terça-feira, 27 de outubro de 2009

GOVERNO NOVO, VIDA NOVA!

Os comunistas costumam dizer a propósito de remodelações que as mesmas são irrelevantes, pois em grande medida o que interessa são as políticas e não as pessoas ou os protagonistas. Ora, seguirei à risca este comentário, que se transformou num jargão, para qualificar o actual governo, que acaba de tomar posse.

Falarei, então, das políticas e não das pessoas.

O maior desafio de Sócrates & Companhia é, obviamente, gerar emprego, que permita, por um lado, diminuir drasticamente os números do desemprego e, mais, criar uma massa de trabalhadores crescentemente qualificados. Só assim a economia nacional poderá desenvolver-se e o país ser mais competitivo.

A questão essencial é perceber em que sectores de actividade se poderão gerar oportunidades de emprego. Isto, no fundo, implica que se compreenda qual o rumo que se pretende para o país, quais as áreas estratégicas: turismo, energia, saúde, cultura,…? Quais? Todas ou apenas algumas?..

Posto isto, a segunda prioridade é criar definitivamente mecanismos para a internacionalização das nossas empresas. Para o efeito o governo deve internamente colocar esta prioridade na agenda não apenas do Ministério da Economia, mas sobretudo dos Negócios Estrangeiros. Uma diplomacia económica a sério, feita por diplomatas mas também por quem não abusa dos “punhos de renda”e sabe como colocar no radar internacional os nossos produtos e serviços.

Neste domínio está tudo por fazer, não obstante o esforço efectivo (sobretudo voluntarista e pessoal) do Primeiro-Ministro na anterior legislatura, mas que depois não era acompanhado…
Este desiderato implica, forçosamente, a revisão de sistemas de incentivos públicos e de fiscalidade, sobretudo em áreas onde manifestamente já somos competitivos e inovadores ou teremos de passar a ser. Tratar tudo por igual é meio caminho andado para perdermos foco, tempo e oportunidades.

Finalmente, creio, que a questão do “aging” (envelhecimento da população) e, reciprocamente, da baixa natalidade deveriam ser claras apostas políticas.

Senão vejamos: há muitos milhares de portugueses reformados, que poderiam dar o seu contributo cívico e social, desde que criados programas públicos para o efeito. Gente que vai envelhecendo por ociosidade… e que estaria disponível para ajudar o país e os outros. Criar, em suma, riqueza social!

Importa, por outro lado, sublinhar que existem, neste domínio, inúmeras oportunidades de negócio, essencialmente, se levarmos em linha de conta os potenciais consumidores que representam milhões de reformados do norte da Europa que sonham com o nosso sol e praia!..

Quanto à baixa de natalidade, apesar dos esforços feitos com a nova prestação de apoio à gravidez e com o aumento do abono de família, a verdade é que as famílias elegíveis deveriam ser muitas mais. A classe média em Portugal é uma banda muito larga e, infelizmente, por vezes são considerados ricos sem o serem.

Assim, deveria haver um forte impulso e apoio financeiro para o 3º filho, que, tal como na Austrália, garante a manutenção/reprodução ou reposição da população e, obviamente, um sistema de incentivos fortes às empresas para a criação de creches e actividades extra-curriculares, que complemente o sistema público, sobretudo dirigido às camadas mais desprotegidas.

domingo, 25 de outubro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXXI


Começou um novo ciclo político no país, eis porque é oportuno falar em novos desafios para a estratégia nacional de digitalização.


Depois do “e-escola”, do “Novas Oportunidades” e do “e-escolinha” (Magalhães) resta-nos a população portuguesa mais envelhecida, cujos níveis de info-exclusão são ainda evidentes.


Ora, pois, uma oportunidade política! Desde logo, para reforço da credibilidade do governo estendendo à população mais envelhecida instrumentos de inclusão por via da formação e da literacia digital. Tal significaria consistência estratégica visto que dá a noção de plano integrado de acção governativa e não um conjunto de iniciativas dispersas no tempo e no espaço com uma lógica mais táctica e/ou até eleitoralista.


A população mais envelhecida, designadamente os reformados, poderiam contribuir mais activamente em vários domínios através da respectiva inclusão digital e seria uma oportunidade única de os relacionar com o modelo formativo criado para o “e-escolinhas” e “e-escolas” numa aposta transgeracional.

O “saber fazer” dos mais velhos aliar-se-ia à vocação digital dos mais novos numa experiência “win-win” singular, com ganhos evidentes para o país do ponto de vista social, cultural e até económico.

