, sedeada em Nova York, anunciou esta semana os 10 momentos mais relevantes da internet na última década. Vale a pena atentarmos.

Por ordem decrescente de importância a Academia elegeu:

O “Craigslist”, um site de anúncios de classificados gratuitos; o Google AdWords, uma ferramenta que adapta anúncios e pesquisas em motor de busca; a Wikipedia, uma enciclopédia on line editável por cada utilizador; o Napster, um meio de partilha de arquivos P2P; a entrada em Bolsa da Google; o vídeo on-line (de que o You Tube é o expoente máximo) que converteu os utilizadores em criadores de conteúdos audiovisuais; o lançamento do iPhone, enquanto novo conceito de telefones inteligentes; a campanha eleitoral de Obama como momento onde se compreendeu o impacto da democracia digital; os protestos nas eleições do Irão usando as novas tecnologias e as redes sociais como ferramentas de reacção cívica e, ainda, o Facebook e o Twitter, transformadores das redes sociais.

Poderemos concordar ou discordar da selecção feita, porém um facto é inegável: qualquer um destes momentos teve real e efectivo impacto na vida de muitos milhões de cidadãos. O mesmo será dizer que a internet, tal como a Wharton Schooll da Universidade da Pensilvânia já havia confirmado cientificamente, é uma das invenções mais impactantes das últimas décadas.

Os modelos sociais, seja de relacionamento entre pessoas seja entre entidades, mudaram radicalmente nos últimos anos em virtude de alguns dos momentos agora identificados pela Academia; a organização das empresas e dos mercados está em mutação por força de um novo paradigma alicerçado na economia virtual que a internet corporiza; as organizações políticas e os governos precisaram de reinventar o modo de relacionamento com os cidadãos por conta da força cívica emergente da net, entre outros exemplos.

Curioso, agora, será antecipar os momentos da próxima década!..
Publicado no JORNAL OJE

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXXIII

Voltemos ao tema da relação entre a produtividade e o acesso à internet – em particular às redes sociais – no ambiente de trabalho. Este assunto tem sido objecto dos mais diversos estudos e das opiniões mais controversas. Há para todos os gostos.

Na verdade, já aqui defendemos que existe um nexo causal entre mais produtividade e liberdade de navegação na net, designadamente participando de forma activa em fóruns sociais. Aliás, pôr termo a esta tendência natural seria amputar uma característica intrínseca às novas gerações digitais.

Pois bem, a australiana Universidade de Melbourne veio, também, confirmar esta posição, num estudo que desenvolveu o conceito de “workplace internet leisure browsing” (WILB). Daqui resultou que se investirmos 20% do nosso tempo no trabalho em navegação na internet – com propósitos alheios ao ambiente profissional – aumentaremos a nossa produtividade em, pelo menos, 9%. Assim sendo, aquilo que seria aparência de perda de tempo é, afinal de contas, um ganho.

Garantidamente qualquer especialista em RRHH ou psicologia das organizações poderá comprovar que o relaxamento por breves instantes e a possibilidade de desfocarmos da tarefa profissional habitual, permite uma recuperação posterior da atenção e da energia que traz consigo ganhos de produtividade indubitáveis. Pois esta é a conclusão do dito estudo sobre o ” WILB”.

Este sinal deve ser absorvido pelos responsáveis das empresas portuguesas onde começa a sentir-se uma tentação para investir no controlo da actividade cibernética dos colaboradores ou, mesmo, no vedar do acesso às redes sociais, que não são apenas (e sobretudo) uma das janelas voltados para o mundo que nos rodeia e onde convém buscarmos inspiração para melhorarmos a performance laboral quotidiana. A cave está no bom senso, de parte a parte, e não na repressão ou no controlo sectário.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

PROBLEMAS DE VISÃO


Declaração de interesses – nasci em Coimbra e, por isso mesmo, aprendi a respeitar e a admirar a secular Universidade, que anos mais tarde passou a ser minha também por direito próprio. Chego, muitas vezes, a ser “coimbrinha” (eufemismo de quase-provinciano) na sua defesa.

Posto isto, quando em Lisboa, onde há anos vou passando parte do meu tempo, dizem que Coimbra e a respectiva Universidade cheiram a mofo, logo lhes atiro com algumas empresas que são sinónimo da melhor inovação portuguesa. E, falo-lhes da balança tecnológica para a qual uma parte da inovação “made in Lusa-Atenas” contribui.

Quando, ainda assim, me referem os exemplos de Aveiro e Braga como cidades que são modelos de relação entre a Universidade e a Comunidade, sou obrigado a recordar-lhes, por um lado, que se comparam realidades distintas (séculos não são décadas) e para que um binómio cresça importa que ambas as partes fluam no mesmo sentido, ora, em Coimbra, há muito que o essencial do problema não está no Paço das Escolas, mas na Praça 8 de Maio.

Quando, mesmo assim – ele há tipos que não desistem fácil! - me provocam dizendo que os bons MBAs são em Lisboa e no Porto, recordo-lhes o que pelo quarto ano consecutivo, a Universidade de Coimbra é a instituição de Ensino Superior portuguesa mais bem cotada no ranking do jornal The Times, sendo a única entre as melhores 400 do Mundo.

Quando o interlocutor é mais “fraquinho”…tento o golpe de misericórdia (forçado é certo), invocando o facto de em 2009 a UC ter subido de 387º para 366.º lugar, a nível mundial, e de 169º para o 166º, a nível europeu. A parte “coimbrinha” veio ao de cima…

E poderia continuar a relatar discussões intermináveis que, apesar de não ter mandato do Magnífico Reitor, fui (e vou) tendo ao longo do tempo. Mas quando termina o “ping-pong” argumentativo, reconheço (no silêncio da introspecção) que em Coimbra é difícil querer ser mais ambicioso e ter mais sucesso. Uma espécie de síndrome…

Mas a declaração de interesses inicial dá-me legitimidade para distinguir a admiração da cegueira e o respeito da subserviência.

Talvez, por isso, para debates futuros, fosse importante que a cidade e o país conhecessem melhor o legado científico e a investigação que está em curso, os níveis de empregabilidade dos licenciados, a reconhecida qualidade pedagógica dos cursos e o nível de internacionalização, por exemplo. Talvez estes indicadores resolvessem os problemas de visão de alguns…

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXXII


Em tempo de crise, as empresas, assim como as pessoas em geral, procuram soluções que reduzam ao máximo os custos. As novas tecnologias oferecem um sortido de diferentes opções adequadas a esse fim. Esta é apenas uma perspectiva: a economicista. Existe, também, a outra: a estratégica, ou seja, de que modo as TIC alargam mercados e abrem oportunidades de negócio.

Em ambiente de trabalho internacional é comum que as reuniões decorram com os participantes em diferentes geografias, cada um sentado na respectiva secretária, economizando o tempo das deslocações, os gastos em viagens e hotéis, contribuindo ainda para a “pegada ecológica”.
O “Messenger”, o “Skype” e o “Communicator” são algumas das ferramentas mais em voga, não apenas para as comunicações internas, mas sobretudo nos contactos com elementos externos às empresas e, até, em entrevistas de trabalho. À transmissão de voz associa-se a imagem por via de uma simples webcam. Imagine-se o potencial: menos tempo dispendido, mais interlocutores no “loop”, maior flexibilidade no planeamento das tarefas, em suma, economias de custos.
Significa isto que os modelos clássicos de organização do trabalho estão em mutação. Os espaços físicos das empresas estão a mudar, as distâncias geográficas podem não representar custos acrescidos, o recrutamento global de talentos é uma oportunidade e a conquista de novos mercados uma atracção natural.
Agora, imagine-se esta realidade aplicada aos governos e aos municípios. Quanto se não poderá poupar ao erário público em tempo, ajudas de custo, quebras de produtividade, etc? Em Portugal, é chegado o momento de dar um novo impulso ao plano tecnológico (eixo político virtuoso) e uma das formas é apostar nos sistemas de informação como mecanismos de modernização do estado que permitam também uma redução de custos.

