Séneca escreveu que “não estudamos para a vida, mas para a escola”. É, pois, bem verdade. A aprendizagem real começa sempre com os primeiros passos profissionais e com as inerentes vicissitudes…
Mutatis mutandis, a comparação pode ser feita com os programas eleitorais, que os partidos se esmeram em apresentar, com resmas de folhas e um sem número de ideias. Correndo o risco de ofender a memória de Séneca, poder-se-ia dizer que “os programas não são para o país, mas para as eleições”.
Quantas vezes ao longo da nossa história democrática encontrámos propostas programáticas que nunca chegaram a sair do papel?.. Muitas delas nem tão pouco mereceram registo no programa debatido e aprovado em sede parlamentar. De igual modo, quantas vezes observámos medidas que quando propostas “enchem o olho” – sendo esse o objectivo! – e depois nunca se executam?.. Quantas vezes as ideias apresentadas em período eleitoral se demonstram inexequíveis quando se conhece o verdadeiro “estado da arte”?..
Enfim, os programas eleitorais fazem parte do ritual democrático. Impõe-se a sua existência, mas a pertinência e concretização efectiva são cada vez mais duvidosas.
Talvez por isso valha a pena repensar o modo como são construídas essas propostas, tantas vezes em círculo fechado outras tantas com recurso a descartáveis contribuintes que no “day-after” ninguém mais contacta…
As novas tecnologias oferecem mecanismos simples, mas efectivos para discussões em larga-escala, que permitam gerar ideias participadas e por isso mesmo mobilizadoras o mais possível.
Por outro lado, repare-se: existe um profundo aproveitamento político nos programas eleitorais.
São armas de arremesso! O programa do PSD é um bom exemplo disso, porquanto aproveita os sectores onde existe maior descontentamento com o PS (professores, agentes judiciários,…) para propor apenas a desconstrução do que foi feito. Em suma, rasgar, apagar, suspender para assim satisfazer sem mais interesses corporativos. Ora, o sentido da responsabilidade implicaria que após a negação viesse a afirmação do que pretendem propor como alternativo. Tal não é feito!
Sem prejuízo dos programas eleitorais, que vistos à lupa permitem, apesar de tudo, distinguir os partidos, o que estará em causa é sobretudo a capacidade realizadora. Para isso importa atentar nas experiências vividas e, nesse particular, a tarefa não é difícil: basta comparar os perfis de Sócrates e Manuela Ferreira Leite.
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