quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

ESTAVA ESCRITO NAS ESTRELAS...


A candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República era, há muito, uma inevitabilidade. Diria mais, desde o dia em que alcançou um resultado notável – face a todas as circunstâncias – e na sequência do crescente afastamento de Alegre do Partido Socialista (leia-se Sócrates) que estava “escrito nas estrelas” este desígnio do poeta.


Aliás, a natureza da eleição presidencial é muito clara: a candidatura é pessoal e não partidária. Em rigor, Alegre depende apenas de si mesmo e da respectiva vontade. Os apoios partidários vêm depois. Ou não…

Assim, o que se pode discutir é apenas o momento da apresentação da disponibilidade pública de Alegre para o cargo. Nunca por nunca a legitimidade do gesto.

E, mesmo quanto à oportunidade, devo dizer que Alegre está a ler bem o contexto: Cavaco Silva atingiu os níveis mínimos de popularidade; as relações entre S.Bento e Belém agudizaram-se e não dão mostras de serenar; o estado social e económico do país obrigaria a um papel mais activo do Presidente enquanto força mobilizadora e não substitutiva do governo…Isto é, há evidentes razões para se abrir (a um ano de distância) o dossier presidencial, tanto mais que Alegre precisa de tempo para se dar a conhecer.

Curiosamente (ou não) ao governo e ao PS também interessa esta desfocagem da realidade: enquanto comentadores, analistas, repórteres falarem de Alegre e das presidenciais sobra menos tempo para a crise e para o défice.

Impressiona-me, por isso, a inabilidade dos que (sendo socialistas) criticam Manuel Alegre por estar a trilhar um caminho que, nesta fase, só poderia ser seu. Sobretudo quando dentro do próprio PS não existem alternativas, nem assumidas nem veladas. Mais, ao invés de afastarem Alegre deveriam querer chamá-lo para se ouvir o que pensa do futuro.

Mas, não! Fazem tudo ao contrário…

Manuel Alegre, goste-se ou não, tem um papel na história deste país. Tem uma obra literária invejável. E no seu “adn” a marca Coimbra, pelo que desta cidade deveria partir o seu principal bloco de apoio, podendo com isso recuperar uma relevância política há muito perdida.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

DEMOCRACIA DIGITAL XXXIX


“Andar nas nuvens” vai literalmente ser uma expressão própria da internet em muito pouco tempo. Afinal de contas, a “cloud computing” é um tendência inelutável no futuro próximo com impacto tremendo na organização das empresas e das pessoas quando se pensa na Web.


Mas o que é isso da “nuvem”? É o novo modelo de acesso à informação pessoal e corporativa, que passa a estar disponível “algures” sem que tenhamos de nos preocupar em carregar o computador pessoal onde a memória concentra os nossos dados ou o servidor da empresa.

Dito de outro modo, a “nuvem” é sinónimo de agilidade e comodidade, de melhor e mais fácil e acesso e, quando pensamos em serviços públicos ou de empresas, em racionalização de custos porquanto de podem dispensar muitos investimentos em servidores.

Quem nunca se viu na contingência de não poder aceder a informação urgente por se ter

esquecido do respectivo portátil? E quando os servidores da empresa estão em manutenção?.. Enfim, este tipo de situações passam a fazer parte do passado, com o que isso significa de ganhos de eficácia e economia de tempo e de meios.

As estruturas, as plataformas tecnológicas, o próprio software e a capacidade de armazenamento (memória) passa a estar disponível fora da empresa, da nossa casa ou dos próprios serviços públicos. Pagar-se-á apenas o serviço a entidades terceiras que farão a gestão daqueles elementos. Um avanço tremendo na economia.

Obviamente, que existe ainda o cepticismo próprio do que é novidade, sobretudo apreensão quanto aos riscos de segurança e confidencialidade, porém, no “país do cartão do cidadão”, estão já desenvolvidos e no terreno diversas soluções de encriptação que salvaguardam a propriedade e a reserva dos dados. Não há que temer!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

PLANIFICAR É PRECISO!


A tragédia haitiana trouxe, lamentavelmente, para a ordem do dia diversas insuficiências globais e nacionais. Desde logo, a inexistência no Mundo de uma organização que tenha por objecto acudir (diria mesmo ajudar a prevenir) a catástrofes naturais, porquanto se percebem, nestes momentos as fraquezas das Nações Unidas e do seu modelo actual, ficando as vítimas na dependência do maior ou menor voluntarismo da dita comunidade internacional.


