quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

CONTRA-CORRENTE


Temos por hábito dizer que é muito difícil dar presentes a quem já tem muito ou quase tudo, por isso mesmo esta época natalícia se pode facilmente transformar num pesadelo quando procuramos prendas para alguns familiares e amigos mais afortunados.

Mas o inverso não é menos verdadeiro: decidir o que oferecer a quem não tem nada ou tem muito pouco é de igual modo uma tarefa árdua, porquanto a definição de prioridades e a presunção do que é melhor para os outros é frequentemente motivo de discórdia.

Se estas regras simples se aplicam ao quotidiano dos homens, de igual modo se estendem aos das organizações, entidades e Estados. Vale isto para dizer que não é nada fácil responder ao desafio de buscar prendas para o país e menos ainda para a cidade de Coimbra…porque lhe falta quase tudo!

O actual contexto aconselha a muita contenção nos custos e, sobretudo, a maior prudência nas opções, por isso mesmo eu ficaria neste desiderato pelo campo das atitudes e menos pelo das soluções materiais.

Nota prévia – gosto de seguir o ditado antigo que diz que se conselho fosse bom seria vendido e não dado! Posto isto…

Ao país falta estima – bem sei que é histórico, mas… - por isso seria muito importante adquirirmos uma outra atitude nacional: de mais reconhecimento pelos nossos próprios valores, feitos e conquistas. Há muitos a quem falta “Mundo” para compreenderem como “lá fora” nem tudo é bom e que há muito feito “cá dentro” que também é cobiçado. Por isso Pai Natal venham de lá sacos e sacos de auto-estima para Portugal.

Mas Portugal precisa também de mais ambição. Ser segundo é sempre ser o primeiro dos últimos, dizem. Concordo. Para sairmos da cepa torta temos de querer ir mais longe, de fazer melhor, de alcançar sempre mais. Não nos poderemos resignar com a mediania. Há no país muitos e bons exemplos de vencedores mundiais. Há que estudar os conceitos e replicá-los. Nas escolas, nas empresas e, sobretudo, no Estado.

Portugal precisa, acima de tudo, de definir para si um modelo que assente no mérito. Um conjunto de indicadores que ponham os portugueses em avaliação permanente e com metas mensuráveis, que uma vez atingidas devem ser objecto de premiação e de reconhecimento. Uma sociedade que não reconhece os melhores não promove a competição; uma comunidade que não é a competitiva cai no atavismo e fica-se pela mediania.

Por fim, Portugal precisa mesmo de mais sentido da responsabilidade. Sobretudo quem tem poder (dos políticos aos jornalistas, dos gestores aos juízes) deve ter consciência do real impacto que as respectivas acções e omissões geram nos outros, sejam ou não os destinatários directos.

Em Portugal pensa-se pouco no efeito decisório, só isso pode justificar a vulgaridade com que se trata o segredo de justiça, a banalização com que se fala de eleições antecipadas e a intencional destruição pública do Projecto Magalhães, por exemplo.

Enfim, se o país precisa de tudo isto (e de muito mais) imagine-se uma cidade como Coimbra, há muito um modelo de mediania e de atavismo! Votos de tudo igual ao país, mas em…dobro!

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