sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

ARRISCAR PRECISA-SE!


Por estes dias, li num site brasileiro de empreendedorismo a história de uma jovem paulista de 23 anos, com um currículo impressionante, que formada na melhor escola do Mundo de tecnologia – o Massachusetts Institute of Technology– depois de trabalhar no Google e na Microsoft decidira sair para montar o seu próprio negócio.

O que faz alguém tão jovem dispensar a notoriedade e a estrutura dos gigantes tecnológicos Google e Microsoft para se lançar por si no mercado? As respostas para esta questão ajudam a compreender em parte o mundo atual e, sobretudo, a meu ver, podem auxiliar na saída para a crise de um país como Portugal.

O Mundo global da Internet não tem fronteiras, é sabido. Mais, hoje há soluções tecnológicas que a baixos custos permitem começar um negócio rapidamente e vender para os quatros cantos do mundo. Ideia impensável há uns anos. Afinal, o mais importante é a ideia e o modelo de negócio.

A Isabel Mattos, a tal jovem brasileira, pensou num aplicativo gratuito (sublinhe-se) que ajuda a gerir as finanças pessoais. É uma espécie de folha de cálculo organizada e disponível de forma simples em todo o lado, do telemóvel ao computador. No primeiro mês teve 400.000 “downloads” e neste momento já emprega 18 pessoas. Impressionante!

São inúmeras as histórias que diariamente se conhecem deste tipo, sobretudo nos Estados Unidos, mas um pouco também nos países emergentes. Ou seja, há um espírito empreendedor em marcha, um gosto pelo risco que é premiado e não recriminado, um papel estimulante da universidade e o prazer da auto-regulação individual.

A transposiçao para Portugal é óbvia: temos de ter uma ideia de país, um desígnio nacional e, depois, um modelo de desenvolvimento/governação. Neste momento faltam-nos os dois. Honra seja feita ao governo de Sócrates que tinha, pelo menos, o primeiro: um país de tecnologia e de energias renováveis para o Mundo.

Portugal tem um potencial humano imenso, uma posição geográfica privilegiada, uma relação histórica ímpar com o Mundo e vários casos de sucesso que comprovam que vale a pena arriscar. Há por aqui muita “Isabel Mattos” em potência!

Que o novo ano nos traga mais estímulo e boa energia!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

COISAS DA DEMOCRACIA...


1.O “Economist Intelligence Unit” elabora anualmente um “Índice da Democracia”. Portugal – assim como outros países europeus, entre os quais a França, a Itália e a Grécia – desceu no ranking, sendo que foram apontadas diversas falhas ao nosso sistema democrático. Portugal não é mais uma “democracia plena” (na expressão daquela entidade), mas apenas uma “democracia com falhas”.

Os critérios de avaliação abordam o processo eleitoral e pluralismo, o funcionamento do Governo, a participação política, a cultura política e as liberdades cívicas. Os piores resultados são nas categorias de funcionamento do governo e de participação política.

É uma má notícia para o governo. É sabido que, em Portugal, a administração pública e os ministérios podem melhorar a perfomance, assim como serem criados novos e melhores programas para a participação cívica e política dos cidadãos. Desde logo a revisão da lei eleitoral e a reforma no funcionamento dos partidos.

Agora, é interessante reter o seguinte: com a crise a soberania nacional diluiu-se muito, ou seja, percebemos que depende muito pouco de cada país resolver os seus próprios problemas; porém – piorando a coisa – observámos ainda que não existe uma entidade europeia que congregue esforços para uma superação comum dos efeitos da atual crise.

Há, hoje, uma sensação de perda e de insegurança. A dita identidade europeia é um conceito mais vago e as resoluões que impõem taxas de juro, cortes salariais e medidas de austeridade resultam de fatores intangíveis, obscuros e nada legitimados democraticamente.

2.O Partido Comunista Português votou contra um voto de pesar pela morte do ex-Presidente Checo, Vaclav Havel. Inacreditável! Ficaram isolados na homenagem a um político que combateu pela democracia checa, que foi por isso reconhecido e eleito Presidente da República e, além disso, um grande escritor e dramaturgo.

De uma penada, o PCP deixou cair a máscara e revelar uma vez mais que vive fora do tempo e que a democracia tem por aquelas bandas signficados distintos em função dos contextos...Talvez por isso mesmo tenham lamentado publicamente a morte do assassino e ditador coreano, Kim Jong Il, como é sabido um paladino das virtudes democráticas!..

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

CARTA ABERTA AO MINISTRO PAULO PORTAS


*Carta publicada no Diário As Beiras em 9 de Setembro de 2011

Distinto Ministro dos Negócios Estrangeiros,

Desejo lançar-lhe um desafio: irmos do “brain drain” para o “brain bank”. Passo a explicar.

Portugal vive atualmente um dos maiores fluxos de emigração desde as décadas de 50/60. Todavia, hoje, as saídas ocorrem por motivos diferentes e com perfis absolutamente distintos: quem sai é altamente qualificado e não busca sobretudo sobreviver; sai para conhecer mais e progredir profissionalmente.

Desde então o mundo também mudou. Acabaram as fronteiras e a tecnologia permite-nos continuar cá dentro vivendo lá fora. Até a saudade é um conceito em mutação mitigado por inovadoras formas de comunicação.

A presente crise, em Portugal, tem muitos contornos. Gostaria de destacar o que, sendo de algum modo intangível, considero o mais relevante no médio e longo prazo: o país está a perder capital humano. O que não é coisa pouca, sobretudo quando nos faltam reservas financeiras, riquezas naturais e minerais; este “brain drain” é absolutamente crítico.

No Brasil, onde me encontro, vejo chegar diariamente ondas de portugueses (entre os 25 e os 40 anos sobretudo) para desempenhar cargos de responsabilidade nos mais diversos setores de atividade. Rapidamente se impõem pelas competências profissionais associadas a qualidades humanas.

Basta navegarmos pelas redes sociais para observar que este fenómeno está a acontecer pelos “quatro cantos do Mundo”.

E então?.. Poderemos “assobiar para o lado” e continuar focados exclusivamente na vidinha ou, ao invés, compreender como pode uma ameaça transformar-se numa oportunidade.

Os portugueses são reconhecidos como “hard workers”, confiáveis e criativos. As competências para nos adaptarmos naturalmente ao contexto vêm de há muito. Não é coisa pouca numa economia do tempo.

Quando é sabido que a nossa diplomacia económica é frágil deveria aproveitar-se esta nova vaga de talento, geograficamente dispersa, para promover lá fora a imagem nacional: os nossos símbolos, marcas, inovações. “Embaixadores” da nova economia.

O MNE deveria institucionalizar esta rede de talentos nacionais, composta pelos novos emigrantes, para recolher contributos e boas práticas de inovação. E, acima de tudo, criar vínculos que permitam o regresso um dia, fortalecendo o país. Isto é “brain bank”: o objetivo.