Por outro lado, e face ao recente semi-fracasso da Cimeira do Ambiente em Copenhaga, levantam-se as vozes científicas que estabelecem um nexo causal entre estes fenómenos e a forma irresponsável como o Homem tem gerido a sua relação com a natureza e com o tema ambiente em geral. Na dúvida, mais levar a sério os avisos sucessivos que a Terra nos tem dado e definitivamente encontrar uma política global de entendimento para a preservação ambiental e mitigação de riscos. Ora, os “senhores do Mundo” têm negligenciado este imperativo.

Finalmente, diz o povo com razão que “casa roubada, trancas na porta”, pois bem, mais vale tarde que nunca para se analisar em cada país o modelo de segurança e prevenção de riscos. Atentemos, então, no caso português.

Até agora não ouvi nenhuma opinião esclarecida que pudesse confirmar a existência de um plano estruturado para reagir em situações de crise desta natureza. Na verdade, estamos a tratar de matéria que afecta a segurança e soberania nacionais. Observe-se o caso haitiano: o país é, hoje, praticamente inexistente. Já não são apenas (como se fosse pouco!!) vidas perdidas e as consequências ao nível de saúde pública, além da ruína das estruturas que compõem um país, é o próprio Estado que pode ficar em causa.

Em Portugal, ficamos com prurido ao pensar em planificação. Aliás a nossa idiossincrasia desaconselha tal exercício, até porque sorrimos quando dizemos amiúde que somos imbatíveis na arte do improviso e que isso é uma mais-valia comparativa. Pois bem, pode até ser nalguns casos, mas na maioria não será decerto.

Há dias escutei com muita atenção um conhecido falar sobre como seria fatídico um episódio como o do Haiti caso ocorresse em Portugal. E, sublinho, não estamos imunes até porque há regiões reconhecidamente de elevado risco sísmico! Dizia, então, com detalhe, o tal especialista que Lisboa – onde está a maior massa populacional concentrada – ficaria totalmente isolada com o que isso pode significar em termos de perdas e danos humanos e materiais.

Confesso, fiquei apreensivo com o que ouvi e, realmente, decorridos todos estes dias desde a desgraça em Port-au-Prince ainda ninguém nos veio explicar que Câmaras Municipais, Escolas, Universidades, Hospitais e o restante país em geral estão preparados para evitar, reagir ou mitigar os riscos ou efeitos de uma situação análoga. E isto é factor de séria preocupação!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

DO ESSENCIAL AO ACESSÓRIO


Antes de mais, é triste um país em que se discute, durante meses a fio, a avaliação dos professores, enquanto tema nuclear da educação. Ser avaliado deveria ser uma premissa pacífica para quem faz da sua vida avaliar, mas, infelizmente, não é assim!..

O país tem consumido – desnecessariamente - tempo e energia em demasia com greves, reuniões abortadas, reclamações e instabilidade lectiva.

Seria porventura muito mais importante o país parar para reflectir que modelos educativos deseja: por exemplo, um em que várias disciplinas fossem leccionadas em língua estrangeira (inglês em especial); outro em que a matemática e a história passariam a ser obrigatórias para todos nos 12 anos de escolaridade obrigatória; ou, ainda, um em que se valorizasse na formação do estudante as actividades extra-curriculares, o envolvimento na comunidade e a disponibilidade para o voluntariado. Sem esquecer o uso das novas tecnologias enquanto ferramentas incontornáveis de ensino, aqueles temas são verdadeiramente o que interessaria ter em cima da mesa. Mas não é assim…
Uma escola de futuro é um espaço crescentemente integrado no meio em que se encontra, em particular com uma relação directa com o mercado de trabalho. Não é aceitável que apenas na Universidade se criem gabinetes de saídas profissionais nem tão pouco que apenas aí se organizem feiras voltadas para o mundo do trabalho. Esse é um processo que deve começar inexoravelmente mais cedo. Quanto mais cedo melhor.
Até aqui, em Portugal, regra geral, às reformas sucederam-se as contra-reformas propostas pelos diferentes partidos e neste vai-e-vem acabou por se perder muita oportunidade de mudar a sério. A estratégia de varrer para debaixo do tapete – não se muda no secundário esperando que tudo se faça no superior – tem dado maus resultados. Basta atentarmos nos indicadores internacionais…
Enfim, em Portugal, quando se fala em educação valoriza-se demasiado o acessório escondendo o que é realmente essencial.
A nova relação alcançada entre professores e governo é louvável, como todos os acordos profissionais, porém esconde algo muito mais importante que tem sobretudo a ver com a escola do futuro. A tal escola do “Magalhães”. E isso não se pode construir sem os professores. Eles sabem disso. Abusam disso!
Ao menos que deste processo possa resultar como adquirida a virtude da avaliação, independentemente do sector (público ou privado) e classe profissional. Um país pouco exigente consigo mesmo teme a avaliação e, a final, a mediocridade grassa!

domingo, 10 de janeiro de 2010

DEMOCRACIA DIGITAL XXXVIII


Enquanto governos e municípios tendem a criar novos pontos gratuitos de acesso à internet – pensemos nos “hot spots” em jardins, praças, repartições públicas, … - promovendo assim a utilização de novas tecnologias e a partilha máxima de informação, fazendo do acesso um direito e até um serviço público; ao invés, o sector hoteleiro contraria a tendência cobrando por vezes valores pornográficos por algo que considera “um luxo”.