O fechar do ciclo com um programa tipo “e-senior” permitira dar rosto ao processo de aprendizagem ao longo da vida, hoje comprovado como decisivo nas sociedades mais envelhecidas como a europeia.

Envolver neste desiderato “Big Bet” multi-ministério vários parceiros privados e públicos é a chave do sucesso, donde se aproveitaria a rede já existente de Universidades Séniores, do INATEL, de Fundações e de IPSS para fazer de Portugal o 1º país do Mundo a adoptar esta solução de info-inclusão global.


Publicado no Jornal OJE

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

POR QUE CAEM COMO TORDOS NA FRANCE TELECOM?...

Em 1935, já com Salazar no poder, é criada a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT), designação típica de regimes fascistas. De igual modo, aliás, o lema nazi colocado à entrada dos malfadados campos de concentração era “Arbeit macht frei”, ou seja, “o trabalho liberta”. Em síntese, a ideia de que o trabalho dá saúde e faz crescer já vem detrás…

Todavia, os tempos modernos trazem situações estranhas e absurdas para os modelos actuais. Veja-se o exemplo da France Telecom, onde se verificaram 20 suicídios nos últimos 18 meses! Tomam comprimidos, enforcam-se, saltam das janelas,… servem todos os meios para por fim à vida. Enfim, o caso tornou-se um problema nacional levando mesmo à intervenção do governo.

Felizmente, a minha experiência pessoal é totalmente distinta. Trabalho numa das maiores empresas do Mundo e que, no caso português, é considerada há quatro anos consecutivos “A melhor empresa para trabalhar” por entidades externas e independentes. Um caso oposto, portanto, ao que descrevi acima.

Na verdade, a maioria das empresas ainda não procede actualmente a um exercício de introspecção para avaliar da respectiva “saúde” na visão dos colaboradores, conduzindo muitas vezes a: desconhecimento profundo do quotidiano laboral; adopção de práticas de gestão desfasadas do necessário; imposição de regulamentos internos draconianos que estão longe de ser eficazes, etc etc.

Nas empresas cujo “scorecard” de gestão prevê precisamente a avaliação interna e mecanismos de participação de todos na construção de um ambiente de trabalho saudável – de que a Microsoft é um excelente exemplo - rapidamente se percebe que a melhor empresa é aquela que nos realiza enquanto pessoas – que somos antes de colaboradores – e percepcionamos como uma extensão do nosso ambiente natural e familiar. Fazer dos colaboradores pessoas diferentes do que são na verdade só trará maus resultados.

Pois bem, o melhor modelo já existe, longe de ser o ideal que está sempre em construção, porquê insistir em práticas antigas?.. E isto serve para o sector privado e, em especial, para o público.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXX


O Magalhães foi uma pedrada no charco no mundo educativo. É inquestionável a mais-valia e o potencial desta ferramenta tecnológica. Depois do ano de lançamento nas escolas portuguesas é tempo de aprofundar o conceito educativo que lhe está subjacente: modernizar o modelo de aprendizagem usando as novas tecnologias.

O Magalhães é apenas uma plataforma sobre a qual se podem integrar um sem-número de soluções, serviços e produtos tecnológicos, visando as mais modernas técnicas pedagógicas.
Imaginar que o telemóvel – até aqui proibido e associado à indisciplina na sala de aula – pode ser um instrumento de aprendizagem importante, assim como leitor de MP3 ou a própria consola, parece-me um ganho ao alcance de todos, basta para tanto definir uma nova estratégia educativa.

São muitos os estudos que confirmam o desinteresse dos estudantes pelas matérias escolares e pelo período que passam na escola, todavia os mesmos inquiridos são muitas vezes geniais no modo como usam os adereços típicos do seu tempo, obtendo por essa via algum conhecimento e saber. Ora, importa pois perceber que a escola da modernidade – a Escola do Magalhães – deve construir-se com o maior número de ferramentas tecnológicas e com um novo modelo de aprendizagem que vá ao encontro do estilo de vida das gerações digitais. De outro modo, o fosso será crescente e os professores (por muito qualificados que sejam) jamais conseguirão combater a atracção do smartphones, das consolas ou dos leitores de MP3.

Retive um exemplo que li: no Japão, alunos de uma escola secundária criaram uma novela através de SMS. Ou seja, fruto do esforço criativo e colaborativo de vários estudantes gerou-se uma obra. Os professores confirmaram que os mesmos alunos jamais produziriam tal resultado segundo o modelo clássico: lápis e papel numa aula de 60 min.