Ainda estamos a tempo. Basta querer, Senhor Ministro!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

UMA MORTE ANUNCIADA


Um jornal de Coimbra noticiava os pedidos sucessivos do Provedor do Ambiente à Câmara de Coimbra para proceder ao controlo efetivo do ruído na Alta da cidade. Para quem leu ficou interessante perceber as visões contraditórias entre dois vereadores da maioria àcerca do mesmo problema e, acima de tudo, uma ausência total de estratégia do município para a histórica Alta da cidade.

A questão do barulho no centro histórico de Coimbra é apenas um dos muitos problemas daquela área urbana há muito deprezada pelos dirigentes da cidade. Insegurança, insalubridade, degradação urbana...são obviamente outros.

Coimbra tem o privilégio de ter um dos mais belos patrimónios históricos do país e não tem sabido cuidar dele. Desde candidaturas a Património Mundial que se arrastaram décadas até à ausência de uma visão estratégica para fixar população jovem naquele espaço tudo tem acontecido.

Não precisamos de ir muito longe na Europa – fiquemos pois pelos nossos vizinhos espanhóis – para experimentarmos a sensação magnífica de recuar no tempo em espaços urbanos plenos de vida que são os centros históricos das cidades. Os ”cascos antiguos” têm museus, casas de artesanato e idosos, mas também têm muitos jovens, bares e livrarias. Ou seja, o velho convive com o novo e a história com a modernidade.

Numa cidade universitária – que cada vez mais vive apenas e só disso!.. – acabar com a vida noturna, própria da juventude, na alta da cidade seria condenar definitivamente à morte a alta e os seus já poucos residentes.

Obviamente que o ruído deve ser controlado (e respeitada a lei), mas ao invés de multar apenas – como veio propor o Provedor - caberia ao Município ter um plano para apoiar e estimular jovens empreendedores a fixarem-se na alta com os seus negócios (dos bares até a oficinas de inovação), uma parceria com a Universidade para que determinados departamentos/projetos ali pudessem funcionar dia e noite, uma parceria com os empresários da construção civil da cidade para um consórcio imobiliário, etc etc.

À Alta já falta quase tudo. Tudo menos o passado, porém é de futuro que Coimbra precisa e, quer se goste ou não, o ruído naquela àrea da cidade ainda é sinal de vida!..

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

BACO EM VEZ DE TROIKA...


Passaram vários séculos desde que alianças estratégicas privilegiaram a exportação de produtos portugueses ajudando a balança comercial. O vinho do Porto adquiriu então notoriedade por força do mercado inglês. Ainda hoje se sentem os efeitos.

Hoje, Portugal volta a mergulhar numa das suas mais profundas crises. É já um lugar comum dizer-se que a saída passa pela internacionalização da nossa economia e pela exportação de produtos e serviços. Mas é tão verdade que deve repertir-se à exaustão.

Esta semana ao ler a Revista Veja, no Brasil, tive a grata oportunidade de confirmar a qualidade e o reconhecimento público dos vinhos portugueses. Uma reportagem indicava que a Proteste Brasil considerou três vinhos portugueses (em 10 analisados e testados) como os melhores na relação qualidade/preço, sendo que o “campeão” é da região demarcada do Dão.

É bom ler notícias destas. Sobretudo nos tempos que correm.

Confirma-se assim que - como há séculos - o sector vitivinícola pode ajudar (e muito) a nossa economia a recuperar e a internacionalizar-se, através da exportação direta, mas também aproveitando o elevado potencial turístico do setor. Países como o Chile e a Argentina podem ser boas fontes de inspiração!

O Brasil é, hoje, reconhecidamente um dos mercados de consumo mais relevantes do Mundo. Também nos vinhos começa, quer na produção e sobretudo no consumo, a despontar.

Apesar de tudo há ainda muito a fazer, essencialmente na promoção, pelos vinhos portugueses nesta geografia. Por experiência pessoal digo que nem sempre a oferta de vinhos portugueses é a adequada (seja porque escassa ou pelos preços exorbitantes), sobretudo se comparada com os vinhos chilenos e argentinos. Há ainda, pois, um caminho a percorrer, simultaneamente desafiante e gratificante pela qualidade intrínseca dos nossos vinhos.

Ainda assim, pode Baco fazer mais pela economia nacional que a Troika...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

BEIJA-ME MUITO!


O Vaticano reagiu violentamente e por todos os meios a uma campanha publicitária de uma Fundação italiana contra o ódio – patrocinada pela Benetton – em que foto-montagens mostram o Papa a beijar o Imã da mesquita Al-Azhar do Cairo. Noutras aparecem Obama e o Presidente chinês num gesto igualmente carinhoso. Portanto nada contra a Igreja.

Obviamente, que tratando-se de uma campanha promovida por uma organização não governamental e cujo objeto é o combate à discriminação e ao ódio, nada melhor que ser “chocante” para obter efeito útil e visibilidade. Se tivessem colocado um par de namorados ou namoradas ninguém atentaria!

Acresce que a publicidade é isso mesmo. Instrumental. Ora cada coisa no seu devido lugar. É esta relativização que o conservadorismo do Vaticano não compreende. É este atavismo papal que afasta cada vez mais crentes para o agnosticismo ou para outras correntes de fé (diga-se muitas de cariz duvidoso).

Este episódio, polémico obviamente, desperta inúmeras reações. Confesso, que vindo do Vaticano e deste Papa já nada me surpreende. Ao invés do seu antecessor que deixou uma marca indelével – apesar de muitos erros, designadamente a condenação do uso do preservativo – Bento XVI não existe. É uma espécie de fantasma litúrgico que se move na contramão dos tempos atuais.

Um Papa e um Imã a beijarem-se ou um líder Hindu e um budista no mesmo gesto são, acima de tudo e mais ainda numa campanha de publicidade, a melhor forma de homenagear a multiculturalidade, o diálogo inter-religioso e o ecumenismo. Tão pregados...

Mas se dúvidas houvesse os primeiros relatos sobre o beijo remontam a 2500 a.c., na antiga Mesopotâmia, porque as pessoas costumavam enviar beijos aos deuses. É curioso que hoje os homens recusem aquilo que antes ofereciam às divindades!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

CONVERSA DA TRETA


A pior coisa que pode acontecer a um país que está meio-perdido e quase moribundo é gastar tempo com o acessório desprezando o essencial. Exemplo gritante de como o governo está a lançar poeira para os olhos dos portugueses é o iniciado debate sobre feriados e horário laboral.

Acabar com quatro feriados e aumentar 30 minutos na jornada de trabalho são, aos olhos do governo português, medidas necessárias e eficazes para aumentar a produtividade nacional, dizem.