Publicado no Jornal OJE

terça-feira, 27 de outubro de 2009

GOVERNO NOVO, VIDA NOVA!

Os comunistas costumam dizer a propósito de remodelações que as mesmas são irrelevantes, pois em grande medida o que interessa são as políticas e não as pessoas ou os protagonistas. Ora, seguirei à risca este comentário, que se transformou num jargão, para qualificar o actual governo, que acaba de tomar posse.

Falarei, então, das políticas e não das pessoas.

O maior desafio de Sócrates & Companhia é, obviamente, gerar emprego, que permita, por um lado, diminuir drasticamente os números do desemprego e, mais, criar uma massa de trabalhadores crescentemente qualificados. Só assim a economia nacional poderá desenvolver-se e o país ser mais competitivo.

A questão essencial é perceber em que sectores de actividade se poderão gerar oportunidades de emprego. Isto, no fundo, implica que se compreenda qual o rumo que se pretende para o país, quais as áreas estratégicas: turismo, energia, saúde, cultura,…? Quais? Todas ou apenas algumas?..

Posto isto, a segunda prioridade é criar definitivamente mecanismos para a internacionalização das nossas empresas. Para o efeito o governo deve internamente colocar esta prioridade na agenda não apenas do Ministério da Economia, mas sobretudo dos Negócios Estrangeiros. Uma diplomacia económica a sério, feita por diplomatas mas também por quem não abusa dos “punhos de renda”e sabe como colocar no radar internacional os nossos produtos e serviços.

Neste domínio está tudo por fazer, não obstante o esforço efectivo (sobretudo voluntarista e pessoal) do Primeiro-Ministro na anterior legislatura, mas que depois não era acompanhado…
Este desiderato implica, forçosamente, a revisão de sistemas de incentivos públicos e de fiscalidade, sobretudo em áreas onde manifestamente já somos competitivos e inovadores ou teremos de passar a ser. Tratar tudo por igual é meio caminho andado para perdermos foco, tempo e oportunidades.

Finalmente, creio, que a questão do “aging” (envelhecimento da população) e, reciprocamente, da baixa natalidade deveriam ser claras apostas políticas.

Senão vejamos: há muitos milhares de portugueses reformados, que poderiam dar o seu contributo cívico e social, desde que criados programas públicos para o efeito. Gente que vai envelhecendo por ociosidade… e que estaria disponível para ajudar o país e os outros. Criar, em suma, riqueza social!

Importa, por outro lado, sublinhar que existem, neste domínio, inúmeras oportunidades de negócio, essencialmente, se levarmos em linha de conta os potenciais consumidores que representam milhões de reformados do norte da Europa que sonham com o nosso sol e praia!..

Quanto à baixa de natalidade, apesar dos esforços feitos com a nova prestação de apoio à gravidez e com o aumento do abono de família, a verdade é que as famílias elegíveis deveriam ser muitas mais. A classe média em Portugal é uma banda muito larga e, infelizmente, por vezes são considerados ricos sem o serem.

Assim, deveria haver um forte impulso e apoio financeiro para o 3º filho, que, tal como na Austrália, garante a manutenção/reprodução ou reposição da população e, obviamente, um sistema de incentivos fortes às empresas para a criação de creches e actividades extra-curriculares, que complemente o sistema público, sobretudo dirigido às camadas mais desprotegidas.

domingo, 25 de outubro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXXI


Começou um novo ciclo político no país, eis porque é oportuno falar em novos desafios para a estratégia nacional de digitalização.


Depois do “e-escola”, do “Novas Oportunidades” e do “e-escolinha” (Magalhães) resta-nos a população portuguesa mais envelhecida, cujos níveis de info-exclusão são ainda evidentes.


Ora, pois, uma oportunidade política! Desde logo, para reforço da credibilidade do governo estendendo à população mais envelhecida instrumentos de inclusão por via da formação e da literacia digital. Tal significaria consistência estratégica visto que dá a noção de plano integrado de acção governativa e não um conjunto de iniciativas dispersas no tempo e no espaço com uma lógica mais táctica e/ou até eleitoralista.


A população mais envelhecida, designadamente os reformados, poderiam contribuir mais activamente em vários domínios através da respectiva inclusão digital e seria uma oportunidade única de os relacionar com o modelo formativo criado para o “e-escolinhas” e “e-escolas” numa aposta transgeracional.

O “saber fazer” dos mais velhos aliar-se-ia à vocação digital dos mais novos numa experiência “win-win” singular, com ganhos evidentes para o país do ponto de vista social, cultural e até económico.

O fechar do ciclo com um programa tipo “e-senior” permitira dar rosto ao processo de aprendizagem ao longo da vida, hoje comprovado como decisivo nas sociedades mais envelhecidas como a europeia.

Envolver neste desiderato “Big Bet” multi-ministério vários parceiros privados e públicos é a chave do sucesso, donde se aproveitaria a rede já existente de Universidades Séniores, do INATEL, de Fundações e de IPSS para fazer de Portugal o 1º país do Mundo a adoptar esta solução de info-inclusão global.


Publicado no Jornal OJE

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

POR QUE CAEM COMO TORDOS NA FRANCE TELECOM?...

Em 1935, já com Salazar no poder, é criada a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT), designação típica de regimes fascistas. De igual modo, aliás, o lema nazi colocado à entrada dos malfadados campos de concentração era “Arbeit macht frei”, ou seja, “o trabalho liberta”. Em síntese, a ideia de que o trabalho dá saúde e faz crescer já vem detrás…

Todavia, os tempos modernos trazem situações estranhas e absurdas para os modelos actuais. Veja-se o exemplo da France Telecom, onde se verificaram 20 suicídios nos últimos 18 meses! Tomam comprimidos, enforcam-se, saltam das janelas,… servem todos os meios para por fim à vida. Enfim, o caso tornou-se um problema nacional levando mesmo à intervenção do governo.

Felizmente, a minha experiência pessoal é totalmente distinta. Trabalho numa das maiores empresas do Mundo e que, no caso português, é considerada há quatro anos consecutivos “A melhor empresa para trabalhar” por entidades externas e independentes. Um caso oposto, portanto, ao que descrevi acima.

Na verdade, a maioria das empresas ainda não procede actualmente a um exercício de introspecção para avaliar da respectiva “saúde” na visão dos colaboradores, conduzindo muitas vezes a: desconhecimento profundo do quotidiano laboral; adopção de práticas de gestão desfasadas do necessário; imposição de regulamentos internos draconianos que estão longe de ser eficazes, etc etc.

Nas empresas cujo “scorecard” de gestão prevê precisamente a avaliação interna e mecanismos de participação de todos na construção de um ambiente de trabalho saudável – de que a Microsoft é um excelente exemplo - rapidamente se percebe que a melhor empresa é aquela que nos realiza enquanto pessoas – que somos antes de colaboradores – e percepcionamos como uma extensão do nosso ambiente natural e familiar. Fazer dos colaboradores pessoas diferentes do que são na verdade só trará maus resultados.

