sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

DEMOCRACIA DIGITAL XLI


A nova vaga na internet: a Real-Time Web, tem no Twitter o seu maior símbolo. Isto significa que o instantâneo, aproximando cada vez mais o virtual da realidade, está a conquistar a atenção dos utilizadores em todo o Mundo, sejam empresas ou cidadãos.

Aquilo que poderia ser considerada uma ferramenta para puro voyeurismo social e a iníqua exposição pública – dizendo apenas onde estamos e o que fazemos - passou subitamente a ser um instrumento institucional, comercial e social poderoso. As empresas começaram a conquistar novos consumidores e a promover os seus produtos e serviços por este canal; as campanhas políticas preparam mensagens para este novo modelo de comunicação (v.g. Obama) e as revoluções sociais (ex. Irão) passaram a dar-se a conhecer ao Mundo por este meio.

Por isso mesmo é sem surpresa que sabemos, hoje, que há cinquenta milhões de actualizações diárias feitas pelos utilizadores do Twitter. Número impressionante! Acresce, que, num recente estudo, foi tornado público que a língua inglesa representa 50% dos “posts”, seguido do japonês (14%), do português (9%), do malaio (6%) e do espanhol (4%).

Ora, daqui resultam algumas conclusões: a adopção tecnológica por luso-falantes é uma evidencia; as ferramentas de real-time web são oportunidades imensas para os cidadãos, empresas e estados lusófonos; a existência de estratégias públicas para o mundo digital um imperativo.

Quem ficar fora deste proceso terá muita dificuldade em progredir. Já não se trata de um mero mito virtual. É mesmo realidade e instantánea!
Publicado no Jornal OJE

APOLOGIA DO CINZENTO


A democracia vive de alternância e de alternativas, por isso mesmo quanto mais opções tivermos mais simples e consciente se torna a escolha. O problema está no cinzento, naquilo que gera indiferença e não se distingue.

Uma oposição forte credibiliza o sistema e valoriza o próprio governo, porque o torna mais atento e mais eficiente. Isto tem faltado, manifestamente, nos últimos tempos, em Portugal.

O processo de escolha de uma nova liderança no PSD é, por isso mesmo, um momento não desprezível. Algo resultará: mudará o líder, mas o que mais poderá mudar? Nesta fase é uma incógnita.


Aliás, em bom rigor, muito pouco sabemos sobre o que pensam os candidatos do PSD. Como resolveriam o problema do desemprego? Como relançariam a economia nacional? Qual a aposta na educação? Continuariam com o Plano Tecnológico? Que ideias para reformar a Justiça?.. Sobre tudo isto ainda nada se disse.

Muito se tem dito e escrito sobre a crise das ideologias, de tal modo que se construiu a tese de que as eleições se ganham, regra geral, ao centro; numa massa eleitoral volátil que ninguém consegue identificar, mas que fica algures entre a esquerda e a direita. Ora, se isso existe será pois aí que os candidatos do PSD se quererão posicionar. Aqui está o primeiro risco: a ausência de compromisso e, consequentemente, de factores diferenciadores.

Mas, sobretudo, o poder não se conquista, perde-se. Quer isto dizer que o actual governo, cuja legitimidade eleitoral é inquestionável, tem todas as condições para governar – aliás, uma crise política nesta fase seria trágica para a nossa débil economia – e, portanto, deve prosseguir o seu rumo, dependendo, assim, da respectiva performance o sucesso ou insucesso desta legislatura, sendo, pois, um pouco indiferente – nesta data – quem será o senhor que se segue no PSD. Sócrates depende essencialmente de si próprio.

Seria, em suma, importante para Portugal que no PSD se travasse um combate entre o “preto” e o “branco”, retirando da zona cinzenta de conforto os candidatos.
Publicado no Diário As Beiras

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

JUSTIÇA: O PIOR DE TODOS OS MALES!


Esta semana o Bastonário da Ordem dos Advogados meteu, uma vez mais, o dedo na ferida: se as decisões judiciais não são respeitadas para que servem os tribunais?.. Foi mais longe mesmo e acrescentou que a Justiça no tempo da ditadura funcionava melhor.


Esta declaração, vinda de quem veio, deveria merecer a melhor atenção de todos os portugueses. Não apenas do Presidente, do Governo e dos deputados a quem estamos habituados a imputar responsabilidades. Na verdade, a crise profunda da Justiça portuguesa é, seguramente, o maior desafio que este país vive desde o 25 de Abril. É uma questão nacional que exigirá de todos o melhor contributo.

A Justiça é verdadeiramente a questão central dos muitos debates a que temos assistido nos últimos anos quando falamos de empresas, de direitos individuais, de relacionamento com o Estado, etc.

A falta de credibilidade e a perda de respeito pelos tribunais tem minado a confiança na própria democracia, pelo que os episódios mais recentes são apenas o corolário lógico e inelutável de um cancro que dissemina sem que os agentes políticos e judiciários tenham sabido reagir.

É certo que o desemprego é o nosso maior problema conjuntural, todavia, estruturalmente falando, a recuperação da eficácia e da credibilidade da Justiça afirma-se como o mais estratégico objectivo. Dele dependerá, em grande medida, a maturidade da própria democracia e a sobrevivência da nossa economia.

Senão vejamos: cepticismo, resignação, incredulidade, revolta e descrença, entre outros, são apenas algumas dos substantivos que acompanham a relação dos cidadãos e empresas com a Justiça.

Quantos cidadãos desistem de processar o Estado, porque acham que a decisão nunca chegará em tempo útil? Quantos empresários não recuperam créditos porque não acreditam no tempo e nas decisões dos tribunais? Quantos não decidem pelos seus próprios meios o que em rigor deveria ser decidido pelos tribunais?..