Ora, com o devido respeito, nunca se ouviu tamanha barbaridade. Primeiro: está por provar o nexo causal entre essas medidas e o aumento de produtividade; segundo, sabemos todos que produtividade (que é conceito distinto de produção) se aumenta com mais competências nos trabalhadores, com mais empenho profissional, com mais regalias socias e com mais reconhecimento de mérito. Em suma, com mais responsabilidade de todos os lados: de quem emprega e de quem trabalha. Isto aplica-se ao setor privado e, muito, ao setor público.

Não será com certeza por trabalharmos mais quatro dias por ano em Portugal ou mais trinta minutos por dia que o país sairá da crise, sobretudo se os portugueses forem para o emprego desmotivados, desiludidos e sem perspetiva de progressão ou (pelo menos) reconhecimento.

Interessante seria o governo encomendar um estudo sobre o impacto social e económico – aí sim na produtividade do país – de decisões como as que anunciou: acabar com os subsídios de natal e de férias; aumentar o IVA; aumentar o IRS; reduzir o investimento em educação e formação... Com toda a certeza estas são medidas que impactam diretamente no estado de espírito, na motivação, nas qualificações e nas estruturas sociais dos portugueses, consequentemente na forma como nos comportamos no local de trabalho, seja ele qual for.

Finalmente, ao invés de inventar poderia o governo convidar algumas das empresas consideradas mundialmente pelas respetivas boas práticas no relacionamento com os trabalhadores (felizmente trabalho na número um mundial nesse aspeto) e compreender como replicar modelos. Seria mais fácil, mais barato e mais eficaz.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

OS DEUSES DEVEM ESTAR LOUCOS!


Faz parte da nossa memória o filme que deu título a este artigo, parodiando o impacto de uma garrafa de coca-cola – como se de uma oferta dos deuses se tratasse - junto de uma tribo, depois de lançada de um avião.

Pois bem, observando estes últimos dias na Grécia, com certeza, os deuses devem estar boquiabertos com as reações e inconstâncias dos que hoje governam aquele território. De repente, os gregos acordaram e acharam-se no direito de questionar “latu senso” o euro e a sua permanência na moeda única. Ora, se é inquestionável a legitimidade política do ato, o que dizer da oportunidade e da pertinência do comportamento?

Depois de decidir energicamente que haveria um referendo ao pacote de medidas da UE, o governo grego viu-se na contingência de recuar em absoluto perdendo a face e submentendo-se à (irritante) chantagem Merkel/Sarkozy. Se Atenas pensava tratar da politicazinha interna fazendo braço de ferro com Bruxelas, Berlim e Paris este não era decididamente o tempo. Mais, mesmo que – por absurdo – o referendo se fizesse e os bravos gregos votassem contra o pacote europeu, qual seria a alternativa? Continuariam como hoje – falidos – e, pior, “sem mais vidas para jogar”!

Se não acreditasse no projeto europeu - como denominador comum político, cultural e económico – diria agora: os gregos que se f....., fiquem lá no seu cantinho. Porém, a Europa existe (pelo menos a política, que não a económica como está visto) e só a respetiva sobrevivência como um todo permite a saída para a crise. A Grécia, gostemos ou não, faz parte dessa europa e por isso deve ser composto da solução. Qualquer outro pensamento levará Portugal para a mesma situação da Grécia, que apesar de tudo são distintas.

Fazendo a ponte com o atual momento de debate orçamental em Portugal, advogar que o PS (maior partido da oposição e responsável pelos últimos anos de governo) deve votar contra “tout court” é ver a árvore e esquecer a floresta. Tem de existir mais vida para além deste orçamento e a solução passará por acordos de governo e de regime. Nunca o PS pode ser a parte que os exclui, mas antes a que os provoca de forma séria e responsável. De outro modo, é como na Grécia, o país não se salva e afundamo-nos todos...socialistas incluídos.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

PUTAS AO PODER...


...que os filhos já lá estão. Recordo ler, há muito, esta expressão em muros urbanos numa apologia anárquica que sei não ser a solução de coisa nenhuma.

Atualmente, voltaram a pintar a frase, porque são tempos estranhos estes que se vivem em Portugal. A leitura diária de informação adensa a ideia de que é cada vez mais um país adiado. Fica a sensação de que se enganaram gerações, sobretudo aquelas que irão agora pagar a fatura do regabofe.

Mas levantam-se algumas questões: os sacrifícios apresentados são necessários? E têm de ter tal dimensão e gravidade? Não haveria outros caminhos possíveis? A perda de tanta esperança é feita em nome do quê?..

Como exemplo: suspender os subsídios de natal e férias dos funcionários públicos é não apenas um golpe em direitos fundamentais (o que por si só já é grave) mas representa, acima de tudo, a redução acrescida do consumo e com isso da dinâmica económica do país. Menos renda disponível, menos consumo, menos investimento e mais desemprego. Esta fórmula é conhecida de todos.

Assuim sendo, não seria preferível avançar de vez com uma profunda reforma administrativa do país em que se acabassem alguns municípios e se fundissem outros? Em que se extinguissem organismos públicos regionais desnecessários ou nacionais redundantes? Com certeza que tamanha mudança, necessária aliás há muito, não representaria nem a violação da constituição nem o sacricífio nacional consubstanciados nas perdas dos subsídios de natal e de férias.

Mas há mais. Não estamos ainda preparados para fazer como a Islândia que debateu a revisão constitucional nas redes sociais, mas podemos com certeza reduzir o número de deputados (manifestamente exagerado face aos tempos que correm) sem ferir a proporcionalidade necessária. Aliás, aproveitar-se-ia e mudava-se a lei eleitoral, criando círculos uninominais em que 80 deputados seriam com certeza suficientes para fazer as vezes dos atuais 230...

Enfim, a crise também é propícia a exageros e a julgamentos sumários. Diariamente recebemos muita informação que é deturpada e injusta relativamente a alguns. Porém, uma coisa é certa, ou a classe política portuguesa abre os olhos e decide reformar o país com proporcionalidade e adequação ou o poder das ruas (tantas vezes demagógico) substituirá sem medida os políticos. Os maus e os bons...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

É PRECISO TER LATA!



No Brasil, FIFA e Governo iniciaram, a propósito da organização do Mundial de 2014, um “braço de ferro” que sabemos como e porque começou mas ninguém pode, hoje, dizer como vai terminar.

A arrogante FIFA habituada que está a impôr as suas regras junto de governos e estados vê-se agora em dificuldades perante a determinação dos brasileiros em não vergar nalgumas medidas simbólicas. Por exemplo, os idosos e estudantes pagariam apenas meia-entrada, à luz do que está previsto em legislação federal e estadual e habitualmente acontece em espetáculos artísticos e desportivos neste país.

