quinta-feira, 12 de novembro de 2009

PROBLEMAS DE VISÃO


Declaração de interesses – nasci em Coimbra e, por isso mesmo, aprendi a respeitar e a admirar a secular Universidade, que anos mais tarde passou a ser minha também por direito próprio. Chego, muitas vezes, a ser “coimbrinha” (eufemismo de quase-provinciano) na sua defesa.

Posto isto, quando em Lisboa, onde há anos vou passando parte do meu tempo, dizem que Coimbra e a respectiva Universidade cheiram a mofo, logo lhes atiro com algumas empresas que são sinónimo da melhor inovação portuguesa. E, falo-lhes da balança tecnológica para a qual uma parte da inovação “made in Lusa-Atenas” contribui.

Quando, ainda assim, me referem os exemplos de Aveiro e Braga como cidades que são modelos de relação entre a Universidade e a Comunidade, sou obrigado a recordar-lhes, por um lado, que se comparam realidades distintas (séculos não são décadas) e para que um binómio cresça importa que ambas as partes fluam no mesmo sentido, ora, em Coimbra, há muito que o essencial do problema não está no Paço das Escolas, mas na Praça 8 de Maio.

Quando, mesmo assim – ele há tipos que não desistem fácil! - me provocam dizendo que os bons MBAs são em Lisboa e no Porto, recordo-lhes o que pelo quarto ano consecutivo, a Universidade de Coimbra é a instituição de Ensino Superior portuguesa mais bem cotada no ranking do jornal The Times, sendo a única entre as melhores 400 do Mundo.

Quando o interlocutor é mais “fraquinho”…tento o golpe de misericórdia (forçado é certo), invocando o facto de em 2009 a UC ter subido de 387º para 366.º lugar, a nível mundial, e de 169º para o 166º, a nível europeu. A parte “coimbrinha” veio ao de cima…

E poderia continuar a relatar discussões intermináveis que, apesar de não ter mandato do Magnífico Reitor, fui (e vou) tendo ao longo do tempo. Mas quando termina o “ping-pong” argumentativo, reconheço (no silêncio da introspecção) que em Coimbra é difícil querer ser mais ambicioso e ter mais sucesso. Uma espécie de síndrome…

Mas a declaração de interesses inicial dá-me legitimidade para distinguir a admiração da cegueira e o respeito da subserviência.

Talvez, por isso, para debates futuros, fosse importante que a cidade e o país conhecessem melhor o legado científico e a investigação que está em curso, os níveis de empregabilidade dos licenciados, a reconhecida qualidade pedagógica dos cursos e o nível de internacionalização, por exemplo. Talvez estes indicadores resolvessem os problemas de visão de alguns…

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