Dá que pensar!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

UMA QUESTÃO DE COERÊNCIA!

Numa empresa, quando os resultados financeiros não são satisfatórios há, regra geral, duas consequências: os gestores colocam os seus lugares à disposição ou os accionistas convidam novos timoneiros. Sem mais.

Numa equipa de futebol, quando as vitórias não surgem ao treinador resta pouco tempo de “vida” profissional. A muito breve trecho será afastado pela direcção ou, o próprio, abandona de mote próprio o respectivo lugar.

Nas companhias modernas, altamente competitivas e com sistemas internos de avaliação muito exigentes (mas naturalmente compensatórios), os colaboradores que não atingem patamares mínimos de compromisso são convidados a sair e a procurar vida nova noutro local.

Enfim, os exemplos podem suceder-se e são infindáveis nos mais diversos sectores de actividade, tendo sempre presente que a competitividade, a excelência e o brio são os objectivos máximos a atingir.

Até aqui alguma novidade? Algum espanto? Não, sinceramente, julgo serem os critérios adequados para uma convivência saudável, séria e justa. E só assim se conseguem atingir os melhores resultados!

Ora, a primeira pergunta é: por que motivo na política estes padrões de qualidade e de exigência se não conseguem impor? Ou seja, por que razão nas ressacas eleitorais todos, ridiculamente, invocam a vitória para assim justificar a respectiva existência e manutenção de “status quo”?..

É absurdo que quem não consegue durante ciclos sucessivos alcançar resultados positivos se mantenha a dirigir organizações, como se as derrotas fossem pormenores sem relevância e que outras alternativas não existissem.

Por estas e por outras a vida política e a participação partidária são cada vez menos apelativas, porquanto as regras parecem – sem razão aparente! – mudar relativamente ao que se passa nas empresas, nos bancos das universidades ou na vida em geral.

Mas, mais perverso ainda, é observar o que alguns conseguem fazer: transformar as vitórias dos outros nas suas e as suas derrotas nas responsabilidades de outros.

Por exemplo, arrogar-se como sendo sua a vitória de um candidato a uma câmara para a qual em nada se contribuiu (ou até quem sabe se destruiu…) é de uma desfaçatez tremenda. Tão grave quanto limpar-se a água do capote numa derrota de um candidato que foi exclusivamente imposto por si!

Mas, claro, tudo isto é uma questão de coerência!..

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XXIX


Hoje, discute-se, um pouco por todo o mundo da relação entre a produtividade – ou a falta dela – e o acesso às redes sociais ou à caixa de correio no espaço laboral.

Ora, em Portugal, é no mínimo bizarro o debate, pois a ausência de produtividade é um tema crónico e muito anterior à existência de redes sociais ou da internet. Todavia, importa distinguir claramente entre consultar o “mail” e actualizar o Facebook. Na maioria dos casos, sobretudo no sector das novas tecnologias, o primeiro é uma ferramenta indispensável de trabalho, podendo as redes sociais sê-lo também.
Apesar de existirem estudos para todos os gostos, a verdade é que há muitas empresas onde o acesso à internet e às redes sociais é livre – ou até mesmo estimulado profissionalmente, porque fomenta o network, promove a cultura da empresa ou mesmo os respectivos produtos/serviços – e os níveis de produtividade laboral são nestes casos muito elevados.
No meu entender, deve imperar o bom-senso e a auto-regulação individual. Aliás, políticas muito restritivas nas empresas, nas administrações públicas ou noutras instituições não garante que não existam fugas e danos.
O conceito de “democratização da intimidade”, introduzido pela antropóloga Stefana Broadbent, associado às redes sociais é interessante, todavia, na internet como fora dela, deve reger-se pelas mesmas regras: sensatez, cautela e proporcionalidade.
De igual modo, o smartphone, o computador e net são extensões naturais da actual geração de “digital natives”. Retirar-lhes esses elementos seria amputá-los na sua identidade. O resultado seria desastroso, mais importante é alertar para os riscos de um uso impudente ou excessivo. A pedagogia, aqui como em tudo, nunca é demais.

O VOTO NAS PESSOAS OU NOS PARTIDOS?..

Nas eleições autárquicas os representantes estão (supostamente) mais próximos do povo, logo tal facto facilitará a percepção pública da obra feita e, consequentemente, da avaliação a fazer. Regra geral, a abstenção é mais baixa e os movimentos de cidadãos independentes mobilizam vontades tantas vezes adormecidas. Em suma, a motivação para uma participação política mais activa e responsável é (teoricamente) maior.