Pois bem, o melhor modelo já existe, longe de ser o ideal que está sempre em construção, porquê insistir em práticas antigas?.. E isto serve para o sector privado e, em especial, para o público.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXX


O Magalhães foi uma pedrada no charco no mundo educativo. É inquestionável a mais-valia e o potencial desta ferramenta tecnológica. Depois do ano de lançamento nas escolas portuguesas é tempo de aprofundar o conceito educativo que lhe está subjacente: modernizar o modelo de aprendizagem usando as novas tecnologias.

O Magalhães é apenas uma plataforma sobre a qual se podem integrar um sem-número de soluções, serviços e produtos tecnológicos, visando as mais modernas técnicas pedagógicas.
Imaginar que o telemóvel – até aqui proibido e associado à indisciplina na sala de aula – pode ser um instrumento de aprendizagem importante, assim como leitor de MP3 ou a própria consola, parece-me um ganho ao alcance de todos, basta para tanto definir uma nova estratégia educativa.

São muitos os estudos que confirmam o desinteresse dos estudantes pelas matérias escolares e pelo período que passam na escola, todavia os mesmos inquiridos são muitas vezes geniais no modo como usam os adereços típicos do seu tempo, obtendo por essa via algum conhecimento e saber. Ora, importa pois perceber que a escola da modernidade – a Escola do Magalhães – deve construir-se com o maior número de ferramentas tecnológicas e com um novo modelo de aprendizagem que vá ao encontro do estilo de vida das gerações digitais. De outro modo, o fosso será crescente e os professores (por muito qualificados que sejam) jamais conseguirão combater a atracção do smartphones, das consolas ou dos leitores de MP3.

Retive um exemplo que li: no Japão, alunos de uma escola secundária criaram uma novela através de SMS. Ou seja, fruto do esforço criativo e colaborativo de vários estudantes gerou-se uma obra. Os professores confirmaram que os mesmos alunos jamais produziriam tal resultado segundo o modelo clássico: lápis e papel numa aula de 60 min.

Dá que pensar!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

UMA QUESTÃO DE COERÊNCIA!

Numa empresa, quando os resultados financeiros não são satisfatórios há, regra geral, duas consequências: os gestores colocam os seus lugares à disposição ou os accionistas convidam novos timoneiros. Sem mais.

Numa equipa de futebol, quando as vitórias não surgem ao treinador resta pouco tempo de “vida” profissional. A muito breve trecho será afastado pela direcção ou, o próprio, abandona de mote próprio o respectivo lugar.

Nas companhias modernas, altamente competitivas e com sistemas internos de avaliação muito exigentes (mas naturalmente compensatórios), os colaboradores que não atingem patamares mínimos de compromisso são convidados a sair e a procurar vida nova noutro local.

Enfim, os exemplos podem suceder-se e são infindáveis nos mais diversos sectores de actividade, tendo sempre presente que a competitividade, a excelência e o brio são os objectivos máximos a atingir.

Até aqui alguma novidade? Algum espanto? Não, sinceramente, julgo serem os critérios adequados para uma convivência saudável, séria e justa. E só assim se conseguem atingir os melhores resultados!

Ora, a primeira pergunta é: por que motivo na política estes padrões de qualidade e de exigência se não conseguem impor? Ou seja, por que razão nas ressacas eleitorais todos, ridiculamente, invocam a vitória para assim justificar a respectiva existência e manutenção de “status quo”?..

É absurdo que quem não consegue durante ciclos sucessivos alcançar resultados positivos se mantenha a dirigir organizações, como se as derrotas fossem pormenores sem relevância e que outras alternativas não existissem.

Por estas e por outras a vida política e a participação partidária são cada vez menos apelativas, porquanto as regras parecem – sem razão aparente! – mudar relativamente ao que se passa nas empresas, nos bancos das universidades ou na vida em geral.

Mas, mais perverso ainda, é observar o que alguns conseguem fazer: transformar as vitórias dos outros nas suas e as suas derrotas nas responsabilidades de outros.

Por exemplo, arrogar-se como sendo sua a vitória de um candidato a uma câmara para a qual em nada se contribuiu (ou até quem sabe se destruiu…) é de uma desfaçatez tremenda. Tão grave quanto limpar-se a água do capote numa derrota de um candidato que foi exclusivamente imposto por si!

Mas, claro, tudo isto é uma questão de coerência!..

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXIX


Hoje, discute-se, um pouco por todo o mundo da relação entre a produtividade – ou a falta dela – e o acesso às redes sociais ou à caixa de correio no espaço laboral.

Ora, em Portugal, é no mínimo bizarro o debate, pois a ausência de produtividade é um tema crónico e muito anterior à existência de redes sociais ou da internet. Todavia, importa distinguir claramente entre consultar o “mail” e actualizar o Facebook. Na maioria dos casos, sobretudo no sector das novas tecnologias, o primeiro é uma ferramenta indispensável de trabalho, podendo as redes sociais sê-lo também.
Apesar de existirem estudos para todos os gostos, a verdade é que há muitas empresas onde o acesso à internet e às redes sociais é livre – ou até mesmo estimulado profissionalmente, porque fomenta o network, promove a cultura da empresa ou mesmo os respectivos produtos/serviços – e os níveis de produtividade laboral são nestes casos muito elevados.
No meu entender, deve imperar o bom-senso e a auto-regulação individual. Aliás, políticas muito restritivas nas empresas, nas administrações públicas ou noutras instituições não garante que não existam fugas e danos.
O conceito de “democratização da intimidade”, introduzido pela antropóloga Stefana Broadbent, associado às redes sociais é interessante, todavia, na internet como fora dela, deve reger-se pelas mesmas regras: sensatez, cautela e proporcionalidade.
De igual modo, o smartphone, o computador e net são extensões naturais da actual geração de “digital natives”. Retirar-lhes esses elementos seria amputá-los na sua identidade. O resultado seria desastroso, mais importante é alertar para os riscos de um uso impudente ou excessivo. A pedagogia, aqui como em tudo, nunca é demais.

O VOTO NAS PESSOAS OU NOS PARTIDOS?..

Nas eleições autárquicas os representantes estão (supostamente) mais próximos do povo, logo tal facto facilitará a percepção pública da obra feita e, consequentemente, da avaliação a fazer. Regra geral, a abstenção é mais baixa e os movimentos de cidadãos independentes mobilizam vontades tantas vezes adormecidas. Em suma, a motivação para uma participação política mais activa e responsável é (teoricamente) maior.

Diria mesmo, que o grau de maturidade democrática de uma sociedade afere-se por diversos indicadores, sendo que a capacidade de distinguir o essencial do acessório é, a meu ver, um dos mais importantes. Por isso mesmo, queria acreditar (significa que ainda não acontece) que os cidadãos votam nos melhores candidatos independentemente da sua matriz partidária.

Achar que, hoje em dia, o sentido do voto é definido pela qualidade intrínseca dos candidatos mais do que pela coloração partidária é pura ingenuidade. Infelizmente!

Isto, dito assim, é sinónimo de que nem sempre ganham os melhores protagonistas, as melhores ideias e os projectos mais sólidos. É a democracia a funcionar, dir-se-á, pois é, mas não imune a críticas, pois vão-se perdendo activos importantes. Então nas eleições autárquicas, há gente que tantas vezes decide sair da sua zona de conforto para se expor e, depois, confrontados com escolhas pouco racionais acaba desiludida e não mais volta. Para estes o sistema raramente guarda lugar. Conheço uns tantos casos…

Ora, a verdade é que a “partidocracia” acaba por prevalecer, apesar dos avanços legislativos, e tantas vezes a cruzinha é mobilizada pelo símbolo partidário mais que pelo rosto e ideias dos protagonistas.

