quinta-feira, 26 de novembro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXXV


Cortar o acesso à internet a quem dela faça um uso abusivo, entenda-se pirataria ou outra actividade que prejudique interesses de terceiros. Esta é actualmente a grande questão que inunda blogues e outros fóruns dentro e fora da net.


Alguns países, designadamente a França e a Espanha, já se adiantaram internamente com iniciativas legislativas que geraram polémica e discussões infindáveis nas respectivas geografias. Tal a relevância do tema que os demais países europeus não ficaram imunes. Aliás, o Parlamento Europeu aprovou esta semana um pacote legislativo (sobre Telcos), do qual resulta a possibilidade dos Estados membros fecharem o acesso a qualquer cidadão que “pise o risco” por três vezes.

O Parlamento Europeu esclareceu que tal só pode suceder após prévio “processo equitativo” de defesa perante uma autoridade nacional. Adiantou ainda que “será impossível cortar automaticamente o acesso a uma pessoa sem lhe dar primeiro a possibilidade de apresentar a sua posição”. Ora, pelo menos sabemos que algumas garantias de defesa existem, porém não se faz ideia de que tipo de autoridade nacional falamos nem tão pouco se de uma autoridade judicial se deveria tratar.

Uma coisa é certa: a internet é hoje uma realidade incontornável das nossas vidas e, por isso mesmo, reflecte as virtudes e os defeitos dos seus utilizadores/criadores. Nela são geradas das mais belas obras intelectuais e produzidos os maiores atentados à propriedade intelectual. Na net navegam os cidadãos mais ilustres e os bandidos mais reputados. Nela se constroem modelos que geram milhões e outros que assentam na gratuitidade mais absoluta. Em suma, a internet é um mundo belo de contradições. Como o real.

Este é um debate que merece a pena ser tido com serenidade e sem preconceitos. Para quando em Portugal?..


Publicado no JORNAL OJE

A LEI DA ROLHA


Que Coimbra tinha parado no tempo já nós desconfiávamos. Que Encarnação preferia o atavismo à modernidade é uma evidência, mas que a Lei da Rolha (que data de Agosto de 1850) viria a ser recuperada é que nunca esperámos.

Pois bem, foi com estupefacção que soubemos que a maioria do PSD-PP tinha imposto o silêncio forçado nas reuniões da Câmara Municipal.

Há mais de vinte anos que os jornalistas assistiam e noticiavam o que se passava nas reuniões do executivo do Município de Coimbra. A presença dos profissionais da comunicação social permitia aos munícipes ir tomando contacto com a actividade dos que elegeram. Para o bem e para o mal…

Na falta de mecanismos de informação sobre a actividade municipal (antes não havia internet, agora mesmo havendo a transparência ainda não é absoluta) a notícia ou os meros relatos do que se passava na Praça 8 de Maio foi, durante muito tempo, o único elo de ligação e de escrutínio popular dos eleitos. Agora, acabou-se. Significa menos abertura e mais opacidade, o oposto do que é desejável e imperativo. Coimbra é assim, nos últimos anos pauta-se pelos maus exemplos.

Compreendo que para o Presidente e para alguns vereadores a ausência de quem dá notícia do que se lá passa até poderia ser vantajoso…ai se era! Mas chegar a tanto?!...

Esta decisão de Encarnação envergonha a democracia, nega o passado histórico de Coimbra no combate contra a censura e contra o silêncio forçado. A cidade não pode continuar adormecida a permitir que tudo lhe seja feito. A cidade não são os eleitos, mas os que elegem e estes devem acordar da letargia profunda em que vivem há anos.

Para a história ficará o triste espectáculo de uma maioria que aprova um regulamento que nos apouca e (lamentavelmente) de alguns vereadores socialistas cuja abstenção irresponsável não dignifica…nem se desculpa por distracção.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXXIV


A Academia Internacional das Ciências Digitais, sedeada em Nova York, anunciou esta semana os 10 momentos mais relevantes da internet na última década. Vale a pena atentarmos.

