O Tratado de Lisboa é um marco importante no processo de construção europeia. Para nós, portugueses, duplamente relevante: pela reforma institucional que consubstancia e por fixar o nome da nossa capital para a posteridade.
Mas, a final, tudo isso será muito pouco se os actores europeus – eurocratas, eurodeputados, governos e parlamentos nacionais – não compreenderem que o tempo escasseia para definitivamente ser criada uma verdadeira identidade europeia.
Depois de criada para unir na construção do pós-guerra, de alargada para fazer face aos dois blocos da “Guerra Fria”, de aprofundada por via de um mercado e de uma moeda comum é, hoje, chegado o tempo do passo seguinte: criar uma efectiva cidadania europeia.
E o que é isso da cidadania europeia? É um quadro de valores comuns no domínio social, cultural e político. O mesmo será dizer que uma vez criada a Europa dos números importa agora edificar o mais relevante. Tudo o resto!
Enquanto existirem disparidades sociais tremendas entre os diversos cidadãos europeus (designadamente nos rendimentos e nos indicadores de qualidade de vida) a ideia europeia está longe de ser efectiva. Enquanto as oportunidades para os jovens forem substancialmente distintas no seio dos 27 países estamos muito longe de uma cidadania europeia. Enquanto os níveis de desemprego forem totalmente assimétricos no mesmo espaço geográfico não poderemos falar numa Europa socialmente justa…
A verdade é que continuamos a ter várias Europas e não uma Europa. E dentros das várias europas agregações de interesses. Temos a Europa dos países ricos e a dos países pobres. A Europa do Norte e a Europa do Sul. A Europa do eixo Franco-Alemão e a Europa dos outros. A Europa dos cépticos e a Europa dos convictos. A Europa dos interesses agrícolas e a Europa da Inovação. A Europa aberta e a Europa proteccionista. Enfim, este “puzzle” europeu tem dificultado a construção das referidas identidade e cidadania europeias.
Pois bem, por mais interessante que seja o novo ordenamento jurídico do Tratado de Lisboa, por mais inovadoras que sejam as mudanças nas maiorias deliberativas, por mais carismáticos que possam ser o Presidente do Conselho Europeu, da Comissão ou a Alta Representante tudo isso significará muito pouco se no curto prazo a Europa social, cultural e política não existir de facto. Hoje ela está longe, muito longe mesmo, de existir.
Esta ausência de uma identidade europeia tem permitido que os grandes blocos emergentes – China, Índia e Brasil – além dos Estados Unidos, claro, se afirmem crescentemente: nas trocas comerciais, nas influências culturais, no poderio militar, em suma, no comando geo-estratégico do Mundo.A Europa que temos actualmente recorda-me aquela estória da pequena formiga que montada num grande elefante em movimento se dirige a este dizendo: “Ei Elefante, já viste a tamanha poeira que estamos a levantar?!...”. Tudo não passa de uma ficção. E já não há mais tempo a perder!..
Sem comentários:
Enviar um comentário