Há exemplos para todos os gostos: desde os caciques locais que, mesmo mudando de partido, acabam por vencer (dispenso-me enumerar as razões), vejam-se os exemplos de Isaltino e de Valentim até aos candidatos que mudando de partido acabam perdendo as eleições, pois a percepção negativa da mudança de camisola é mais forte que os atributos dos próprios. Não há pois um critério uniforme, nem acredito que seja possível estabelecer um modelo científico de análise.

Já aqui escrevi, num passado recente, que, por exemplo, Coimbra precisaria, neste momento particularmente crítico, de um choque de ânimo, de energia e de criatividade promovido por gente suprapartidária, com diversas proveniências ideológicas. Ora isso não sucedeu e, observando as sondagens existentes somos levados a concluir que tudo ficará na mesma. Será, pois, compreensível que perante tanta omissão, inacção e letargia o povo queira continuar a escolher os mesmos?.. Ora, a escolha é indubitavelmente legítima, mas não corresponde à necessidade deste tempo. Estamos ainda longe do ideal.

O sempre polémico Nietzche defendeu que «um político divide o ser humano em duas classes: instrumentos e inimigos». Fico, assim, com curiosidade sobre como definiria o filósofo a divisão feita pelo eleitor do político.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XVIII

Nos últimos meses têm sido muitas as surpresas nas redes sociais onde habitualmente me insiro: informação a rodos; a adesão inesperada de muita gente; o reencontro de amigos de longa data; a percepção da importância que os políticos dão à “coisa” e discussões vivas e espontâneas sobre os mais diversos temas.

Não é por isso, para mim, novidade o que um estudo recente da consultora Nielsen vem confirmar: o tempo que os norte-americanos dedicam às redes sociais e blogues triplicou no espaço de um ano, equivalendo, assim, já a 17% do tempo global de navegação na net. Impressionante este pulo exponencial!

Isto significa também que há uma nova massa de utilizadores – que não apenas os “early adopters” e “digital natives” – que é transversal aos diversos grupos sócio-económicos e etários, dando volume ao tráfego relativo às redes sociais e retirando-os dos meios tradicionais (designadamente a TV). Quantos de nós não ficámos já surpreendidos por ver “seniores” ou gente supostamente excluída da net a pedir-nos que aceitássemos a respectiva adesão à rede?..

Ainda de acordo com aquele estudo, em algumas áreas, o investimento em redes sociais e blogues é particularmente forte: entretenimento (812% de aumento face a 40% de crescimento do investimento total on-line); viagens (364% de aumento face a 11% de diminuição do investimento total na rede); serviços financeiros (98% de aumento face a 11% diminuição do total on- line)…

Não por acaso as empresas observam, crescentemente, as redes sociais como espaços comerciais por excelência, sendo que nem todas têm adoptado a melhor estratégia, que aqui significa desde logo a menos intrusiva possível. Mas, a prova de que há um novo mercado em afirmação é que, pela 1ª vez no Reino Unido, os investimentos publicitários na net foram superiores aos da TV.

Este é o caminho!

Publicado no Jornal OJE

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A CAMINHO DO ABISMO


Diversas edições do Inquérito Social Europeu, levado a cabo por entre os vários países que compõem a UE e a Europa central, confirmam que os cidadãos portugueses estão descontentes com a qualidade da respectiva democracia. Só os russos, húngaros, ucranianos e búlgaros estão mais descontentes e politicamente mais desinteressados.


Esta tendência tem vindo a acentuar-se desde 2001, sendo que o nível elevadíssimo de abstenção nas recentes eleições legislativas e europeias são disso a prova irrefutável. Porém, ninguém pára para pensar!

O rescaldo nacional do acto de domingo passado já foi sobejamente feito, por isso mesmo vou atentar no aspecto distrital.

Foi, obviamente, uma surpresa (e quem disser o contrário, mente!) a eleição de um deputado do CDS/PP por Coimbra. Não está em causa o mérito pessoal do candidato, mas antes um conjunto de circunstâncias que permitiram a sua eleição. São essas que interessam agora.

Serpa Oliva beneficiou em grande medida da capacidade e da eficácia política de Paulo Portas. É um caso sério em campanha. Tão assertivo quanto populista e perigoso; todavia o que diz parece soar bem, fazendo o povo esquecer que em 3 anos no governo nunca praticou nada do que agora advoga e exige.

Mas, acima de tudo, o CDS/PP no distrito de Coimbra usufruiu do facto do PSD estar desacreditado e, evidentemente, da fraca prestação de Manuela Ferreira Leite. O eleitorado de Serpa Oliva não é dele nem do CDS. É, sobretudo, do PSD e de uma direita conservadora que não havendo alternativa preferiu fazer um voto duplamente de protesto: contra Ferreira Leite e contra a maioria de Sócrates. Curiosamente são aqueles que, hoje, mais torcem para que Sócrates se entenda com Portas…

O PSD em Coimbra – apesar do esforço regenerativo de alguns – viveu muitos anos longe da qualidade mínima exigível e está agora a pagar esse preço. Não é, em suma, alternativa a coisa nenhuma!

Observemos agora o caso Bloco de Esquerda: ao contrário do CDS/PP, José Manuel Pureza tinha praticamente o lugar assegurado, fruto de um crescimento local continuado, do “hype” nacional e da qualidade intrínseca do próprio candidato.

Mas, mais importante, o BE cresce sempre à custa do PS. No distrito de Coimbra é fácil de compreender porquê:

O PS local há muito que não tem ideias nem propostas credíveis e mobilizadoras; há muito que falta quem comunique de forma diferenciada; há algum tempo que não existe no PS quem seja considerado no meio social, académico e empresarial. Dizer o contrário (por muito que possa parecer simpático) é farisaico e distorce a realidade.

Dizer – como alguns (os suspeitos do costume) – que a culpa é da cabeça de lista é tapar o sol com a peneira. Ana Jorge era a 2ª dos ministros mais populares e, conforme se viu, fez uma campanha sóbria e igual a si própria: séria e credível. O que se pede a um médico emprestado à política. Conseguiu, aliás, na defesa do SNS fixar gente de esquerda que de outro modo engrossaria o voto no BE.

Aliás, a verdade é que nem quando Sócrates, o Ministro do Ambiente, impôs a co-incineração a Coimbra o PS aqui perdeu. Não! Ganhou e elegeu seis deputados. Significa que o problema não é Sócrates, mas antes os que há vários anos (os do costume) gerem o PS virado sobre si próprio, alheio ao que se passa na cidade e no país. Sem imaginação e, mais grave, sem reconhecimento.

Veremos agora quais os resultados autárquicos e se, então sim, têm o decoro de se afastar. Não se pode exigir a Ferreira Leite consequências que os próprios em casa não assumem!!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

CIDADÃOS DO MUNDO


Coimbra guarda até hoje a classificação de “Lusa-Atenas” por ser associada ao conhecimento e ao saber, mas também pelo seu cosmopolitismo. Aqui, desde sempre, foi chegando gente de todas as paragens. As diferentes origens, vivências e experiências ajudaram a construir a multi-culturalidade muito própria de Coimbra. Deram-lhe singularidade e enriqueceram-na.