Por ordem decrescente de importância a Academia elegeu:

O “Craigslist”, um site de anúncios de classificados gratuitos; o Google AdWords, uma ferramenta que adapta anúncios e pesquisas em motor de busca; a Wikipedia, uma enciclopédia on line editável por cada utilizador; o Napster, um meio de partilha de arquivos P2P; a entrada em Bolsa da Google; o vídeo on-line (de que o You Tube é o expoente máximo) que converteu os utilizadores em criadores de conteúdos audiovisuais; o lançamento do iPhone, enquanto novo conceito de telefones inteligentes; a campanha eleitoral de Obama como momento onde se compreendeu o impacto da democracia digital; os protestos nas eleições do Irão usando as novas tecnologias e as redes sociais como ferramentas de reacção cívica e, ainda, o Facebook e o Twitter, transformadores das redes sociais.

Poderemos concordar ou discordar da selecção feita, porém um facto é inegável: qualquer um destes momentos teve real e efectivo impacto na vida de muitos milhões de cidadãos. O mesmo será dizer que a internet, tal como a Wharton Schooll da Universidade da Pensilvânia já havia confirmado cientificamente, é uma das invenções mais impactantes das últimas décadas.

Os modelos sociais, seja de relacionamento entre pessoas seja entre entidades, mudaram radicalmente nos últimos anos em virtude de alguns dos momentos agora identificados pela Academia; a organização das empresas e dos mercados está em mutação por força de um novo paradigma alicerçado na economia virtual que a internet corporiza; as organizações políticas e os governos precisaram de reinventar o modo de relacionamento com os cidadãos por conta da força cívica emergente da net, entre outros exemplos.

Curioso, agora, será antecipar os momentos da próxima década!..
Publicado no JORNAL OJE

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXXIII

Voltemos ao tema da relação entre a produtividade e o acesso à internet – em particular às redes sociais – no ambiente de trabalho. Este assunto tem sido objecto dos mais diversos estudos e das opiniões mais controversas. Há para todos os gostos.

Na verdade, já aqui defendemos que existe um nexo causal entre mais produtividade e liberdade de navegação na net, designadamente participando de forma activa em fóruns sociais. Aliás, pôr termo a esta tendência natural seria amputar uma característica intrínseca às novas gerações digitais.

Pois bem, a australiana Universidade de Melbourne veio, também, confirmar esta posição, num estudo que desenvolveu o conceito de “workplace internet leisure browsing” (WILB). Daqui resultou que se investirmos 20% do nosso tempo no trabalho em navegação na internet – com propósitos alheios ao ambiente profissional – aumentaremos a nossa produtividade em, pelo menos, 9%. Assim sendo, aquilo que seria aparência de perda de tempo é, afinal de contas, um ganho.

Garantidamente qualquer especialista em RRHH ou psicologia das organizações poderá comprovar que o relaxamento por breves instantes e a possibilidade de desfocarmos da tarefa profissional habitual, permite uma recuperação posterior da atenção e da energia que traz consigo ganhos de produtividade indubitáveis. Pois esta é a conclusão do dito estudo sobre o ” WILB”.

Este sinal deve ser absorvido pelos responsáveis das empresas portuguesas onde começa a sentir-se uma tentação para investir no controlo da actividade cibernética dos colaboradores ou, mesmo, no vedar do acesso às redes sociais, que não são apenas (e sobretudo) uma das janelas voltados para o mundo que nos rodeia e onde convém buscarmos inspiração para melhorarmos a performance laboral quotidiana. A cave está no bom senso, de parte a parte, e não na repressão ou no controlo sectário.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

PROBLEMAS DE VISÃO


Declaração de interesses – nasci em Coimbra e, por isso mesmo, aprendi a respeitar e a admirar a secular Universidade, que anos mais tarde passou a ser minha também por direito próprio. Chego, muitas vezes, a ser “coimbrinha” (eufemismo de quase-provinciano) na sua defesa.