Naturalmente, a opção dos gestores hoteleiros é legítima – apesar de duvidosa rentabilidade - porém fará pouco sentido nos dias que correm. Viajantes frequentes e jovens fazem cada vez mais as respectivas escolhas em função da oferta do serviço de acesso à net, pelo que fazer disto um privilégio é contrariar não só um movimento natural como afastar fluxos de potenciais clientes. No meu caso, faço disto um factor de selecção!

De igual modo, nunca percebi o racional de cobrar montantes exorbitantes por minuto na telefonia fixa, quando hoje toda a gente tem telemóvel e os operadores até oferecem as chamadas em alguns períodos do dia. Não fora a necessidade de contactar a recepção…

Convenhamos, num país que tem no turismo um dos seus sectores mais estratégicos e com maior potencial de crescimento por mais programas tipo “Allgarve” que se façam é nos pequenos detalhes que se marca a diferença. A percepção do cliente e a qualidade do serviço prestado podem ajudar a crescer ou…a desaparecer. E a internet pode ser determinante!
Publicado no Jornal OJE

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

ERROS DE CASTING


Um amigo costuma dizer que “uma bananeira não pode dar laranjas”. É bem verdade! Serve a imagem para descrever que há perfis dos quais não poderemos esperar resultados ou performances, apesar de muito o desejarmos. Ora, na vida política – nacional e local - isso sucede amiúde…

Cavaco Silva é, manifestamente, um erro de casting. Não por que não tenha qualidades para o cargo, mas, sobretudo, porque tem mais virtudes para um outro cargo que já exerceu e que gostaria de voltar a desempenhar. Mas o tempo não volta atrás e os ditos cargos podem ser (e são-no tantas vezes) conflituantes!

Belém foi para Cavaco Silva, essencialmente, uma aventura imposta por amigos e conselheiros (interesses difusos…conforme se tem provado), ou seja, a sua circunstância, recordando Ortega y Gasset, mais do que a sua idiossincrasia e vontade individual. Por tudo isso, o resultado não poderia ser grande coisa…

Apesar de tudo (e sem retirar uma vírgula acima), sou dos que, confesso, acho que na primeira parte do mandato, Cavaco Silva acertou no modo e no tempo de exercer a respectiva magistratura de influência. Aliás, o ambiente de “beijo-na-boca” que então se viveu entre Belém e São Bento é disso a prova contundente: deixou governar e influenciou q.b. numa óptica de cooperação estratégica, como teve oportunidade de qualificar a dita relação institucional.

Historicamente, os problemas de relacionamento entre o Presidente e o Primeiro-Ministro, os actuais ou os anteriores, tiveram regra-geral origem em Belém e na tentação para extravasar os respectivos poderes. Quando o Presidente quer governar o caldo entorna-se!

Ora, Cavaco durante os primeiros anos – longe ainda do ambiente eleitoral – teve a clarividência de se afastar do que mais aprecia: intervir e executar, em suma, governar. Porém, o ciclo eleitoral de 2009 associado à fragilidade política da Amiga Manuela e o aproximar no horizonte das presidenciais foram introduzindo as variáveis necessárias para alterar por completo o equilíbrio de forças entre Cavaco e Sócrates. Cavaco ficou até toldado, conforme comprova o lastimável episódio das escutas, até hoje não devidamente esclarecido!

Nesta época natalícia, aquilo que seria mais uma mensagem de paz e de esperança do Presidente da República rapidamente se transformou numa declaração política com múltiplas interpretações e significados, alimentando os mentideros, as colunas e os opinadores políticos nacionais.

Não percebo porquê!? Cavaco já está em campanha eleitoral e, pela primeira vez na história, parte para uma possível reeleição sem a mesma garantida à partida. Facto inusitado. Mais, tem à esquerda um candidato muito forte (Alegre) e de perfil absolutamente oposto, logo tem que marcar terreno e fazer o “homem-a-homem” a Sócrates. Uma vez mais vai querer “governar”…

O grave de tudo isto é que os portugueses não entendem e têm razão: o país não se compadece com mais jogos de sombras e de bastidores…Talvez não voltem a repetir os erros de casting.