Basta recordar que nomes como Antero de Quental, Eça de Queirós, Almeida Garrett, José Afonso, Miguel Torga ou Manuel Alegre - todos indissociáveis do imaginário coimbrão – nenhum nasceu em Coimbra, mas adoptaram-na como sua. E Coimbra quer tê-los como seus, sempre!

Dizer-se com desdém, nos dias que correm, que alguém é “paraquedista” – ou seja de fora de Coimbra - querendo com isso diminuí-la nas respectivas capacidade e legitimidade, é próprio de quem tem as vistas curtas e para quem o Mundo começa e acaba no respectivo umbigo.

Afinal de contas, o mal de Coimbra – sim, desta Coimbra de hoje – é devido á inércia e a incapacidade dos que aí estão há tempo demais e nunca por nunca dos que querem agarrar o facho da modernidade, ainda que de Coimbra não sejam oriundos.

Mas, do meu ponto de vista, que me comunico diariamente com pessoas de todos os continentes; que leio jornais de diversos países; que tenho uma filha com dupla nacionalidade; que navego na internet como se o Mundo estivesse ao alcance dos dedos (e está!); que tenho nas redes sociais amigos nas mais diversas geografias; que habito num mundo global…ouvir dizer que alguém só por ser da Lourinhã não conhece Coimbra e – pasme-se! – não tem qualidades para a representar no parlamento ou no governo é, no mínimo, risível e só aparece à míngua de melhores argumentos.

Acresce, que há até a obrigação do conhecimento da nossa lei fundamental – a Constituição da República – que prescreve que os deputados são da Nação e não do distrito, representando por isso o todo nacional e não o somatório das partes.

Mais importante do que a nossa naturalidade é a nossa obra, a nossa herança cívica. No fundo, as marcas que se deixam - sobretudo os que têm responsabilidades públicas - são os factores distintivos que devem, em tempos de escolha e de selecção, por isso mesmo ser avaliados.

Ser de Coimbra, só por si, não é garantia de coisa alguma. Já os vi muito competentes e tremendamente desastrosos, como em todo o lado. Já os vi num provincianismo assumido deslumbrados com Lisboa, esquecendo rapidamente de onde vieram… Aliás, já me habituei a vê-los no estádio a puxar pelo Benfica, pelo Sporting e Porto contra a minha Briosa!..

Por isso mesmo ser Coimbra já não é garantia de nada! Neste caso prefiro os de fora com obra feita!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXVII


Algumas vozes defendem que a democracia digital se reforçaria na razão directa do aumento das soluções de “open source” (doravante software livre) adoptadas pelos governos e administrações públicas.


Por definição o software livre permite o acesso ao código do produto, dando direito a utilizá-lo bem como a modificá-lo. Tudo isto por oposição com as soluções proprietárias (ex. Microsoft), que implicam o pagamento de licenças de utilização.

Anda muita confusão no ar! Importa, pois, analisar cuidadosamente esta questão.
Independentemente da categoria de software (livre ou comercial), os governos - tal como qualquer empresa privada - devem optar pelo software que melhor garantias ofereça no preço/qualidade, na facilidade de uso e no serviço pós-venda.

Impor o SW Livre como solução exclusiva (assim desejam os seus defensores) na administração pública viola o princípio da neutralidade tecnológica que se impõe a um Estado, além da livre concorrência essencial ao mercado. E, tal não é coisa pouca!

Finalmente, muito do SW livre que existe em alguns entes públicos é pago a empresas com escopo lucrativo que o comercializam; além de que os custos encobertos (falhas de segurança e de suporte técnico, obsolescência,…) comprovam que aquela solução é tudo menos gratuita ou barata!

Foram, nos últimos anos e em diversos países, efectuados múltiplos estudos sobre este tema: Report KBSt (Alemanha), Report QinetiQ (Reino Unido) e o Report Mitre (Estados Unidos). Todos eles coincidiram ao considerar que o software livre não constitui uma alternativa superior ao software comercial, nem em termos do seu custo total, nem em segurança, nem em inovação.

O preconceito é, pois, mau conselheiro!


Publicado no Jornal OJE

terça-feira, 15 de setembro de 2009

APOLOGIA DO VOTO ÚTIL


O dicionário Priberam da língua portuguesa define “útil” como: “o que é necessário; que tem préstimo ou utilidade; proveitoso; vantajoso.” Pois bem, aproveitemos então esta definição para melhor compreender o que pode ser um voto útil nas próximas eleições.

Primeira premissa: apenas dois partidos têm possibilidade de vencer as eleições. Ganhar em política significa poder governar e, assim, influenciar o nosso destino colectivo; pelo que não ganhar é igualmente digno e faz parte das regras democráticas, mas tem muito menos impacto e influência nas nossas vidas.
Assim sendo, e ainda que em tese os votos sejam todos iguais, a verdade é que o peso eleitoral das nossas opções são diferentes. Votar no PS ou no PSD não é o mesmo que votar nos demais partidos. É a diferença entre definir quem ganha e não influenciar coisa nenhuma.

No actual contexto – é sabida a crise económica em que ainda nos encontramos e a instabilidade social inerente – o voto de cada português assume como nunca uma importância capital. Cada voto poderá fazer a diferença, não apenas entre quem ganha mas o que pode significar essa vitória.

Repare-se que o pior cenário para o nosso país seria juntar à crise económica uma crise política fruto de instabilidade e de ingovernabilidade. Ora, é exactamente isso que estará em causa nestas eleições: criar as condições para um partido ganhar com vantagem suficiente para prosseguir reformas e assim minimizar os efeitos da crise.

Voltemos, pois, à definição inicial: votar num dos dois partidos potencialmente ganhadores é, face ao contexto actual, necessário, por isso mesmo útil; votar num dos partidos que não têm matematicamente qualquer hipótese de governar não tem préstimo, por isso mesmo é inútil.

Posto isto, resta fazer a segunda opção: perceber qual dos votos úteis é mais vantajoso e proveitoso. O mesmo será dizer: votar no PS não é o mesmo que votar no PSD.

Não parece tarefa difícil já que ao longo destes últimos dias se perceberam – como nunca - as diferenças tamanhas entre os dois maiores partidos e, sobretudo, entre os dois protagonistas.
Ora, para que um voto útil seja verdadeiramente proveitoso não basta contribuir para quem ganha, importa olhar para o futuro e prosseguir o movimento reformista dos últimos anos. É que agora é a sério, mesmo!

domingo, 13 de setembro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXVI

É comum ouvirmos que as gerações mais jovens escrevem cada vez pior. Os pais queixam-se e os professores até editam livros com compilações de erros. Eis que muitos vociferam contra as novas tecnologias como causadoras desta suposta perda de qualidade e habilidade literária. Aliás, quantos de nós não demonstrámos já estupefacção com os sms que crianças e adolescentes trocam entre si, estropiando a língua de Camões?

Pois bem, um estudo muito recente veio contrariar essa tendência. O “Stanford Study of Writing”, daquela famosa universidade e cuja leitura se recomenda vivamente, resultou de uma análise cuidada a catorze mil documentos escritos por crianças e adolescentes entre 2001 e 2006, que incluíam trabalhos de casa, posts em blogues, sms, conversações em chats, etc etc.