É bom recordar que a FIFA é um ente privado cuja influência e poder desproporcionados não são sindicados por ninguém. Acresce que acima da FIFA – das respetivas práticas e regulamentos – estão as leis nacionais e em especial a constituição, que prevê inderrogáveis direitos sociais. Os senhores da FIFA fazem da lei letra morta e querem impor a sua vontade, ameaçando deslocar o evento para outro país. Veremos, pois, até chega a desfaçatez de Joseph Blatter e companhia!

Recordemos ainda que, por conta de investimentos feitos com dinheiro público (nos estádios, nos aeroportos, nas rodovias,...), a FIFA acumula milhões em lucros privados. Nos últimos quatro anos (com o campeonato da África do Sul incluído) a FIFA teve receitas de 4,190 biliões de dólares – sim isso mesmo! – com acordos comerciais e só em 2010 o lucro da FIFA foi de 202 milhões de dólares, sendo que as reservas económicas passaram para 1,2 biliões. E perante isto ainda se arrogam no direito de querer afastar a possibilidade (legalmente prevista) de idosos e estudantes pagarem meia-entrada?!.. Ora, é preciso ter muita lata!

Coisa distinta seria ter na FIFA um parceiro para o desenvolvimento social, afetando por exemplo uma percentagem dos lucros obtidos a projetos na Educação dos países organizadores dos Mundiais. Isso sim daria da FIFA uma imagem respeitável e prestigiaria o futebol como atividade sócio-económica relevante.

domingo, 9 de outubro de 2011

INTELIGÊNCIA POLÍTICA



Assim começa a carta enviada pela Presidente Dilma Roussef ao ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC): “em seus 80 anos há muitas características do senhor FHC a homenagear. O acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.”

Não há dúvidas sobre o elogio público. Não resta qualquer incerteza sobre o reconhecimento da paternidade de algumas medidas que ajudaram a colocar hoje o Brasil como uma das potências mundiais. Dilma marcou a diferença.

Esta mensagem é um dos sinais mais inteligentes na política brasileira dos últimos anos. Aliás, caracteriza bem o estilo da atual Presidente. Senão vejamos: durante os dois mandatos de Lula, o PT e o ex-Presidente –sindicalista insistiram sempre em criticar quem os antecedeu e sobretudo os programas políticos que obviamente ajudaram a colocar o Brasil “nos eixos” económica e financeiramente. Dilma decidiu pautar-se pela elevação e pela diferença.

Ora, faz falta esta inteligência em política! Faz falta saber ver mais longe. Faz falta reconhecer os méritos alheios. Faz falta compreender que nem tudo é mau.

Dilma de uma assentada deu uma lição ao seu próprio partido e ao principal partido da oposição- curiosamente o de FHC – elogiando as capacidades e as conquistas do ex-Presidente conseguiu por a nú e desvalorizar os advsersários internos e os que pretendem apresentar-se como seus opositores. Todos compreenderam: desde os destinatários ao povo!..

Ao ler esta carta lembrei-me de como faltam na política portuguesa sinais de inteligência como este! Afinal de contas, quem chega é incapaz de reconhecer os méritos de quem sai. De dar continuidade a muito do que está bem. A tendência é querer marcar um estilo disruptivo, criticando tudo e todos. No fim, essa estratégia não colhe. E a abstenção aumenta!...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O FRUTO PROIBIDO



Sobre a morte do co-fundador da Apple, disse Bill Gates (Microsoft): “o mundo raramente testemunha alguém que teve o impacto profundo de Jobs e os efeitos disso serão sentidos por muitas gerações”.

Independentemente da competição tecnológica e das guerras por “market share”, Steve Jobs (assim como Gates) figura entre os poucos seres humanos cuja criatividade e iniciativa ajudou a transformar o mundo e a vida de muitos milhões de outras pessoas.

Vivemos, hoje, na economia do conhecimento, onde a tecnologia e a inovação são elementos chave para o desenvolvimento individual e coletivo. A Apple (tal como a Microsoft, a Google, o Facebook, por exemplo) investiu seriamente na capacidade criativa e por isso desenvolveu produtos e serviços que ajudaram a mudar das coisas mais simples do nosso dia-a-dia às tarefas profissionais e empresariais mais exigentes.

A perda de Jobs deve servir para estimular novos talentos a um dia assumirem o seu lugar. Para isso devem os governos investir em educação, sobretudo em tempo de crise. Por outro lado, caso a propriedade intelectual não fosse protegida dificilmente a Apple (e as já mencionadas acima) poderia investir tantos recursos em inovação. As tendências de “inovação aberta” são interessantes mas perigosas e não substituem de todo a necessária proteção da propriedade intelectual.

Jobs e a Apple (reconhecidamente uma das empresas mais fechadas e menos interoperáveis) nunca teriam sido o que são - para mal do Mundo inovador – caso as suas patentes não estivessem legalmente protegidas. Ou alguém duvida?..

Enfim, tal como no imaginário coletivo em que a maçã aparece como o fruto proibido associado a desejos incontáveis, também Jobs conseguiu transformar a Apple num mundo de sensações e disrupções tecnológicas incríveis, por isso ele não tinha consumidores mas antes seguidores.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

CICLO NOVO. VIDA NOVA!




Quanto mais fortes os partidos mais reforçada sai a democracia. Sem prejuízo dos mecanismos diretos de participação cívica – cada vez mais importantes com o surgimento das redes sociais – a verdade é que os modelos democráticos ainda assentam nas organizações partidárias. Para o bem e para o mal...

Ora, o PS tem pela frente enormes desafios: reencontrar-se com a sua matriz ideológica, reinventar o seu quadro programático, rejuvenescer os seus quadros e, acima de tudo, pensar um país novo. Um Portugal que acredite que existe mais vida para além da Troika.

A pressa é má conselheira. Perante um cenário de uma maioria parlamentar de direita, o PS tem (quase) “todo o tempo do mundo” para ponderar naqueles desafios e encontrar as soluções adequadas.

Esse tempo deve ser usado para colocar o PS como o partido referencial da esquerda portuguesa; apresentar ideias para reconquistar os cidadãos para a política, combatendo a abstenção; desenhar modelos públicos de qualidade na Educação, Saúde e Segurança Social, sem medo de parcerias com setor privado sempre que se demonstrem ganhos de eficiência e de produtividade, por exemplo.

Outra ideia simples: aproveitar a rede de portugueses altamente qualificados que estão emigrados como representantes informais de uma estratégia nacional para uma economia mais competitiva. Deixar a diplomacia de canapé!

António José Seguro é – como dizem aqui no Brasil – “a bola da vez”. Esta é a sua hora! Acusam-no de calculismo. Mas desde quando o calculismo é um defeito? Calculista é alguém que faz cálculos, que sabe prever. Ora, isso é mau? Bom seria alguém que gere a sua vida ou casa de forma despropositada e desprorcionada? Sem cálculo?..

Há um novo ciclo. Há uma nova geração à espera!

sábado, 21 de maio de 2011

POR UMA LÍNGUA VIVA!




