quarta-feira, 8 de setembro de 2010

IR ALÉM DO ÓBVIO!



Por este andar a nossa candidatura à organização do Mundial de Futebol de 2018 será a garantia para termos assegurada a participação na fase final sem preocupações de maior. Fica tudo administrativamente tratado...

Falando sério: hoje, grande parte do país já está convencido da bondade e da importância desta candidatura. Recordo bem quando há dois anos se falou pela primeira vez nesse desiderato (pela boca de Hermínio Loureiro, então presidente da Liga) as diversas reacções então produzidas foram maioritariamente críticas, vindas de muitos que agora se preparam para ficar na fotografia da aclamação...

Tenho algumas premissas das quais parto e que, confesso, só abdico quando comprovadamente erradas: a) qualquer projecto ibérico é bom para Portugal; b) qualquer evento ou compromisso com impacto internacional efectivo é positivo para Portugal; c) qualquer manifestação que mobilize a energia nacional e promova a nossa auto-estima é desejável. Passo, então a explicar.

Portugal precisa de mais iberismo. Precisamos de nos integrar crescentemente como parte desta região europeia como forma de ganharmos mercados e competências. Ora, uma candidatura conjunta com a Espanha é algo que só nos dignifica e da qual retiraremos decerto vantagens.

Tanto mais, que não teremos que fazer esforços financeiros extraordinários, pois as estruturas do Porto e de Lisboa estão aptas a receber grandes eventos. Deveremos é começar já a garantir que as outras cidades possam acolher os estágios e os jogos de preparação das diversas selecções apuradas para, assim, se maximizarem todas as estruturas criadas para o Euro 2004.

Aparecermos ao lado de um campeão do Mundo e da Europa só nos enobrece, seja no futebol, no andebol ou no xadrez. Um campeão é um campeão. Deixemo-nos pois influenciar e perceber porquê...

Por outro lado, Espanha é um dos países do mundo com a mais elevada taxa de turistas, pelo que poderemos aproveitar desse facto e acolher cá dentro muitos dos que visitarão “nuestros hermanos”. Além de que, claro, são muitos os estudos que demonstram a notoriedade e a visibilidade internacional que momentos como estes dão ao país...o equivalente a muitos anos de má diplomacia económica...

Finalmente, o nosso fado não é sermos sempre os terceiros ou os últimos de qualquer coisa. Não temos escrito no ADN colectivo: perdedores. Não! O povo português precisa mais que outros de viver momentos que projectem a sua grandeza e promovam a respectiva auto-estima. Somos assim. Não é defeito, apenas feitio. Recordamos bem – e com saudade! – como o Europeu de 2004 serviu para recuperar valores pátrios tão importantes e tão simples como o orgulho na bandeira. Isto tem um valor social e cultural significativos, mas também económico. Isto é ir além do óbvio...

Provem-me o contrário!

DEMOCRACIA DIGITAL



A propósito dos tumultos em Moçambique escutava, esta manhã, uma jornalista improvisada a referir que as manifestações populares tinham sido convocadas por sms, fugindo em grande medida ao controlo da segurança do estado, e que, à cautela, o governo teria condicionado os serviços e acessos à internet.

Ora, não sendo estes factos uma novidade, confirmam a tendência inexorável – já antes sentida no Irão por exemplo – para ver na internet e nas novas tecnologias canais e instrumentos privilegiados para fazer eco do descontentamento popular, organizar greves e manifestações e promover rebeliões.

Em Maputo ou em Teerão vale de pouco cortar o acesso à rede. Existem, nos dias de hoje, múltiplas alternativas. Não vale a pena ir contra uma corrente que é avassaladora.

É curioso observar que, sendo Moçambique um dos países mais pobres do mundo e tendo dos mais elevados “gap” digitais, a população faça uso das TIC para se mobilizar e exercer direitos. Esta questão conduz-nos ao facto de que a Internet aproxima e não segrega; ajuda a reduzir assimetrias e intensifica a vigilância cívica. Isto são vantagens evidentes.

Não por acaso as grandes operadoras mundiais de telecomunicações e os gigantes da informática olham para África com muita atenção pelo potencial de consumo que representa.

Para os governos, de África como da Europa, a atitude mais avisada não será o controlo férreo sobre a rede – opção contra-natura - mas, antes, utilizar as virtualidades da rede para aprofundar o relacionamento entre o Estado e os Cidadãos e entre estes. Para o efeito, e tão importante quanto medidas de desmaterizaliação e modernização administrativa pela via digital, é o incremento das novas tecnologias no sistema educativo.

Em suma, a palavra-chave para gerir estas tendências é EDUCAÇÃO e não repressão!

Publicado no JORNAL OJE

MAIS DO MESMO!



É sempre assim. Aproxima-se o fim da época balnear e eis que os partidos políticos aproveitam para fazer a dita “rentrée”. Marcam-se comícios, jantares, sessões de lombo assado, universidades de verão e mais “um par de botas”. Parêntesis: reentrada em quê, se eles nunca saem de cena?..

Desta feita, não me deterei no que uns e outros aproveitam para dizer e apregoar este ano. Fica para o Professor Marcelo...Aproveitarei a ocasião para expressar o que eu gostaria de lhes ouvir.

Face ao estado do país e da Europa (que regra geral não vai melhor) seria extraordinamente importante e oportuno não perder muito tempo com discussões estéreis sobre a Revisão Constitucional virtual - sim, porque a mesma para existir tem que ter a concordância formal dos dois maiores partidos, sem isso tudo se resume a coisa nenhuma.

O anúncio de que os principais partidos teriam acordado formal e solenemente na criação de um pacote reformista para os próximos 3 anos seria o melhor presente para o país. Já imaginou?..

No Pontal ou na Pontinha, em Matosinhos ou no Seixal, onde quer que fosse, imaginemos pois que os principais líderes políticos apareciam juntos a elencar um conjunto de medidas para reformar e promover a Justiça, o Emprego, a Educação, a Modernização Administrativa e a Saúde.

E não seria preciso um chorrilho de medidas. Meia-dúzia eficazes seriam o suficiente para mudar muita coisa naquelas cinco áreas essenciais na organização de um Estado e para o quotidiano de um povo. De certeza que, depois disto, as imposições de Bruxelas, os critérios de convergência e os PEC´s perderiam parte do sentido...
Há um tempo para tudo. É assim nas vidas individuais e também no decurso das democracias. Actualmente vivemos uma crise sem precedentes que obrigaria forçosamente a outro tipo de atitude por parte das lideranças partidárias. Impõe-se o consenso alargado, mais que o populismo demagógico e o oportunismo das ideias.
Um dia ouvi que “o consenso é a negociação da liderança”, pois bem ficará na história quem tiver a capacidade de partilhar e de gerar esse consenso, que o mesmo é dizer: liderar.

Nunca esquecer que o povo português é especialmente atento...

Este ano dá-se a particularidade de os candidatos presidenciais também ensaiarem as respectivas aparições. O momento é pré-eleitoral. Ora, excelente oportunidade para compreender como cada um deles – no respeito pelos poderes presidenciais que assentam num modelo de “magistratura de influência” – observa o desafio de mobilizar toda uma nação para sairmos deste impasse perigoso em que nos encontramos. É que, desta vez, ao Presidente não bastará a técnica dos “paninhos quentes” é preciso que seja, em consonância com o governo, um mobilizador de vontades, um poço de energia para apelar às grandezas deste povo.