As conclusões são impressionantes: há como nunca, e por via do uso das novas tecnologias, um recrudescimento das habilidades para a escrita. Ora, sucede que hoje em dia os jovens escrevem mais, praticam muito na internet (chats, blogues, redes sociais) e adaptam-se aos meios e contextos. Por isso mesmo, entre si na troca de sms não é suposto produzirem tratados literários, mas ser sintético e objectivo; de igual modo, nos chats. Curiosamente, nas redes sociais, dada a heterogeneidade de contactos percebe-se uma evolução na qualidade do que é escrito em função do nível do destinatário.

Parece-me uma evidência indubitável afirmar que hoje se escreve muito mais que no passado – por isso mesmo é provável encontrar também mais pessoas que escrevem mal, pois a base aumentou! – e tal é feito num tempo que foi retirado à televisão e a brincadeiras de rua.

As novas tecnologias fizeram surgir uma “nova literacia”, evidentemente digital, que traz consigo o aumento de produção cultural e literária, sendo que os jovens têm a capacidade de distinguir os contextos e o inerente grau de exigência.
Publicado no Jornal OJE

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

MALDITA MATEMÁTICA!...

A invenção da matemática deve-se a outros povos que não os portugueses, porém, com certeza, por acaso da História, visto que ninguém melhor que nós para depender tanto dessa ciência exacta. Futebolisticamente falando, claro!

O acesso à fase final do Mundial na África do Sul é ainda possível. Esta é a resposta politicamente correcta, que sempre nos habituamos a ouvir da parte dos suspeitos do costume.

É, de facto, possível se nos enredarmos em contas e mais contas para alcançar a fórmula matemática do sucesso que, em síntese, depende mais dos outros que de nós próprios. Ora, este é sempre, na bola como na vida, um mau princípio: ficarmos dependentes de terceiros.

Eu diria que se formos apurados, por uma qualquer conjugação astral, é bom para a auto-estima nacional, bom para os jogadores que assim “abafam” mais uns milhares em prémios e bom para a seita de dirigentes que tem já raízes na FPF. Adia-se a solução de um problema.

Por seu turno, se a selecção nacional não for apurada o sentimento de crise agudizar-se-á, uns dirão que a culpa é do Sócrates, outros que é do Queirós e os suspeitos do costume arranjarão razões para sacudir a água do capote e ficar assim mais uns anos na FPF. Um clássico, portanto!

Enfim, o que, no meu modesto entender, precisaríamos era de compreender as razões fundas deste insucesso, visto que temos um conjunto de jogadores do melhor que há no Mundo, individualmente falando. Muitas das causas estarão no balneário, é certo, porém outras tantas na estrutura organizativa da FPF. Nos mesmos de sempre que há muito deixaram de compreender que saber sair é mais importante que conseguir entrar.

O mal do nosso país – no dirigismo desportivo como em muitos outros sectores – é que mantém nos cargos de maior responsabilidade uma geração sem energia e sem criatividade que não sente o pulsar das mudanças e que é incapaz de fazer o que é preciso.

Apesar de tudo, quero muito acreditar nos números e, com isso, na possibilidade matemática de nos apurarmos, todavia preferiria que tudo dependesse apenas da vontade e da força dos homens.

sábado, 5 de setembro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXV

A classe política portuguesa despertou inequivocamente para a internet. Os próximos actos eleitorais - aliás na senda do que está a verificar-se um pouco por todo o mundo nesta “Era Obama” – vão já decorrer sob o signo de uma sindicância digital. Ou seja, na actualidade, os cidadãos escrutinam e comentam como nunca as prestações e as ideias dos principais protagonistas políticos.

Por seu turno, os actores (candidatos ao parlamento e às autarquias) multiplicam-se em aparições virtuais e comunicações digitais: de debates com bloggers a programas construídos na net, passando pela divulgação “on time” da agenda de campanha, tudo vai acontecendo sem que seja preciso sairmos de casa para acompanhar. Basta “navegar”.

Resta saber se este frenesim termina no rescaldo da noite eleitoral ou prossegue para além dele. Político que queira ter futuro não pode desprezar a comunicação com as redes que já criou e alimentou. A relação com o eleitor digital tem de ser genuína e continuada, sob pena de ser contraproducente por perversa. A net tem riscos diversos: para os políticos o maior de todos eles é que fica um registo. Uma memória que não se apaga!..

A Netsonda, em Portugal, apresentou recentemente um estudo sobre as “Eleições & Internet” do qual resultam dados interessantes. Desde logo, um crescimento considerável dos que usam a net para analisar os candidatos (de 31% em 2005 passou agora para 60%); o acesso a sites noticiosos para obtenção de informação sobre as eleições legislativas é confirmado por 86% dos inquiridos e 50% dos inquiridos manifestam intenção de recorrer às redes sociais.

Veremos de que modo esta euforia digital servirá para promover o esclarecimento público e reduzir a abstenção. Esperemos, pois, pelos estudos seguintes…
Publicado no Jornal OJE

terça-feira, 1 de setembro de 2009

PROGRAMAS ELEITORAIS P´RA INGLÊS VER!..

Séneca escreveu que “não estudamos para a vida, mas para a escola”. É, pois, bem verdade. A aprendizagem real começa sempre com os primeiros passos profissionais e com as inerentes vicissitudes…

Mutatis mutandis, a comparação pode ser feita com os programas eleitorais, que os partidos se esmeram em apresentar, com resmas de folhas e um sem número de ideias. Correndo o risco de ofender a memória de Séneca, poder-se-ia dizer que “os programas não são para o país, mas para as eleições”.

Quantas vezes ao longo da nossa história democrática encontrámos propostas programáticas que nunca chegaram a sair do papel?.. Muitas delas nem tão pouco mereceram registo no programa debatido e aprovado em sede parlamentar. De igual modo, quantas vezes observámos medidas que quando propostas “enchem o olho” – sendo esse o objectivo! – e depois nunca se executam?.. Quantas vezes as ideias apresentadas em período eleitoral se demonstram inexequíveis quando se conhece o verdadeiro “estado da arte”?..

Enfim, os programas eleitorais fazem parte do ritual democrático. Impõe-se a sua existência, mas a pertinência e concretização efectiva são cada vez mais duvidosas.

Talvez por isso valha a pena repensar o modo como são construídas essas propostas, tantas vezes em círculo fechado outras tantas com recurso a descartáveis contribuintes que no “day-after” ninguém mais contacta…

As novas tecnologias oferecem mecanismos simples, mas efectivos para discussões em larga-escala, que permitam gerar ideias participadas e por isso mesmo mobilizadoras o mais possível.
Por outro lado, repare-se: existe um profundo aproveitamento político nos programas eleitorais.
São armas de arremesso! O programa do PSD é um bom exemplo disso, porquanto aproveita os sectores onde existe maior descontentamento com o PS (professores, agentes judiciários,…) para propor apenas a desconstrução do que foi feito. Em suma, rasgar, apagar, suspender para assim satisfazer sem mais interesses corporativos. Ora, o sentido da responsabilidade implicaria que após a negação viesse a afirmação do que pretendem propor como alternativo. Tal não é feito!

Sem prejuízo dos programas eleitorais, que vistos à lupa permitem, apesar de tudo, distinguir os partidos, o que estará em causa é sobretudo a capacidade realizadora. Para isso importa atentar nas experiências vividas e, nesse particular, a tarefa não é difícil: basta comparar os perfis de Sócrates e Manuela Ferreira Leite.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

QUAL INDEPENDÊNCIA?...


