quinta-feira, 17 de novembro de 2011

BEIJA-ME MUITO!


O Vaticano reagiu violentamente e por todos os meios a uma campanha publicitária de uma Fundação italiana contra o ódio – patrocinada pela Benetton – em que foto-montagens mostram o Papa a beijar o Imã da mesquita Al-Azhar do Cairo. Noutras aparecem Obama e o Presidente chinês num gesto igualmente carinhoso. Portanto nada contra a Igreja.

Obviamente, que tratando-se de uma campanha promovida por uma organização não governamental e cujo objeto é o combate à discriminação e ao ódio, nada melhor que ser “chocante” para obter efeito útil e visibilidade. Se tivessem colocado um par de namorados ou namoradas ninguém atentaria!

Acresce que a publicidade é isso mesmo. Instrumental. Ora cada coisa no seu devido lugar. É esta relativização que o conservadorismo do Vaticano não compreende. É este atavismo papal que afasta cada vez mais crentes para o agnosticismo ou para outras correntes de fé (diga-se muitas de cariz duvidoso).

Este episódio, polémico obviamente, desperta inúmeras reações. Confesso, que vindo do Vaticano e deste Papa já nada me surpreende. Ao invés do seu antecessor que deixou uma marca indelével – apesar de muitos erros, designadamente a condenação do uso do preservativo – Bento XVI não existe. É uma espécie de fantasma litúrgico que se move na contramão dos tempos atuais.

Um Papa e um Imã a beijarem-se ou um líder Hindu e um budista no mesmo gesto são, acima de tudo e mais ainda numa campanha de publicidade, a melhor forma de homenagear a multiculturalidade, o diálogo inter-religioso e o ecumenismo. Tão pregados...

Mas se dúvidas houvesse os primeiros relatos sobre o beijo remontam a 2500 a.c., na antiga Mesopotâmia, porque as pessoas costumavam enviar beijos aos deuses. É curioso que hoje os homens recusem aquilo que antes ofereciam às divindades!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

CONVERSA DA TRETA


A pior coisa que pode acontecer a um país que está meio-perdido e quase moribundo é gastar tempo com o acessório desprezando o essencial. Exemplo gritante de como o governo está a lançar poeira para os olhos dos portugueses é o iniciado debate sobre feriados e horário laboral.

Acabar com quatro feriados e aumentar 30 minutos na jornada de trabalho são, aos olhos do governo português, medidas necessárias e eficazes para aumentar a produtividade nacional, dizem.

Ora, com o devido respeito, nunca se ouviu tamanha barbaridade. Primeiro: está por provar o nexo causal entre essas medidas e o aumento de produtividade; segundo, sabemos todos que produtividade (que é conceito distinto de produção) se aumenta com mais competências nos trabalhadores, com mais empenho profissional, com mais regalias socias e com mais reconhecimento de mérito. Em suma, com mais responsabilidade de todos os lados: de quem emprega e de quem trabalha. Isto aplica-se ao setor privado e, muito, ao setor público.

Não será com certeza por trabalharmos mais quatro dias por ano em Portugal ou mais trinta minutos por dia que o país sairá da crise, sobretudo se os portugueses forem para o emprego desmotivados, desiludidos e sem perspetiva de progressão ou (pelo menos) reconhecimento.

Interessante seria o governo encomendar um estudo sobre o impacto social e económico – aí sim na produtividade do país – de decisões como as que anunciou: acabar com os subsídios de natal e de férias; aumentar o IVA; aumentar o IRS; reduzir o investimento em educação e formação... Com toda a certeza estas são medidas que impactam diretamente no estado de espírito, na motivação, nas qualificações e nas estruturas sociais dos portugueses, consequentemente na forma como nos comportamos no local de trabalho, seja ele qual for.

Finalmente, ao invés de inventar poderia o governo convidar algumas das empresas consideradas mundialmente pelas respetivas boas práticas no relacionamento com os trabalhadores (felizmente trabalho na número um mundial nesse aspeto) e compreender como replicar modelos. Seria mais fácil, mais barato e mais eficaz.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

OS DEUSES DEVEM ESTAR LOUCOS!


Faz parte da nossa memória o filme que deu título a este artigo, parodiando o impacto de uma garrafa de coca-cola – como se de uma oferta dos deuses se tratasse - junto de uma tribo, depois de lançada de um avião.

Pois bem, observando estes últimos dias na Grécia, com certeza, os deuses devem estar boquiabertos com as reações e inconstâncias dos que hoje governam aquele território. De repente, os gregos acordaram e acharam-se no direito de questionar “latu senso” o euro e a sua permanência na moeda única. Ora, se é inquestionável a legitimidade política do ato, o que dizer da oportunidade e da pertinência do comportamento?

Depois de decidir energicamente que haveria um referendo ao pacote de medidas da UE, o governo grego viu-se na contingência de recuar em absoluto perdendo a face e submentendo-se à (irritante) chantagem Merkel/Sarkozy. Se Atenas pensava tratar da politicazinha interna fazendo braço de ferro com Bruxelas, Berlim e Paris este não era decididamente o tempo. Mais, mesmo que – por absurdo – o referendo se fizesse e os bravos gregos votassem contra o pacote europeu, qual seria a alternativa? Continuariam como hoje – falidos – e, pior, “sem mais vidas para jogar”!

Se não acreditasse no projeto europeu - como denominador comum político, cultural e económico – diria agora: os gregos que se f....., fiquem lá no seu cantinho. Porém, a Europa existe (pelo menos a política, que não a económica como está visto) e só a respetiva sobrevivência como um todo permite a saída para a crise. A Grécia, gostemos ou não, faz parte dessa europa e por isso deve ser composto da solução. Qualquer outro pensamento levará Portugal para a mesma situação da Grécia, que apesar de tudo são distintas.

Fazendo a ponte com o atual momento de debate orçamental em Portugal, advogar que o PS (maior partido da oposição e responsável pelos últimos anos de governo) deve votar contra “tout court” é ver a árvore e esquecer a floresta. Tem de existir mais vida para além deste orçamento e a solução passará por acordos de governo e de regime. Nunca o PS pode ser a parte que os exclui, mas antes a que os provoca de forma séria e responsável. De outro modo, é como na Grécia, o país não se salva e afundamo-nos todos...socialistas incluídos.