terça-feira, 31 de julho de 2012

CRISE?..



Qual crise?.. Portugal – ou pelo menos uma parte dele – continua a viver na abundância... Assim parece.

Figueira da Foz. A vetusta “Praia da Claridade” não se poderá queixar apenas do vento, das baixas temperaturas para a época e da falta de dinheiro. Deve, desde logo, queixar-se de si própria e da inabilidade dos seus para fazer dela um sério e verdadeiro referencial turístico. E tanto que precisa!

Chegado de um país (Brasil) onde a escassez de muita coisa sempre foi genialmente superada pela simpatia e pela disponibilidade inata para servir, constrange-me ver um dado Portugal a comportar-se com a mesma arrogância e desinteligência de sempre. 

Sinceramente não compreendo para que serviram rios de dinheiro empatados ao longo destes anos em empresas municipais de turismo, em ações de promoção em feiras internacionais e semanas de gastronomia local, nem para onde foram milhões (supostamente) aplicados em formação e capacitação profissional na restauração e hotelaria locais.

Afinal de contas, esta semana, testemunhei diversos restaurantes, na Figueira da Foz, onde deixam de servir às dez da noite (!!), outros que apenas vendem a “rainha sardinha” aos sábados e domingos ao almoço e, regra geral, uma falta de profissionalismo e simpatia atrozes. Mais parece um sacrifício ter de atender e servir os cada vez menos clientes deste canto à beira-mar plantado. Coisa chata esta da época alta!

Por isso mesmo aquilo que poderia parecer uma provocação - o título do presente artigo – não o é. Na verdade, o que se espera de um país que está a viver dos mais difíceis momentos da sua história económica e social é que aumente a produtividade, a eficiência e o profissionalismo como caminhos únicos para a recuperação.

Todavia aquilo que, infelizmente, testemunhei, nos últimos dias, foi a ausência de brio e de empenho de empresários e colaboradores num setor estratégico para a região e país.

Quem dera fosse mentira, mas a crise existe mesmo! E a leviandade também!..

sexta-feira, 20 de julho de 2012

QUERIDAS HEROÍNAS




Marissa Mayer tornou-se esta semana uma celebridade rara. Afinal de contas, é mulher, tem menos de 40 anos, assumiu a liderança da empresa de tecnologia Yahoo - ao que parece a primeira CEO mulher entre as 500 empresas de TI da Fortune - e, pasme-se, anunciou no primeiro dia da nova função que estava grávida!! Uma heroína, pois, dos tempos modernos.

Parece incrível que no ano da graça de 2012 consideremos como inusitados estes fatos relativos a uma mulher internacionalmente bem sucedida. Mais do que isso, é grave! Significa que há ainda um longo caminho a percorrer nas políticas públicas para o reconhecimento do papel social e económico da mulher, dentro das próprias empresas e na mentalidade coletiva.

É neste contexto que o FMI anunciou, esta semana também, um estudo que advoga a substituição do clássico abono de família - de duvidosa eficácia dos quase 30 euros/mês por filho - por incentivos às mães trabalhadoras como forma de gerar empregos no feminino, sobretudo nos países do sul da europa. Ora, tal medida no caso português é absolutamente inócua, porquanto Portugal já tem das maiores taxas de mulheres-mães-trabalhadoras da europa. Setenta por cento da população feminina portuguesa trabalha.

Recuperemos então o caso de Melissa Mayer, cujas exigências profissionais  e de dedicação de tempo à profissão são invulgarmente elevadas, para deixar algumas considerações. O sucesso dela depende do suporte familiar que com absoluta certeza terá, seja por um séquito de empregadas domésticas seja por pais ou sogros; assim como apenas uma empresa com vistas largas permitirá que muito tele-trabalho seja solução para a mãe-excutiva.

Conclusão, melhor andaria o FMI se viesse propor estímulos fiscais às empresas que adotem de modo rigoroso o tele-trabalho, assim como incentivos compensatórios para quem investe na melhoria da organização familiar (seja por contratação de domésticas seja por ocupação de idosos). Em qualquer um dos casos se geram, aqui sim, novos empregos além de não estagnarem a taxa  de natalidade, um dos mais graves problemas do mundo moderno para o qual ninguém olha!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O PROFESSOR GREGO



Numa oportunidade única de ter à mesma mesa o Senador Cristovam Buarque (ex-Ministro da Educação do Brasil) e o atual embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Ribeiro Telles, tive o privilégio de escutar e aprender com as perspetivas políticas e diplomáticas para alguns dos principais problemas que afetam os dois países e o mundo em geral.