As candidaturas independentes são um pouco como os porcos do G. Orwell: “são todos iguais, mas uns mais iguais do que os outros”. Isto significa que as candidaturas sem filiação partidária – prefiro esta formulação, pois nenhuma é verdadeiramente independente… - têm as mais diversas motivações: umas por…, outras contra…


Há gente que se candidata a uma câmara porque, simplesmente se desentendeu com o anterior colega de vereação; outros porque, de facto, têm um entendimento de cidade inovador e não se revêem nos partidos; há, ainda, quem queira um dia ser o candidato oficial do partido e por isso mesmo faz o tirocínio correndo por fora. Enfim, há também quem represente interesses de ordem económica ou social e veja neste tipo de candidaturas a oportunidade para os afirmar…

Apesar de tudo, sou, desde o início, um defensor legal da existência desta possibilidade cívica, afinal de contas se os partidos fazem parte da democracia, esta não pode resumir-se ao monopólio partidário. Importa, pois, criar mais e mais mecanismos para que os cidadãos se organizem em prol da vida colectiva.

Assim, é lamentável que os partidos representados na Assembleia da República admitam a possibilidade legal de candidaturas independentes, mas não lhes confiram iguais regimes de ordem fiscal (por exemplo no IVA), assim como nas subvenções públicas para a organização da campanha. Isto é dar com uma mão e tirar com a outra!

Deixando tantas vezes os candidatos (ditos) independentes “à mercê” de interesses nem sempre claros, por força dos montantes exorbitantes que campanhas eleitorais potencialmente vencedoras atingem…

Perante isto, evidentemente, são ainda poucos os exemplos de candidaturas independentes, sendo que os casos mais mediáticos são os de ex-presidentes que, conhecedores do “status quo” e alimentados pelos influenciadores locais do costume, acabam por ser indiferentes ao poderio dos partidos, avançando regra geral contra eles, mais do que em nome algo.

Por tudo isto, e no que toca a eleições para os municípios, deveria o legislador rever as actuais condições, permitindo de facto que cidadãos interessados se possam apresentar em condições de igualdade com os partidos políticos, independentemente do respectivo poderio económico e financeiro.Por outro lado, talvez seja o momento para, de uma vez por todas, se aprovarem os círculos uninominais e assim permitirem também candidaturas independentes ao parlamento, visto que já existem para a Presidência da República e autarquias.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

U2 UM GRITO DE CIDADANIA


Foi um privilégio estar em Wembley no passado sábado no concerto dos U2. 90 mil vozes quase sempre em uníssono. Impressionante produção. Bono, The Edge e companhia melhores que nunca. O melhor espectáculo a que assisti!


Ir a um concerto dos U2 é, no meu entender, um acto de cidadania. Não é simplesmente uma opção cultural por boa música - que o é de facto - é muito mais do que isso. Entramos com o desejo e a expectativa de ouvir dos melhores acordes, mas saímos com a consciência de que é possível contribuir para mudar o mundo. Há poucos momentos assim!


Poucos como os U2 têm tido a capacidade de ir além da música. Sair das pautas para o Mundo. Fazer dos acordes gritos de intervenção (v.g. Sunday Bloody Sunday) e de cada concerto uma espécie de manifestação pela solidariedade, pelos direitos humanos, em suma, pela dignidade.


Sábado não fugiu à regra e, por isso mesmo, foram distribuídas máscaras com o rosto de Aung San Suu Kyi, Prémio Nobel da Paz birmanesa, presa uma vez mais por delito de opinião por ordem de um regime dictatorial e autocrático. Bono discursou e apelou à sua libertação. dedicou-lhe uma música: "One". Uma das mais belas de sempre. Desmond Tutu, o Bispo Sul-Africano, que se notabilizou na luta contra o "apartheid" também teve tempo de antena para apelar à paz e à conjugação de vontades por um mundo melhor, mais justo e mais fraterno.


Afinal de contas, quase duas horas depois, sai-se com a certeza de que os U2 têm uma força mobilizadora superior e que a música pode ser, cada vez mais, uma arma de libertação e de afirmação dos valores mais dignos da humanidade.


Há tanto político que deveria passar por ali para aprender qualquer coisinha...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

DIVIDIR PARA REINAR

Habituei-me, confesso, desde há muito a observar com respeito e curiosidade o PSD. Tem enquanto partido – no qual não me revejo mas onde estão bons amigos – uma capacidade de regeneração inata. Quase inata, diria antes.

A imensa força mediática dos respectivos congressos, que diga-se em abono da verdade pelo imprevisto associado eram sempre bem mais atractivos que os do PS, permitiram-nos, com o tempo, compreender melhor a idiossincrasia do PPD/PSD.

Senão vejamos: por vezes aquilo mais parecia um bando de indisciplinados que diziam olhos nos olhos tudo quanto lhes vinha à veneta, mas no final cantavam o “paz, pão, povo e liberdade” em uníssono e saíam, regra geral, mais unidos e mais fortes por isso. Só assim se explica que Santana Lopes tenha perdido tantas vezes e tenha sido Primeiro-Ministro do país; só assim se compreende que alguém que iria (supostamente) fazer a rodagem do carro saísse da Figueira da Foz candidato a Primeiro-Ministro, etc etc. No PS (o mais democrático do partidos portugueses), tal, apesar de tudo, nunca sucedeu!..

Ora, é pois, pensando neste percurso heterodoxo do PSD que para espanto nacional se observam tamanhas divisões e cisões no actual seio do partido.

Não tem sido bonito de ver o triste espectáculo de muitos (muitos mesmo!) a dizerem que não se revêem nas listas de deputados escolhidas. Se “os companheiros” não compram o produto, o que dizer dos eleitores?..

Como, aliás, me parece um erro crasso ter deixado de fora “por critérios políticos” Pedro Passos Coelho, Miguel Relvas e outros. Aqueles seriam exactamente os critérios para os manter dentro!.. De fora os estragos serão maiores, como iremos ver. Nunca pensei que neste PSD houvesse delito de opinião. Enganei-me.

Por isso, estou convencido, pelo que tenho lido e ouvido a alguns amigos, que há feridas que, desta feita, dificilmente voltarão a sarar no PSD. A culpa é em grande medida da actual direcção, mas importa ir atrás para compreender melhor que muito remonta a mandatos anteriores.

A “dinastia” de Luís Filipe Menezes foi – pelo estilo do próprio e pelo contexto nacional – abruptamente interrompida, pelo que muitas “contas a fazer” não foram então feitas e o ajuste aprazou-se agora…

Mas sobre tudo isto o que mais importa reter (não são os episódios internos burlescos do PSD, que para esse efeito os biógrafos tratarão a seu tempo do tema), mas sim sublinhar o manifesto sinal de divisão que foi transmitido ao país. A incapacidade de unir e de congregar dos principais dirigentes do PSD. Isto é muito grave.

Mais grave ainda é a duplicidade de critérios: condenam-se os arguidos candidatos e, afinal de contas, indicam-se para as listas candidatos acusados e pronunciados. Isto é muito grave.

Ora, o país, ainda a tentar recuperar da crise económica internacional e dos impactos sociais
entre portas, não se compadece com atitudes destas e menos ainda com sectarismos que, evidentemente, são incapazes de juntar no momento em que mais precisamos de estar juntos e, ao invés, promovem a separação e o ostracismo.

É caso para dizer: se fazem isto aos seus imagine-se aos outros!..

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXIV

Esta semana foi tornado público um relatório (Nonius), produzido por um grupo de investigadores da Universidade de Coimbra/Instituto Pedro Nunes, sobre a segurança na Internet, em Portugal. Os resultados são manifestamente preocupantes.

