Habituei-me, confesso, desde há muito a observar com respeito e curiosidade o PSD. Tem enquanto partido – no qual não me revejo mas onde estão bons amigos – uma capacidade de regeneração inata. Quase inata, diria antes.
A imensa força mediática dos respectivos congressos, que diga-se em abono da verdade pelo imprevisto associado eram sempre bem mais atractivos que os do PS, permitiram-nos, com o tempo, compreender melhor a idiossincrasia do PPD/PSD.
Senão vejamos: por vezes aquilo mais parecia um bando de indisciplinados que diziam olhos nos olhos tudo quanto lhes vinha à veneta, mas no final cantavam o “paz, pão, povo e liberdade” em uníssono e saíam, regra geral, mais unidos e mais fortes por isso. Só assim se explica que Santana Lopes tenha perdido tantas vezes e tenha sido Primeiro-Ministro do país; só assim se compreende que alguém que iria (supostamente) fazer a rodagem do carro saísse da Figueira da Foz candidato a Primeiro-Ministro, etc etc. No PS (o mais democrático do partidos portugueses), tal, apesar de tudo, nunca sucedeu!..
Ora, é pois, pensando neste percurso heterodoxo do PSD que para espanto nacional se observam tamanhas divisões e cisões no actual seio do partido.
Não tem sido bonito de ver o triste espectáculo de muitos (muitos mesmo!) a dizerem que não se revêem nas listas de deputados escolhidas. Se “os companheiros” não compram o produto, o que dizer dos eleitores?..
Como, aliás, me parece um erro crasso ter deixado de fora “por critérios políticos” Pedro Passos Coelho, Miguel Relvas e outros. Aqueles seriam exactamente os critérios para os manter dentro!.. De fora os estragos serão maiores, como iremos ver. Nunca pensei que neste PSD houvesse delito de opinião. Enganei-me.
Por isso, estou convencido, pelo que tenho lido e ouvido a alguns amigos, que há feridas que, desta feita, dificilmente voltarão a sarar no PSD. A culpa é em grande medida da actual direcção, mas importa ir atrás para compreender melhor que muito remonta a mandatos anteriores.
A “dinastia” de Luís Filipe Menezes foi – pelo estilo do próprio e pelo contexto nacional – abruptamente interrompida, pelo que muitas “contas a fazer” não foram então feitas e o ajuste aprazou-se agora…
Mas sobre tudo isto o que mais importa reter (não são os episódios internos burlescos do PSD, que para esse efeito os biógrafos tratarão a seu tempo do tema), mas sim sublinhar o manifesto sinal de divisão que foi transmitido ao país. A incapacidade de unir e de congregar dos principais dirigentes do PSD. Isto é muito grave.
Mais grave ainda é a duplicidade de critérios: condenam-se os arguidos candidatos e, afinal de contas, indicam-se para as listas candidatos acusados e pronunciados. Isto é muito grave.
Ora, o país, ainda a tentar recuperar da crise económica internacional e dos impactos sociais
entre portas, não se compadece com atitudes destas e menos ainda com sectarismos que, evidentemente, são incapazes de juntar no momento em que mais precisamos de estar juntos e, ao invés, promovem a separação e o ostracismo.
É caso para dizer: se fazem isto aos seus imagine-se aos outros!..
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