quinta-feira, 20 de outubro de 2011

PUTAS AO PODER...


...que os filhos já lá estão. Recordo ler, há muito, esta expressão em muros urbanos numa apologia anárquica que sei não ser a solução de coisa nenhuma.

Atualmente, voltaram a pintar a frase, porque são tempos estranhos estes que se vivem em Portugal. A leitura diária de informação adensa a ideia de que é cada vez mais um país adiado. Fica a sensação de que se enganaram gerações, sobretudo aquelas que irão agora pagar a fatura do regabofe.

Mas levantam-se algumas questões: os sacrifícios apresentados são necessários? E têm de ter tal dimensão e gravidade? Não haveria outros caminhos possíveis? A perda de tanta esperança é feita em nome do quê?..

Como exemplo: suspender os subsídios de natal e férias dos funcionários públicos é não apenas um golpe em direitos fundamentais (o que por si só já é grave) mas representa, acima de tudo, a redução acrescida do consumo e com isso da dinâmica económica do país. Menos renda disponível, menos consumo, menos investimento e mais desemprego. Esta fórmula é conhecida de todos.

Assuim sendo, não seria preferível avançar de vez com uma profunda reforma administrativa do país em que se acabassem alguns municípios e se fundissem outros? Em que se extinguissem organismos públicos regionais desnecessários ou nacionais redundantes? Com certeza que tamanha mudança, necessária aliás há muito, não representaria nem a violação da constituição nem o sacricífio nacional consubstanciados nas perdas dos subsídios de natal e de férias.

Mas há mais. Não estamos ainda preparados para fazer como a Islândia que debateu a revisão constitucional nas redes sociais, mas podemos com certeza reduzir o número de deputados (manifestamente exagerado face aos tempos que correm) sem ferir a proporcionalidade necessária. Aliás, aproveitar-se-ia e mudava-se a lei eleitoral, criando círculos uninominais em que 80 deputados seriam com certeza suficientes para fazer as vezes dos atuais 230...

Enfim, a crise também é propícia a exageros e a julgamentos sumários. Diariamente recebemos muita informação que é deturpada e injusta relativamente a alguns. Porém, uma coisa é certa, ou a classe política portuguesa abre os olhos e decide reformar o país com proporcionalidade e adequação ou o poder das ruas (tantas vezes demagógico) substituirá sem medida os políticos. Os maus e os bons...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

É PRECISO TER LATA!



No Brasil, FIFA e Governo iniciaram, a propósito da organização do Mundial de 2014, um “braço de ferro” que sabemos como e porque começou mas ninguém pode, hoje, dizer como vai terminar.

A arrogante FIFA habituada que está a impôr as suas regras junto de governos e estados vê-se agora em dificuldades perante a determinação dos brasileiros em não vergar nalgumas medidas simbólicas. Por exemplo, os idosos e estudantes pagariam apenas meia-entrada, à luz do que está previsto em legislação federal e estadual e habitualmente acontece em espetáculos artísticos e desportivos neste país.

É bom recordar que a FIFA é um ente privado cuja influência e poder desproporcionados não são sindicados por ninguém. Acresce que acima da FIFA – das respetivas práticas e regulamentos – estão as leis nacionais e em especial a constituição, que prevê inderrogáveis direitos sociais. Os senhores da FIFA fazem da lei letra morta e querem impor a sua vontade, ameaçando deslocar o evento para outro país. Veremos, pois, até chega a desfaçatez de Joseph Blatter e companhia!

Recordemos ainda que, por conta de investimentos feitos com dinheiro público (nos estádios, nos aeroportos, nas rodovias,...), a FIFA acumula milhões em lucros privados. Nos últimos quatro anos (com o campeonato da África do Sul incluído) a FIFA teve receitas de 4,190 biliões de dólares – sim isso mesmo! – com acordos comerciais e só em 2010 o lucro da FIFA foi de 202 milhões de dólares, sendo que as reservas económicas passaram para 1,2 biliões. E perante isto ainda se arrogam no direito de querer afastar a possibilidade (legalmente prevista) de idosos e estudantes pagarem meia-entrada?!.. Ora, é preciso ter muita lata!