Posto isto, quando em Lisboa, onde há anos vou passando parte do meu tempo, dizem que Coimbra e a respectiva Universidade cheiram a mofo, logo lhes atiro com algumas empresas que são sinónimo da melhor inovação portuguesa. E, falo-lhes da balança tecnológica para a qual uma parte da inovação “made in Lusa-Atenas” contribui.

Quando, ainda assim, me referem os exemplos de Aveiro e Braga como cidades que são modelos de relação entre a Universidade e a Comunidade, sou obrigado a recordar-lhes, por um lado, que se comparam realidades distintas (séculos não são décadas) e para que um binómio cresça importa que ambas as partes fluam no mesmo sentido, ora, em Coimbra, há muito que o essencial do problema não está no Paço das Escolas, mas na Praça 8 de Maio.

Quando, mesmo assim – ele há tipos que não desistem fácil! - me provocam dizendo que os bons MBAs são em Lisboa e no Porto, recordo-lhes o que pelo quarto ano consecutivo, a Universidade de Coimbra é a instituição de Ensino Superior portuguesa mais bem cotada no ranking do jornal The Times, sendo a única entre as melhores 400 do Mundo.

Quando o interlocutor é mais “fraquinho”…tento o golpe de misericórdia (forçado é certo), invocando o facto de em 2009 a UC ter subido de 387º para 366.º lugar, a nível mundial, e de 169º para o 166º, a nível europeu. A parte “coimbrinha” veio ao de cima…

E poderia continuar a relatar discussões intermináveis que, apesar de não ter mandato do Magnífico Reitor, fui (e vou) tendo ao longo do tempo. Mas quando termina o “ping-pong” argumentativo, reconheço (no silêncio da introspecção) que em Coimbra é difícil querer ser mais ambicioso e ter mais sucesso. Uma espécie de síndrome…

Mas a declaração de interesses inicial dá-me legitimidade para distinguir a admiração da cegueira e o respeito da subserviência.

Talvez, por isso, para debates futuros, fosse importante que a cidade e o país conhecessem melhor o legado científico e a investigação que está em curso, os níveis de empregabilidade dos licenciados, a reconhecida qualidade pedagógica dos cursos e o nível de internacionalização, por exemplo. Talvez estes indicadores resolvessem os problemas de visão de alguns…

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXXII


Em tempo de crise, as empresas, assim como as pessoas em geral, procuram soluções que reduzam ao máximo os custos. As novas tecnologias oferecem um sortido de diferentes opções adequadas a esse fim. Esta é apenas uma perspectiva: a economicista. Existe, também, a outra: a estratégica, ou seja, de que modo as TIC alargam mercados e abrem oportunidades de negócio.

Em ambiente de trabalho internacional é comum que as reuniões decorram com os participantes em diferentes geografias, cada um sentado na respectiva secretária, economizando o tempo das deslocações, os gastos em viagens e hotéis, contribuindo ainda para a “pegada ecológica”.
O “Messenger”, o “Skype” e o “Communicator” são algumas das ferramentas mais em voga, não apenas para as comunicações internas, mas sobretudo nos contactos com elementos externos às empresas e, até, em entrevistas de trabalho. À transmissão de voz associa-se a imagem por via de uma simples webcam. Imagine-se o potencial: menos tempo dispendido, mais interlocutores no “loop”, maior flexibilidade no planeamento das tarefas, em suma, economias de custos.
Significa isto que os modelos clássicos de organização do trabalho estão em mutação. Os espaços físicos das empresas estão a mudar, as distâncias geográficas podem não representar custos acrescidos, o recrutamento global de talentos é uma oportunidade e a conquista de novos mercados uma atracção natural.
Agora, imagine-se esta realidade aplicada aos governos e aos municípios. Quanto se não poderá poupar ao erário público em tempo, ajudas de custo, quebras de produtividade, etc? Em Portugal, é chegado o momento de dar um novo impulso ao plano tecnológico (eixo político virtuoso) e uma das formas é apostar nos sistemas de informação como mecanismos de modernização do estado que permitam também uma redução de custos.

Publicado no Jornal OJE