Diria mesmo, que o grau de maturidade democrática de uma sociedade afere-se por diversos indicadores, sendo que a capacidade de distinguir o essencial do acessório é, a meu ver, um dos mais importantes. Por isso mesmo, queria acreditar (significa que ainda não acontece) que os cidadãos votam nos melhores candidatos independentemente da sua matriz partidária.

Achar que, hoje em dia, o sentido do voto é definido pela qualidade intrínseca dos candidatos mais do que pela coloração partidária é pura ingenuidade. Infelizmente!

Isto, dito assim, é sinónimo de que nem sempre ganham os melhores protagonistas, as melhores ideias e os projectos mais sólidos. É a democracia a funcionar, dir-se-á, pois é, mas não imune a críticas, pois vão-se perdendo activos importantes. Então nas eleições autárquicas, há gente que tantas vezes decide sair da sua zona de conforto para se expor e, depois, confrontados com escolhas pouco racionais acaba desiludida e não mais volta. Para estes o sistema raramente guarda lugar. Conheço uns tantos casos…

Ora, a verdade é que a “partidocracia” acaba por prevalecer, apesar dos avanços legislativos, e tantas vezes a cruzinha é mobilizada pelo símbolo partidário mais que pelo rosto e ideias dos protagonistas.

Há exemplos para todos os gostos: desde os caciques locais que, mesmo mudando de partido, acabam por vencer (dispenso-me enumerar as razões), vejam-se os exemplos de Isaltino e de Valentim até aos candidatos que mudando de partido acabam perdendo as eleições, pois a percepção negativa da mudança de camisola é mais forte que os atributos dos próprios. Não há pois um critério uniforme, nem acredito que seja possível estabelecer um modelo científico de análise.

Já aqui escrevi, num passado recente, que, por exemplo, Coimbra precisaria, neste momento particularmente crítico, de um choque de ânimo, de energia e de criatividade promovido por gente suprapartidária, com diversas proveniências ideológicas. Ora isso não sucedeu e, observando as sondagens existentes somos levados a concluir que tudo ficará na mesma. Será, pois, compreensível que perante tanta omissão, inacção e letargia o povo queira continuar a escolher os mesmos?.. Ora, a escolha é indubitavelmente legítima, mas não corresponde à necessidade deste tempo. Estamos ainda longe do ideal.

O sempre polémico Nietzche defendeu que «um político divide o ser humano em duas classes: instrumentos e inimigos». Fico, assim, com curiosidade sobre como definiria o filósofo a divisão feita pelo eleitor do político.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL XVIII

Nos últimos meses têm sido muitas as surpresas nas redes sociais onde habitualmente me insiro: informação a rodos; a adesão inesperada de muita gente; o reencontro de amigos de longa data; a percepção da importância que os políticos dão à “coisa” e discussões vivas e espontâneas sobre os mais diversos temas.

Não é por isso, para mim, novidade o que um estudo recente da consultora Nielsen vem confirmar: o tempo que os norte-americanos dedicam às redes sociais e blogues triplicou no espaço de um ano, equivalendo, assim, já a 17% do tempo global de navegação na net. Impressionante este pulo exponencial!

Isto significa também que há uma nova massa de utilizadores – que não apenas os “early adopters” e “digital natives” – que é transversal aos diversos grupos sócio-económicos e etários, dando volume ao tráfego relativo às redes sociais e retirando-os dos meios tradicionais (designadamente a TV). Quantos de nós não ficámos já surpreendidos por ver “seniores” ou gente supostamente excluída da net a pedir-nos que aceitássemos a respectiva adesão à rede?..

Ainda de acordo com aquele estudo, em algumas áreas, o investimento em redes sociais e blogues é particularmente forte: entretenimento (812% de aumento face a 40% de crescimento do investimento total on-line); viagens (364% de aumento face a 11% de diminuição do investimento total na rede); serviços financeiros (98% de aumento face a 11% diminuição do total on- line)…

Não por acaso as empresas observam, crescentemente, as redes sociais como espaços comerciais por excelência, sendo que nem todas têm adoptado a melhor estratégia, que aqui significa desde logo a menos intrusiva possível. Mas, a prova de que há um novo mercado em afirmação é que, pela 1ª vez no Reino Unido, os investimentos publicitários na net foram superiores aos da TV.

Este é o caminho!

Publicado no Jornal OJE