Os riscos para o sector público e privado são elevados, porquanto um em cada cinco computadores portugueses está vulnerável. O mesmo é dizer que o país está exposto a um eventual ataque que paralisaria as suas principais instituições e empresas. Aliás, tal já sucedeu na Geórgia com consequências devastadoras.

Num país como o nosso, que nos últimos anos, fruto do investimento assumido em inovação tecnológica, info-inclusão dos cidadãos, desmaterialização de processos e modernização das redes, tem subido nos rankings internacionais de digitalização, o risco de exposição tem aumentado na razão directa. Ora, este relatório vem provar que não basta crescer, importa a forma como se evolui.

Os temas da segurança são absolutamente críticos para cidadãos, empresas e estados. As novas tecnologias – e a internet em particular – assentam muita da respectiva credibilidade no grau de confiança que transmitem a utilizadores e destinatários. Uma vez quebrada esta cadeia de fiabilidade (e de valor!) os danos são incomensuráveis. Importa, pois, evitar o mais possível esta eventualidade.

Quando falamos de democracia digital (cujo aprofundamento advogamos sem reservas) estamos a pensar na relevância de tornar a nossa cidadania mais empenhada e exigente, seja através de medidas de “e-government”, aprofundamento de “e-skills”, “e-acessibilidade”, etc etc. Ora, tudo pode ruir num instante se a segurança não estiver acautelada.

Para este desiderato concorrerá, inelutavelmente, o combate à pirataria informática (em Portugal muito está por fazer, visto as taxas serem de 43%!), assim como a adopção por todos (empresas, cidadãos e estados) de produtos com características comprovadamente seguras, não se compadecendo assim com voluntarismos baseados em soluções colaborativas, abertas…cuja fiabilidade é absolutamente questionável.

Por fim, devemos, porventura, equacionar a tendência quase-natural de tudo expormos no mundo virtual, ou seja, das redes sociais à caixa de mensagens estamos a enviar para a “cloud” (nuvem) parte da nossa identidade e do nosso labor. Mas afinal será esse caminho seguro?..

terça-feira, 4 de agosto de 2009

FALTA A VERGONHA!


“É apenas uma suspeição” – dizem. Não há pois quaisquer efeitos políticos. “É apenas uma acusação do Ministério Público” – afirmam. Não há que retirar conclusões políticas, porque ainda falta o julgamento. “É apenas uma condenação judicial” – desvalorizam. Qual é o problema? Há ainda o recurso e o famigerado trânsito em julgado da sentença. Este é o argumentário a que, infelizmente, nos habituámos nos últimos anos em Portugal.

Multiplicam-se os casos de presidentes de câmara, vereadores, deputados e outros responsáveis políticos envolvidos em processos judiciais, constituídos arguidos e acusados, senão já sentenciados. Este movimento evolui na razão directa do descrédito das instituições e das funções políticas.
Perante isto temos as mais diversas reacções: uns assobiam para o ar, outros invocam guerras corporativas e vitimizam-se, há ainda quem se esconda para ver se não se molha. E o tempo passa… Aumenta o desinteresse pela política e a abstenção. Fica tudo nas mãos dos mesmos.
Um amigo costuma dizer que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Solução prosaica que aplicada a este caso poderia bem traduzir-se por: a política é uma coisa, a justiça é outra coisa.
Passo a explicar: o facto da política e a justiça não se confundirem não conduz, no meu entender,
à solução habitualmente preconizada (cfr. Isaltino Morais, Carlos Encarnação e outros por exemplo) de que enquanto não houver decisão transitada em julgado nos tribunais não estão prejudicados os direitos políticos. Ora, a verdade é que a política e a ética também se distinguem. E bem!
Se a lei não inibe (ainda!) um arguido de manter funções ou de se candidatar, já a ética deveria impedi-lo de o fazer. Fica, hoje, no juízo discricionário de cada um a decisão final. O problema é que a ética não parou à porta de muita gente!..

Alguém que é constituído arguido deve ficar de imediato inibido de cargos e/ou candidaturas políticas? Não. No meu entender, deve ficar inibido quando constituído arguido pela prática de factos graves directa ou indirectamente relacionados com o respectivo cargo político.
Apesar da presunção de inocência, deveria, naqueles casos, abandonar de imediato funções e estar inibido de se candidatar às mesmas. Caso, a final, se venha a confirmar a inocência, certamente terá todo o tempo do mundo para se reconciliar com a vida pública.
Porém, isto implica necessariamente um sistema de justiça bem mais célere e com regras firmes para o segredo de justiça. Quem julga são os tribunais e não a praça pública.
Enfim, cada dia que passa mais me convenço que Marques Mendes foi vítima do seu próprio partido. Passados todos estes meses (e dois líderes…) fica claro que ao PSD não servia alguém que tinha ideias firmes sobre a ética republicana.
A actual líder do PSD diz que aceita – em tese – todas as medidas para a transparência da vida política, todavia acha que hoje ainda não é oportuno. Quando será? Mas há um tempo para a credibilização da vida política? É como as sardinhas, que se devem comer apenas nos meses ser “R”?..

quinta-feira, 30 de julho de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXIII

Um recente estudo do “Pew Internet Research” concluiu que, nos Estados Unidos, se verificou este ano um aumento de 8% no acesso à internet via telefonia móvel. Metade dos utilizadores americanos usam já este tipo de acesso. Impressionante!

Mais impactante, ainda, é o facto de se verificarem os maiores crescimentos nas comunidades latinas e afro-americanas. Sintomático de que o telemóvel tem nas (supostamente) classes mais desfavorecidas uma elevada penetração, porquanto o acesso via banda larga é bastante mais reduzido por entre estas minorias.

Aquele documento confirma esta tendência com o facto dos países BRIC, com o Brasil e a Índia à cabeça, se apresentarem como mercados atraentes e de elevada expansão para os fabricantes e operadores de telemóveis.

Acredito, com base no método da observação, que em Portugal a tendência não será distinta.
Daqui pode concluir-se que o acesso à informação, a conteúdos da mais diversa natureza e a interacção entre utilizadores tem na mobilidade um espaço fértil e privilegiado de crescimento.

Significa que o “gap” entre poderes de compras fica esbatido quando se trata de ter no telemóvel um ponto de acesso.
Posto isto, resta tentar compreender como irão reagir os poderes públicos a este facto. O mesmo é dizer: como se adequarão as medidas de “e-gov” ou governo digital à mobilidade? O que farão os políticos para adaptar os respectivos modelos de comunicação a este periférico? Para quando a possibilidade de votação e participação em medidas públicas via telemóvel?.. Há ainda muito por fazer.

Enfim, a cidadania digital, doravante, não se construirá apenas no e a partir do computador, mas sobretudo tendo por base telemóveis cada vez mais preparados tecnologicamente para o efeito.
Recordo o episódio da professora, da aluna e do telemóvel na sala de aula, que tanto brado deu.


Ora, estes utilitários são, hoje, extensões de nós próprios segundo a tese do “anywhere, anytime with anyone”; pelo que melhor será conceber novos modelos pedagógicos de ensino que contemplem o telemóvel como nova ferramenta de trabalho e não apenas de lazer.

Duvidam?.. Quem acreditava há 2 ou 3 anos que seria possível dar um sinal ao mundo com o Projecto Magalhães numa singular parceria pública-privada entre o governo português, a Intel e a Microsoft. Portugal pode afinal transformar-se num cluster de conteúdos educativos, sobretudo móveis!
Publicado no Jornal OJE