Todos nós, sem excepção, conhecemos casos de arbitrariedade, decisões irracionais, muitas sentenças extemporâneas e alguém que já foi vítima de má justiça. Ora isto é grave!

Assim sendo, a violação sistemática do segredo de justiça é, apenas, uma das faces visíveis da quebra das regras e dos princípios que presidem a um verdadeiro Estado de Direito. Passou-se a julgar na praça pública e no interesse do público, por contraposição a julgamentos nos tribunais e à luz do interesse público.

A comunicação social passou do papel à prática a ideia de que representa o 4º poder. É-o de facto! Quando os juízes vacilam já os jornalistas publicaram; quando as polícias investigam já os media condenaram, quando os tribunais sentenciam já o tema na comunicação social transitou em julgado! Está tudo ao contrário, lamentavelmente.

Volto ao Bastonário da Ordem dos Advogados, que além de ilustre advogado foi durante anos jornalista, para recordar que também ele invocou (diversas vezes) as violações sistemáticas das regras deontológicas por parte de jornalistas. Por outras palavras, o jornalismo em Portugal, salvo raras excepções, é de duvidosa qualidade e seriedade.

A actual crise económica obriga a puxar pela imaginação (ainda que perversamente) para se venderem mais edições, de preferência extras…Os tribunais e o direito não são mais limites, o objectivo é a sobrevivência e o “market share”.

Ainda não perceberam que vamos todos pelo cano. Todos, mesmo!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

DEMOCRACIA DIGITAL XL


Portugal carece de boas notícias. Os portugueses precisam, mais que nunca, de relançar a auto-estima. Ora, um bom exercício é atentarmos no caso da Escola Básica da Várzea de Abrunhais, algures no concelho de Lamego, bem no interior do país.


As dedicadas professoras (por que as há!) com o empenhamento dos pequenos alunos, estimulados pela existência do Magalhães, conseguiram criar um projecto educativo que colocou esta comunidade escolar na rota das tecnologicamente mais inovadoras do Mundo.

A Microsoft reconheceu e apoiou este projecto singular, conferindo-lhe uma distinção que apenas outras 30 almejaram. Isto é motivo de orgulho nacional. Merece, pois, ser divulgado e acarinhado o mais possível.

Perguntar-se-á: mas o que tem o projecto da Várzea de tão especial? Porventura, apenas a dedicação extrema dos seus actores, porquanto a tecnologia é igual à disponível em tantas outras comunidades escolares do país. Vale, porém, a pena distinguir os dois factores.

Não fora a existência do projecto Magalhães e a instalação do acesso à internet nas escolas portuguesas e nunca este tipo de exemplos surgiriam. Primeira nota, pois, para a opção absolutamente estratégica do governo pelo plano tecnológico, que já merece uma versão 2.0!..

Por outro lado, confirma-se que a construção de blogues, de páginas com vídeos, a integração da tecnologia no processo de aprendizagem, o estímulo à pergunta e à busca pela net são passos pedagógicos que dependem, essencialmente, da orientação do professor, pelo que a formação destes educadores no uso das TIC é absolutamente vital.

A confirmar a importância deste caso está um estudo europeu do IDC que revela que nos próximos 5 anos 90% dos empregos vão exigir competências em TIC!
Publicado no Jornal OJE

MUDANÇA TRANQUILA


Dizer que nos últimos anos nada mudou no futebol português é cometer uma injustiça. Pior: é afirmar uma inverdade!


Os casos polémicos diminuíram drasticamente, as arbitragens sob suspeita e as relações perversas entre dirigentes e árbitros deixaram de ser notícia quotidiana, os casos de polícia recuperam factos de um passado, que se deseja longínquo. Os órgãos disciplinares agem autonomamente e de forma saudável e a justiça desportiva funciona como ente de normal recurso. Apesar da crise, os números demonstram que os espectadores aumentaram.

Por muito que alguns dirigentes (rostos do dito passado) teimem em discursos incendiários e adorem alimentar a exaltação dos ânimos, por muito que a falta de “fair-play” grasse ainda por alguns túneis de acesso, a verdade é que muito mudou.

Evidentemente que “Roma e Pavia não se fizeram num dia”, pelo que acabar totalmente com práticas antigas levará tempo e mudar protagonistas mais ainda. Os problemas surgem, regra geral, não tanto por razões desportivas mas por motivos esdrúxulos…

Uma coisa é certa, os actuais responsáveis pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional propuseram-se três objectivos e, quase em final de mandato, todos estão cumpridos. Vejamos então: primeiro, dignificar o futebol nacional impondo regras de transparência na gestão e de verdade desportiva; segundo, dinamizar o calendário das provas de modo a dar maior competitividade ao futebol nacional e, terceiro, encarar o futebol como uma indústria associando-lhe regras modernas de gestão.

Ao abrigo deste espírito criou-se a “Taça da Liga”, adoptaram-se algumas medidas tecnológicas à organização do jogo, encontraram-se patrocinadores fortes para ambas as Ligas, deram-se os meios necessários para a disciplina desportiva actuar sem pressões ou constrangimentos, renovaram-se regulamentos e impuseram-se regras para o “fair-play financeiro” que protege atletas e clubes cumpridores.

Com certeza haverá insatisfeitos e revoltados. Há-os sempre. Não se pode agradar a todos. Fica a consciência tranquila de um novo (e irrefutável) ciclo que se abre e cujos resultados se verão a breve prazo.

Para o próximo mandato ficam três ideias força: a adopção crescente das novas tecnologias como ferramentas que garantam a verdade desportiva e minorem o erro humano, a revisão do enquadramento legal e fiscal que permita aos clubes e ao Estado fixarem receitas provenientes das apostas “on line” e aumentar consideravelmente o número de adeptos nos estádios.