Comemorou-se, no passado dia 4 de Maio, o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Não sabia?..Pois, não admira, lamentavelmente.

Nunca, como hoje, a expressão de Fernando Pessoa - “a minha pátria é a minha língua” - foi tão pertinente e atual. Num mundo global a língua apresenta-se como elemento estratégico de preservação identitária e com um valor económico agregado.

Há, ainda, quem o não tenha compreendido...

Os espanhóis, há uns anos, concluiram que a língua espanhola representa 16% do Produto Interno Bruto da economia nacional. Acresce, que o espanhol ajuda à multiplicação por dois ou três das exportações, pois alarga os mercados que têm um idioma comum, sobretudo na América Latina, mas também nos EUA onde um hispânico bilingue recebe um salário cerca de 2,7 vezes mais elevado do que os que apenas falam inglês.

Curiosamente (ou talvez não), o ISCTE desenvolveu um estudo em que concluiu, também, que a língua portuguesa tem um valor potencial de 17% do PIB nacional, sobretudo observando o cálculo da média ponderada do peso da língua em atividades económicas como a comunicação social, as telecomunicações ou o ensino.

Não haja dúvidas, é manifesta e inquestionável a relevância da língua portuguesa para a geração de novas oportunidades de trabalho e de novos mercados para as empresas portuguesas; sobretudo no atual contexto.

Viver fora de Portugal e num mercado como o brasileiro, com 200 milhões de cidadãos, tem-me permitido compreender (como nunca) a dimensão do falhanço das estratégias lusas para a promoção do português e da economia nacional associada. Mas ainda vamos a tempo!..

Eleições na Briosa



Quando estamos perante processos eleitorais – em instituições, países, partidos, ordens profissionais ou outros – podemos ter uma de duas atitudes: indiferença ou participação. Eu acredito, desde sempre, que os meus direitos são inalienáveis pelo que não deixo a outros a oportunidade de expressar a minha vontade.

E na vida há momentos em que a participação ou a indiferença têm distintos significados e impactos. Por exemplo, nas próximas eleições gerais de 5 de Junho, o país precisa que o maior número de portugueses expresse a sua vontade. O estado da arte impõe uma cidadania activa.

O mesmo se diga relativamente à Académica, que terá também eleições muito em breve e que precisa de muito mais do que tem recebido de Coimbra.

Deve começar-se com uma palavra de elogio aos dois candidatos que se apresentaram já: está acima de qualquer suspeita o academismo de ambos, aliás, motivação suficiente para quererem “capitanear” um clube de futebol num contexto economicamente tão delicado.

Acresce, que José Eduardo Simões merece algo mais: justifica-se o agradecimento pelo património de resultados desportivos obtidos nos últimos anos. Porventura terá o melhor palmarés enquanto presidente do OAF. Porém (há sempre um porém), este já não é o seu tempo. Lamentavelmente, não compreendeu que deveria deixar a outros a tarefa de tentar engrandecer mais a Briosa. Aliás, o desgaste natural da função, os processos judiciais ainda em curso, o mau resultado da última época e uma certa incompreensão da cidade face ao seu esforço justificariam que saísse com toda a dignidade.

Terá chegado a hora de Maló de Abreu, que carrega nos ombros uma enorme expectativa e responsabilidade. Tem história e valores para honrar a Académica, assim tenha a sorte e audácia para a colocar no lugar que é seu por direito: ao lado (e não abaixo) dos outros grandes!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A LIGA DOS ÚLTIMOS

Por estes dias os partidos aprovaram as respectivas listas de candidatos à Assembleia da República. Gente que muda de distrito como quem muda de camisa, gente que preenche quotas anacrónicas, gente que entra sem saber como e outros que saem na mesma velocidade. Um clássico da nossa jovem democracia, portanto.

Como o tempo é de olhar para os bolsos e decidir em função de critérios que têm tudo menos de política, pois então deixemos prosseguir a banda(lheira) que consome a credibilidade do nosso sistema político.

Se atentarmos no caso de Coimbra – um exemplo que vale por todos – sabemos que há nas listas de todos os partidos candidatos cuja mais-valia para o exercício parlamentar é inquestionável. De igual modo, também os há de sinal contrário... Todavia, o voto popular não pode fazer essa distinção. Não podemos escolher os que consideramos melhor individualmente. Escolhemos uma lista fechada tanta vezes não em função da qualidade dos seus membros, mas da performance daquele que será candidato a chefe de governo. Ou seja, está tudo trocado.

O nosso modelo eleitoral é uma aberração, cuja decadente qualidade dos deputados – comparem-se as listas de hoje com as de há 15, 20 anos, para não falar de 30 anos! – contribuiu para o actual estado das coisas. A culpa não é só da economia, dos défices, da dívida. Não! A culpa é sobretudo de um sistema que não é verdadeiramente representativo e de um modelo de eleição ficcionado.

No meu caso, gostaria de ter no parlamento a defender os interesses nacionais e os de Coimbra por consequência, a Ana, o Mário, o Zé Manel, o outro Zé Manel, etc etc. Enfim, os que acho melhores e mais bem preparados. Mas não posso! A lei não deixa. A lei que é a vontade do povo, veja-se!..

Por isso, pode acontecer que um Zé Manel fique fora e outros tantos também. Mas como interessa a alguns que tudo continue na mesma...Apenas me vem à memória o Jorge  Palma: “Ó Portugal, Portugal, do que é que estás à espera?!..”

quinta-feira, 14 de abril de 2011

FANTASIA EUROPEIA



Que a Europa andava moribunda nos últimos anos já todos o sentíamos. O distanciamento dos cidadãos face ao que é discutido e decidido em Bruxelas é crescente e os níveis assustadores de abstenção e desinteresse político-social gravíssimos.

Porém, agora, parece estar mesmo à beira do colapso. Há um conjunto de náufragos – com os países do Sul à cabeça – a quem ninguém parece querer atender. As reacções da Alemanha – com providências cautelares à mistura – e as ameaças dos finlandeses face à necessidade de conceder ajuda financeira a Portugal são a prova irrefutável de que a Europa como um todo é uma miragem. A União Europeia como consta dos tratados ainda não viu a luz do dia. Estamos, pois, a viver uma fantasia. Muito cara por sinal...

Sou dos que (apesar do chavão) se sente europeu em Portugal e português na Europa. Acredito profundamente na existência de uma cidadania europeia. Conheço a nossa história colectiva e aprendi com isso que os riscos inerentes à desagregação são incomensuravelmente superiores a algumas das desvantagens da União. Sinto mágoa na forma como a Europa nos está a (des)tratar e temor pelo futuro europeu.

Há muito que o Mundo se organiza em blocos económicos – lá vai o tempo que eram militares – e nesse particular um pequeno país como Portugal só tem sobrevivência garantida no seio da comunidade europeia. Fora dela somos coisas nenhuma.