O Senador Buarque mencionou um exemplo que o marcara em recente visita à Grécia e que diz muito do que se está a passar – e continuará - na velha europa em recessão. Um professor universitário ateniense a quem o governo cortara drasticamente o salário e o horário de trabalho viu-se na contingência de rever todas as opções orçamentais familiares, desde logo passar a usar transportes públicos ao invés de carro próprio e colocar o filho numa escola pública retirando-o de um colégio privado. Até aqui, nada de novo. Temos escutado todos semelhantes histórias, em Portugal também.

Acontece, que o inovador da estória reside no fato do dito professor universitário, uma vez com o horário de trabalho reduzido, decidiu emprestar o seu conhecimento e experiências académicas à nova escola pública do filho, que se preparou para este tipo de novas circunstâncias. Ou seja, um novo modelo de voluntariado a despontar que aproveita o “know how” e as qualificações de uns para melhorar o ambiente e as competências escolares de outros. Tal como ao Senador, também me pareceu oportuno e interessante.

O maior desafio que o mundo moderno está a atravessar é no seu modelo de distribuição de riqueza e de competências. Afinal de contas, apesar da crise profunda, o número de milionários aumentou. Ao mesmo tempo que o desemprego não pára. Existe aqui uma incongruência profunda que merece respostas disruptivas.

Pensar em rever a jornada de trabalho pode ser uma opção para repartir por mais a oportunidade de emprego. Assim, não se olha o problema apenas do lado do salário. Concomitantemente, tem de refletir-se sobre o que fazer e dar a fazer nos novos horários livres. Pois bem, o voluntariado qualificado e qualificante como o expresso no exemplo do professor grego pode ser uma opção, que o estado estimule através de benefícios fiscais quando verificado em domínios públicos ou de elevado impacto social, económico e educativo. Afinal, uns vão dedicar parte do seu tempo a melhorar a vida dos outros.

Até  aqui o voluntariado era para consumo pessoal e alimentar a auto-estima, a partir de agora deve ser um modelo pensado publicamente, articulado com setores estratégicos ou onde a crise impacta demais e com óbvio suporte governamental.



sexta-feira, 6 de julho de 2012

CANUDOS HÁ MUITOS...



Volta não volta as licenciaturas dos políticos passam a fazer as delícias da comunicação social portuguesa. Foi assim no passado recente e parece voltar a repetir-se a história. O mundo luso pára para opinar e fazer julgamentos. Todos têm opinião, mesmo os que (aparentemente) não têm a licenciatura. Aliás o que terá comentado Miguel Relvas sobre José Sócrates no passado recente?..

Mas o tema merece de fato este alarido todo? Não. É que este não é com certeza um exclusivo dos políticos, apenas são mais escrutinados e investigados. É um problema cultural do país. E isso sim é mais grave. Acresce, que se olharmos para o estado atual e para a urgência dos problemas que brotam como cogumelos – a taxa de desemprego galopante, a dívida pública, a crise social,... - o sentido de urgência justificaria que o tempo e a energia nacionais fossem aplicados de outra forma. Porém, obviamente, se olharmos do ponto de vista da ética republicana não deve fazer-se em privado o que se critica publicamente, nem fazer-se passar por aquilo que se não é. Há fatos e omissões que carecem obviamente de explicação.

Agora, gostaria de destacar duas perspetivas diferentes decorrentes deste assunto: a necessidade de qualificações dos políticos e a qualidade do ensino superior privado.

Comecemos pela segunda, em todos os casos tornados públicos, coincidência ou talvez não, estão envolvidas entidades de educação privadas. Ora, na verdade, a proliferação desmusarada de universidades privadas promovida pelos governos de Cavaco na década de noventa - sem qualquer controlo de qualidade - burlou a expetativa de muitos que não viram o mercado reconhecer-lhes o esforço, assim como deu azo a situações nublosas e pouco credíveis. Assim sendo, o problema maior e que ninguém discute está na exigível qualidade académica dos cursos de ensino superior e nos mecanismos de atribuição de alvarás para operar efetivamente dentro de padrões internacionais.

Ao mesmo tempo, já vi excelentes políticos – no sentido de quem serve exemplarmente a república e os cidadãos – sem qualquer “canudo”, assim como já vi delapidar o património coletivo a Professores Doutores! O título não faz as pessoas nem as respetivas qualificações para a função. Todavia, Portugal hoje precisa de outro tipo de políticos que jurem obediência ao mérito, à competência comprovada, à responsabilização e à liberdade mais profunda de pensamento. Mas esses escasseiam nos inadaptados e esclerosados partidos que vamos tendo...