Coisa distinta seria ter na FIFA um parceiro para o desenvolvimento social, afetando por exemplo uma percentagem dos lucros obtidos a projetos na Educação dos países organizadores dos Mundiais. Isso sim daria da FIFA uma imagem respeitável e prestigiaria o futebol como atividade sócio-económica relevante.

domingo, 9 de outubro de 2011

INTELIGÊNCIA POLÍTICA



Assim começa a carta enviada pela Presidente Dilma Roussef ao ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC): “em seus 80 anos há muitas características do senhor FHC a homenagear. O acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.”

Não há dúvidas sobre o elogio público. Não resta qualquer incerteza sobre o reconhecimento da paternidade de algumas medidas que ajudaram a colocar hoje o Brasil como uma das potências mundiais. Dilma marcou a diferença.

Esta mensagem é um dos sinais mais inteligentes na política brasileira dos últimos anos. Aliás, caracteriza bem o estilo da atual Presidente. Senão vejamos: durante os dois mandatos de Lula, o PT e o ex-Presidente –sindicalista insistiram sempre em criticar quem os antecedeu e sobretudo os programas políticos que obviamente ajudaram a colocar o Brasil “nos eixos” económica e financeiramente. Dilma decidiu pautar-se pela elevação e pela diferença.

Ora, faz falta esta inteligência em política! Faz falta saber ver mais longe. Faz falta reconhecer os méritos alheios. Faz falta compreender que nem tudo é mau.

Dilma de uma assentada deu uma lição ao seu próprio partido e ao principal partido da oposição- curiosamente o de FHC – elogiando as capacidades e as conquistas do ex-Presidente conseguiu por a nú e desvalorizar os advsersários internos e os que pretendem apresentar-se como seus opositores. Todos compreenderam: desde os destinatários ao povo!..

Ao ler esta carta lembrei-me de como faltam na política portuguesa sinais de inteligência como este! Afinal de contas, quem chega é incapaz de reconhecer os méritos de quem sai. De dar continuidade a muito do que está bem. A tendência é querer marcar um estilo disruptivo, criticando tudo e todos. No fim, essa estratégia não colhe. E a abstenção aumenta!...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O FRUTO PROIBIDO



Sobre a morte do co-fundador da Apple, disse Bill Gates (Microsoft): “o mundo raramente testemunha alguém que teve o impacto profundo de Jobs e os efeitos disso serão sentidos por muitas gerações”.

Independentemente da competição tecnológica e das guerras por “market share”, Steve Jobs (assim como Gates) figura entre os poucos seres humanos cuja criatividade e iniciativa ajudou a transformar o mundo e a vida de muitos milhões de outras pessoas.

Vivemos, hoje, na economia do conhecimento, onde a tecnologia e a inovação são elementos chave para o desenvolvimento individual e coletivo. A Apple (tal como a Microsoft, a Google, o Facebook, por exemplo) investiu seriamente na capacidade criativa e por isso desenvolveu produtos e serviços que ajudaram a mudar das coisas mais simples do nosso dia-a-dia às tarefas profissionais e empresariais mais exigentes.

A perda de Jobs deve servir para estimular novos talentos a um dia assumirem o seu lugar. Para isso devem os governos investir em educação, sobretudo em tempo de crise. Por outro lado, caso a propriedade intelectual não fosse protegida dificilmente a Apple (e as já mencionadas acima) poderia investir tantos recursos em inovação. As tendências de “inovação aberta” são interessantes mas perigosas e não substituem de todo a necessária proteção da propriedade intelectual.

Jobs e a Apple (reconhecidamente uma das empresas mais fechadas e menos interoperáveis) nunca teriam sido o que são - para mal do Mundo inovador – caso as suas patentes não estivessem legalmente protegidas. Ou alguém duvida?..

Enfim, tal como no imaginário coletivo em que a maçã aparece como o fruto proibido associado a desejos incontáveis, também Jobs conseguiu transformar a Apple num mundo de sensações e disrupções tecnológicas incríveis, por isso ele não tinha consumidores mas antes seguidores.