Vivendo, hoje, fora de Portugal e da Europa posso testemunhar o encanto que a ideia europeia continua a gerar no imaginário da América Latina em geral e do Brasil em particular. E, sublinhe-se, não apenas por contraposição estratégica à influência dos EUA, mas sobretudo pela concepção humanista dos valores europeus.

Se há batalha geracional que vale a pena travar, em Portugal e na Europa, é o da reabilitação sonho europeu, enquanto espaço de inovação, de solidariedade social e de aprofundamento cívico. O resto são detalhes!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

ILUSÃO DA MUDANÇA



Há tiques políticos comuns a todos os países do Mundo. Alguns ainda mais frequentes entre comunidades que partilham elementos históricos e de identidade. Peguemos, pois, no caso de Portugal e do Brasil a propósito da reforma do sistema político. A mãe de todas as reformas, como dizem.

A receita é sempre a mesma: anunciam-se pomposamente comissões e estudos, cujas conclusões ou nunca vêem a luz do dia ou são elas próprias catalizadores de mais umas quantas renovadas “reuniões de sábios”. Enquanto isso a participação política vai-se reduzindo ao mínimo, o interesse dos cidadãos desaparecendo e a transparência da vida pública – por ausência de sindicância – prejudicada.

Portugal está, de novo, em vésperas eleitorais. Virá o relambório habitual: o sistema não aproxima eleitos e eleitores, importa mudar. Mudar, sobretudo, para deixar tudo na mesma. Tem sido assim, neste particular da reforma política (ou ausência dela), nos últimos 20 anos. Tem faltado coragem, sobretudo!

No Brasil, acabado de sair de eleições, começam a debater-se vantagens e desvantagens do atual modelo, que – curiosamente – é bem distinto do português e para o qual desejamos avançar: círculos uninominais. Por seu turno, há no Brasil quem advogue pela eleição em listas fechadas, a opção portuguesa cujas virtudes estão longe de ser vislumbradas...

Torna-se, então, interessante e oportuna a análise de uma pesquisa desta semana feita pelo DataSenado, no Brasil, da qual resulta, entre outros: 65% dos inquiridos defendem a não obrigatoriedade do voto; 58% a limitação dos mandatos a uma reeleição apenas de 4 anos; 83% a votação nominal no candidato a deputado/vereador contra 16% em lista de candidatos; 48% defendem financiamento privado das campanhas contra 32% de financiamento público e 15% modelo misto.

Estas respostas são sintomáticas de uma percepção popular, que as propostas legislativas não contemplam.

Enfim, as conclusões em Portugal não deveriam ser muito distintas das brasileiras. Mas e então?.. Lá como cá é para deixar estar tudo na mesma!..

IMPORTA PERGUNTAR!..



Face ao actual estado do país há um conjunto de questões que se impõem e devem, por isso, ser colocadas por cada um dos portugueses para, em conformidade e conscientemente, determinarem a respectiva vontade eleitoral.

Assim:
1. Qual o valor político que mais preservamos neste momento?
2. Qual o protagonista que melhor pode personificar e garantir esse mesmo valor?
3. Qual o programa político que mais se adequa ao actual momento?
4. Quais os efeitos possíveis da vitória de um candidato que não representa aquele valor?
5. O país precisa de uma coligação eleitoral ou de um governo de cor única, ainda que minoritário?
6. O Presidente da República foi, nos termos da Constituição, efectivamente um garante de estabilidade ou contribuíu para a crise actual?
7. A actual crise é responsabilidade exclusiva de alguém? Então de quem é?
8. De que forma reagirão os mercados aos resultados eleitorais?
9. Como vai a União Europeia interpretar as soluções apresentadas pelo potencial vencedor?
10. Qual o grau de disponibilidade para se sujeitar a mais sacrifícios?
11. Que tipo de medidas restritivas e recessivas admitimos ainda como razoáveis?
12. Acaso não tivesse surgido a crise internacional estaríamos, enquanto povo e país, em que estádio de desenvolvimento?

No fundo, e a mais relevante das questões, é preciso saber que modelo de desenvolvimento desejamos para Portugal e quem poderá de forma mais efectiva realizá-lo.

Se seguirmos este guião de questões, tão simples quanto necessárias, será mais fácil optar em consciência cívica.

quinta-feira, 24 de março de 2011

CRÓNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA!..



Há muito que se sabia que o governo de José Sócrates tinha os dias contados. A começar pelo próprio, que – apesar da inesgotável energia – foi permitindo erros sucessivos de coordenação interna, jamais admissíveis no cenário da maioria parlamentar do primeiro mandato.

O governo há meses que não governava, vegetava, sob o comando do Ministro das Finanças que vai doseando “morfina”para atenuar dores sociais e económicas crescentes.

José Sócrates fez bem ao demitir-se. Cumpriu com o anunciado, honrou os compromissos europeus e ajudou a evitar que caíssemos num pântano de hipocrisia política com um preço social ainda mais elevado.

Quando as coisas não estão bem, então nada melhor que a oportunidade para clarificar. Ora, esta crise política, que não a social e a económica (bem mais sérias e profundas) deve ser entendida como uma oportunidade suprema para diversos tipos de esclarecimentos.

Desde logo, dentro dos partidos. Perceber se as actuais lideranças são as que vão a jogo. Mais, e indo, vão com que trunfos? Que equipas e programas, designadamente medidas na área orçamental, económica e social? Assim será mais fácil aos cidadãos perceber com o que contam.

Por outro lado, seria muito relevante que todos pudessem dizer o que pensam sobre políticas de coligações (pré e pós eleitorais). Afinal de contas, é sabido que um governo minoritário não tem a mesma amplitude e estabilidade de um maioritário, porém as coligações implicam cedências e negociações que, nesta fase do campeonato, devem ficar claras aos olhos de todos.

Finalmente, a gravidade da situação deveria impor um arco de governação amplo, ou seja, uma coligação abrangente, evitando jogadas políticas de baixo nível. Para isso seria necessário que os protagonistas tivessem perfis adequados ao entendimento. Se assim não for...

sexta-feira, 18 de março de 2011

A ÁRVORE DAS PATACAS...



A Suécia é um dos países do Mundo com maior com maior nível de exportações face ao respectivo Produto Interno Bruto. Aproximadamente metade do que é localmente produzido acaba sendo encaminhado para mercados externos. É, pois, compreensível e natural a notoriedade global de marcas como a Volvo, a Ericsson e Ikea, entre outras.

O modelo de desenvolvimento sueco é há muito comentado pelos positivos resultados económicos e sociais obtidos. Assenta sobretudo na elevada qualificação dos cidadãos, na aposta permanente em inovação, na internacionalização das empresas, das pessoas e das instituições e num Estado-Social que promove o bem-estar colectivo.

