Nas eleições autárquicas os representantes estão (supostamente) mais próximos do povo, logo tal facto facilitará a percepção pública da obra feita e, consequentemente, da avaliação a fazer. Regra geral, a abstenção é mais baixa e os movimentos de cidadãos independentes mobilizam vontades tantas vezes adormecidas. Em suma, a motivação para uma participação política mais activa e responsável é (teoricamente) maior.
Diria mesmo, que o grau de maturidade democrática de uma sociedade afere-se por diversos indicadores, sendo que a capacidade de distinguir o essencial do acessório é, a meu ver, um dos mais importantes. Por isso mesmo, queria acreditar (significa que ainda não acontece) que os cidadãos votam nos melhores candidatos independentemente da sua matriz partidária.
Achar que, hoje em dia, o sentido do voto é definido pela qualidade intrínseca dos candidatos mais do que pela coloração partidária é pura ingenuidade. Infelizmente!
Isto, dito assim, é sinónimo de que nem sempre ganham os melhores protagonistas, as melhores ideias e os projectos mais sólidos. É a democracia a funcionar, dir-se-á, pois é, mas não imune a críticas, pois vão-se perdendo activos importantes. Então nas eleições autárquicas, há gente que tantas vezes decide sair da sua zona de conforto para se expor e, depois, confrontados com escolhas pouco racionais acaba desiludida e não mais volta. Para estes o sistema raramente guarda lugar. Conheço uns tantos casos…
Ora, a verdade é que a “partidocracia” acaba por prevalecer, apesar dos avanços legislativos, e tantas vezes a cruzinha é mobilizada pelo símbolo partidário mais que pelo rosto e ideias dos protagonistas.
Há exemplos para todos os gostos: desde os caciques locais que, mesmo mudando de partido, acabam por vencer (dispenso-me enumerar as razões), vejam-se os exemplos de Isaltino e de Valentim até aos candidatos que mudando de partido acabam perdendo as eleições, pois a percepção negativa da mudança de camisola é mais forte que os atributos dos próprios. Não há pois um critério uniforme, nem acredito que seja possível estabelecer um modelo científico de análise.
Já aqui escrevi, num passado recente, que, por exemplo, Coimbra precisaria, neste momento particularmente crítico, de um choque de ânimo, de energia e de criatividade promovido por gente suprapartidária, com diversas proveniências ideológicas. Ora isso não sucedeu e, observando as sondagens existentes somos levados a concluir que tudo ficará na mesma. Será, pois, compreensível que perante tanta omissão, inacção e letargia o povo queira continuar a escolher os mesmos?.. Ora, a escolha é indubitavelmente legítima, mas não corresponde à necessidade deste tempo. Estamos ainda longe do ideal.
O sempre polémico Nietzche defendeu que «um político divide o ser humano em duas classes: instrumentos e inimigos». Fico, assim, com curiosidade sobre como definiria o filósofo a divisão feita pelo eleitor do político.
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