Ora, é este país que esta semana decidiu abrir no Brasil uma delegação da respectiva agência de comércio externo, ou seja, uma plataforma de aprofundamento comercial e empresarial entre os dois países. A motivação é simples: esta é a hora do Brasil.

Pela mesma razão – mutatis mutandis – chega hoje Barack Obama a “terras de Vera Cruz”. Traz a família toda como sinal de simpatia por um povo com quem as relações foram tensas nos últimos anos.

Mas como “quem não tem cão caça com gato”, os EUA – mergulhados ainda numa crise económica e social – compreenderam que a pujança do mercado brasileiro pode ser um catalizador para a recuperação nacional. Falar-se-á muito de diplomacia – com certeza! – mas o que vem na mala são obviamente números. Muitos números para ajudar a sair do buraco a ainda maior economia do Mundo.

Enfim, o Brasil é encarado, hoje, como uma espécie de “árvore das patacas” para muitos países que começam a descobri-lo. Mais de 500 anos depois dos portugueses!..

Pena é que com uma língua comum, uma história partilhada e afinidades culturais evidentes, Portugal não esteja a aproveitar como deveria a relação estratégica com o Brasil e o momento de ouro que este país está a viver. Sobretudo quando, em Lisboa, o estado actual é comatoso!..

segunda-feira, 14 de março de 2011

Afinal a Democracia Digital existe mesmo!!



Depois de sábado, em Portugal, em Espanha é assim...

Este blogue tem-se dedicado ao tema da democracia digital nos últimos quase dois anos. Poucos foram prestando atenção a um movimento inelutável que se estava a construir à margem dos partidos políticos e das formas clássicas de organização cívica.

Agora, nem tudo é perfeito e os riscos de extremismos são inúmeros, porém é uma realidade que importa encarar, respeitar e compreender. Antes que seja tarde demais!..

sexta-feira, 11 de março de 2011

NÃO HÁ ALMOÇOS GRÁTIS!..



Tem sido muito interessante observar o que se está a produzir em torno da manifestação da “Geração à Rasca”, amanhã, sábado. Há para todos os gostos: uns a favor, outros contra, uns genuinamente envolvidos outros “à pendura”...

Para já um dado relevante: pela primeira vez uma manifestação cívica, que poderá ter impacto significativo, começou (repito, iniciou) de forma espontânea nas redes sociais e vai passar do mundo virtual ao real. Este é por si só um elemento digno de registo. A dita democracia digital existe mesmo!

Acontece, todavia, que – como em tantos outros domínios da vida – há sempre uns que se montam no trabalho, na criatividade e nas expectativas dos outros... Este caso não foge à regra.

Por muito que alguns partidos políticos, da esquerda à direita, se desdobrem em declarações solenes de não interferência na dita manifestação (inicialmente) espontânea, ora a verdade é que já todos percebemos que há mobilização e empenhamento com contornos partidários profissionais. Não que isso seja mau ou condenável, não! É um facto, pronto.

Mas, sobretudo, o que a mim me interessaria ouvir – o que ainda não sucedeu – era perceber não as razões para o protesto (que conheço e compreendo algumas) mas as soluções propostas e o rumo a seguir. Sobre isso nada foi dito!

Afinal, amanhã, poderemos assistir a um de dois cenários: o contabilístico, em que o que fica são os números que desfilaram na avenida (os da PSP versus os dos organizadores com o olho dos jornalistas à mistura) e isso repreentará muito pouco ou, além disso, os organizadores (supostamente) em nome de uma geração apresentam ao país um compromisso de ideias que visem, na actual circunstância, mais trabalho e mais direitos sociais, mas também mais produtividade e mais mais competitividade.

Veremos, pois, o que sucede. Se for apenas mais uma manifestação como tantas outras servirá muito pouco ao país e menos ainda a esta geração, que também é minha!

* Foto retirada do site spectrum.weblog.com.pt

sábado, 5 de março de 2011

É TUDO UMA QUESTÃO DE SUPOSIÇÕES...



Estamos a viver tempos tão conturbados que se colocam em causa muitas das (supostas) lições recolhidas nos bancos das faculdades, designadamente sobre princípios e políticas fiscais.

É suposto, (repito) suposto, as taxas e algumas outras contribuições fiscais arrecadadas pelos governos destinarem-se – supostamente – sempre ao bem comum. Ou seja, para investimentos e despesas com serviços públicos: a saúde, a educação, a justiça e a segurança, por exemplo.

Significa isto que existe uma (suposta) vinculação entre as receitas tributárias e determinados fins, serviços ou obras públicas. Ora, aqui “a porca torce o rabo” pois onde anda há muito esta (suposta) garantia de contrapartida?..É ostensiva a degradação dos nossos serviços públicos tão mais perversa quanto somos dos países europeus com mais agressivas políticas fiscais.

Convém, nesta hora, recordar um clássico – o que é já de si um clássico: Adam Smith defendia que a (supostamente) “boa tributação” deveria ser “justa, simples e neutral”. O que queria ele dizer com isto?

Vamos por partes: um sistema fiscal é (supostamente) justo quando todos, do mais carenciado ao mais abastado, contribuem proporcionalmente aos seus (supostos) rendimentos. A verdade é que é que, em Portugal, se presumem como ricos muitos que o não são, os que o são não pagam e os que precisam de facto não recebem.

Por outro lado, a dita neutralidade significaria que o sistema tributário não deve (supostamente) influenciar a evolução natural da economia, a competitividade, o comportamento dos empresários e dos consumidores. A verdade é que influencia e muito.

Agravamento fiscal é sinónimo de recessão, de regressão no investimento/consumo e de depressão nacional! E, neste caso, não é supostamente!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

GERAÇÃO "C"...




A revista americana “Time” destaca como tema semanal a geração juvenil que está no centro das mudanças democráticas em curso no Médio Oriente e Norte de África. Caracteriza, aliás, metaforicamente o momento como de “Youthquake”: na verdade, o que se está a passar é absolutamente disruptivo, sobretudo porque assente numa geração com pouco ou nenhum envolvimento político, mas imensa capacidade de intervenção e mobilização cívica, assente no uso das tecnologias da informação.

Estes jovens começam a ficar conhecidos como a “Geração C”. “C” dos que estão sempre conectados, comunicando por computador, centrados em conteúdos, clicando numa comunidade. Estes são os “cês” desta nova geração que vai marcar o futuro, sobretudo o político e social.

Estamos a referir-nos a jovens essencialmente urbanos e suburbanos, não politizados, altamente consumidores e que até 2020 serão 40% da população nos Estados Unidos, na Europa e nos BRIC. Um exército poderoso, portanto!

Quem ainda não percebeu isto não compreendeu nada. Quem já entendeu e não reage, então...

Estes são os mesmo jovens que, uma vez mais via Facebook e influenciados pelo que está acontecer lá fora, decidiram convocar uma manifestação para a Avenida da Liberdade, para o início de Março, reclamando um conjunto de direitos sociais que lhes vêm sendo retirados. No FB já são umas dezenas de milhar!

Ao contrário do passado, hoje, não pode dizer-se nunca que os fenómenos não se repetem. A força mobilizadora das novas redes sociais é mesmo global. E, atenção, as causas não faltam!..

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

UM PAÍS NOVO!



Tenho o privilégio imenso de trabalhar numa das maiores empresas do Mundo, que contribui decisivamente para a inovação global e para melhorar o nosso país.
Há muitos exemplos de compromisso da Microsoft com uma cidadania activa. Destaco um: neste tempo de crise na educação, a Microsoft Portugal – num projecto inovador a nível mundial - decidiu apostar na formação dos Directores das Escolas, sujeitos-nucleares no âmbiente educativo.

Os professores não foram preparados para ser gestores, mas devem sê-lo, para tanto precisam adquirir novas competências, aptidões de liderança e novas práticas de gestão, onde as tecnologias podem fazer toda a diferença. Assim sendo uns milhares de professores vão adquirir novos “skills”, numa parceria em que o Ministério da Educação tira manifesta vantagem. Outros façam o mesmo!..

Fala-se muito – e há demasiado tempo! – da relação da escola com o mundo empresarial, pois bem este é um exemplo concreto de como as melhores práticas de gestão podem ser adaptadas ao quotidiano educativo, de como os protagonistas das empresas podem ser inspiradores de quem gere comunidades educativas. Uma escola moderna é também uma empresa.

Exigência, compromisso, avaliação, reconhecimento e mérito são conceitos muito caros e diariamente presentes na Microsoft, pelo que transpostos para a escola portuguesa ajudarão a fazer desta um espaço melhor e mais qualificado.

Um Portugal melhor precisa de mais exemplos destes. Já imaginaram se levássemos a vários domínios da administração pública, da saúde, da justiça programas orientados por aqueles princípios? Seria um país novo!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

DEMOCRACIA VIRTUAL (II)



Obviamente, não são necessários 230 deputados para garantir as competências constitucionalmente previstas. Nem advogar que 180 são mais do que suficientes significa qualquer deriva anti-parlamentar.

O parlamento português ainda é demasiado opaco e ineficiente. Reduzir o número de deputados não é a panaceia para todos os males, mas pode ajudar a atingir outros níveis de produtividade e de reconhecimento externo.

Importa pois dar condições efectivas aos parlamentares para efectuarem trabalho político de maior proximidade nos respectivos círculos: espaços adequados e assessorias. Estes recursos seriam atribuídos na razão directa de um maior escrutínio público da actividade que desempenham. Uma vez em incumprimento com o compromisso eleitoral, além da penalização óbvia nas urnas, deveria garantir-se a perda imediata de algumas regalias.

Acresce, que os parlamentares deveriam ter outro nível de suporte técnico na produção legislativa e demais tarefas. Se muitos deles não estão minimamente preparados, pior ainda quando não têm de facto quem os apoie. Também as regras deveriam mudar: mais competência técnica, mais transparência nas contratações e mais recursos obviamente disponíveis.

Nos dias que correm, ter deputados info-excluídos – e são muitos!! – é mais ou menos o mesmo que analfabetos na Primeira República. Ora se é inadmissível que não usem das tecnologias da infornação e do conhecimento para comunicar, buscar inspiração, receber “feedback”...mais ainda se torna quando o próprio parlamento não tem uma estratégia assumida nesta área. Ainda pensam que ter um site da AR é suficiente para se dizerem na era da internet. Nada mais errado!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

DEMOCRACIA VIRTUAL (I)



O país mudou!

Cada cidadão passou a ter a oportunidade de eleger individualmente os candidatos a deputados que, na sua apreciação, melhor perfil cívico, político e profissional têm para o desempenho de funções legislativas. Vota-se em nomes, não em listas!

Os cidadãos-eleitores participam, aliás, em dois momentos fulcrais: primeiro, na escolha interna mas aberta dos pré-candidatos no partido com o qual mais se identificam; segundo, na eleição propriamente dita, através de círculos uninominais.

Os que desejam apresentar-se como candidatos têm, no mínimo, de - além de currículo capaz – expor uma visão para o mandato, uma declaração formal de incompatibilidades, uma lista com o património actualizada e a descrição de compromissos concretos que se propõem executar no mandato.

Acresce, que anualmente existem convenções locais onde os deputados apresentam obrigatoriamente o plano das acções executadas e ainda a executar.

Esta “contabilidade cívica” é essencial para aferir do grau de compromisso e de eficência dos deputados perante quem os elegeu. Existem rostos concretos a quem pedir responsabilidades!

Para tanto, os partidos abriram-se de facto. Os “Estados Gerais” ou as “Novas Fronteiras” não são epifenómenos, mas co-existem em permanência com os órgãos próprios dos partidos. Os cidadãos em geral são chamados em regime de permanência; e, por sua vez, os militantes tem algumas prerrogativas próprias desse facto.

Na semana em que a reforma do parlamento entrou, novamente, na ordem do dia, o cenário acima é – infelizmente – meramente virtual. Por aqui se afere a qualidade da nossa democracia...

(continua...)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

EU VOTO



A cada acto eleitoral existe sempre um ou outro episódio isolado de boicote. Pelas mais diversas razões – saneamento, maternidade, transportes,... – com certeza atendíveis, todavia nunca compreendi o alcance efectivo da coisa. Sim, quais as vantagens ou ganhos decorrentes do acto?

Tirando alguma mediatização no próprio dia, imediatamente a causa da coisa é esquecida e a democracia ali interrompida por instantes segue o seu curso.

Ora, no “caso Metro Mondego” a regra confirmar-se-á. O boicote a verificar-se não trará às populações os carris nem tão pouco, neste caso, penalizará os que são de facto responsáveis pela lamentável situação.

Não consigo compreender como gente (supostamente) esclarecida e responsável, muitos deles eleitos e outros tantos já beneficiários da democracia noutras ocasiões, podem demagogicamente apelar a instintos tão primários quanto boicotar eleições.

Boicotar não significa apenas que os descontentes não irão votar – isso seria compreensível e respeitável, pois cada um faz o que lhe apetece com o SEU voto – tal acto implicará a impossibilidade imposta a muitos de não poderem exercer um direito cívico. Ora é isso que incomoda e revolta.

A conquista do direito fundamental a votar – eleger e ser eleito – é expressão da liberdade. Portugal conviveu demasiado tempo sem isso e nao passou assim tanto tempo para o esquecermos. Não há motivo algum que justifique a impossibilidade de nos podermos expressar e os votos servem precisamente para premiarmos e penalizarmos quem bem entendermos.

Eu não prescindirei de expressar o que penso através do voto. Essa é a linguagem democrática. Tudo o mais é expressão de uma ignorância que serve apenas a agenda de alguns...