quinta-feira, 21 de junho de 2012

RIO+20, E AGORA?



Ouvi, esta semana, no Rio de Janeiro, o seguinte comentário: “Há 20 anos, na “ECO92”, a Europa dominou a agenda ambiental, hoje não se pronunciou sequer sobre o desaparecimento dos icebergs, porque o foco é outro afundamento, o da Grécia”. A verdade é que as agendas regionais e a atual crise económica deixaram para segundo plano os objetivos centrais da Conferência das Nações Unidas sobre Sustentabilidade. A economia real impôs-se à “economia verde”.

As principais potências mundiais acabaram por participar de forma tímida no debate e, consequentemente, os demais países – sobretudo os emergentes – reagiram de igual modo. Em suma, o desinteresse de uns justificou a inépcia dos outros. Postura preocupante.

O Secretário-Geral das Nações Unidas alertou várias vezes para o fato de podermos não ter mais tempo para organizar a “Rio+40”, ou seja, em 20 anos os danos causados no ambiente serão (como em muitos casos hoje já sentimos) irreversíveis. Sinceramente, o clima diplomático era de algum otimismo, porém custa-me aceitar pacificamente que nestas conferências as declarações finais sejam boas em si mesmo, apenas porque resultam da “arte do possível”.

Rever os modelos de crescimento dos países é imperativo não apenas porque gera as manifestas desigualdades sociais que conhecemos, mas igualmente porque têm sido feitos à custa de uma exploração desregrada e desproporcionada dos recursos naturais. A situação é de emergência real, todavia na agenda política a crise financeira e o desemprego deixam pouco espaço para o ambiente e sustentabilidade. O que é um erro, pois eles são concomitantes e não excludentes.

Enquanto isso, sabe-se já que a receita turística destes dias de Rio+20 na “cidade maravilhosa” é superior a 60 milhões de reais. Impressionante aporte! Porém, a verdade é que o Rio não estava preparado para receber este tipo de eventos globais. Não tem infraestruturas (hoteleiras, viárias, aeronáuticas,..) nem profissionalismo organizativo. As coisas acontecem porque têm de acontecer, a custo elevado e consumindo muito da paciência e do tempo coletivos.

É uma pena. O Rio tem todas as condições naturais, mas falta-lhe ainda o resto, que é muito. Vejamos agora como vai ser com a Copa do Mundo e, em especial, com os Jogos Olímpicos. O temor aumentou!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A ACADÉMICA E A REGIÃO CENTRO



O estimulante desafio lançado por este jornal traz-me à memória uma expressão célebre do ex-Presidente americano John Kennedy: “Não pergunte o que o seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer pelo seu país”, porquanto acho, salvo melhor opinião, que a pergunta não é o que a região quer da Académica, mas ao invés o que a Briosa quer da região.

Apesar de tudo, cabe aqui uma resalva: a Briosa tem dimensão nacional. Muito mais que regional portanto. Aliás a única instituição (para além de Benfica, Porto e Sporting) com esse cariz.

Ainda assim, a Académica é atualmente a principal e mais reputada instituição desportiva do centro de Portugal. Tem o melhor palmarés, o maior número de sócios e a maior notoriedade. Só por si são ingredientes mais do que suficientes para podermos ambicionar mais.

A Académica tem que ter, desde logo, uma estratégia de abordagem económica e social da região. Será que a tem?.. Na verdade, a formação nas camadas jovens poderia, e deveria no meu entender, ser um ótimo ponto de partida, pois trazer para Coimbra os potenciais craques dos distritos limítrofes é um laço objetivo e afetivo com a região. A Académica passaria a ser reconhecida como a “escola desportiva e de vida” de muitas crianças e adolescentes de Aveiro a Castelo Branco e de Viseu a Leiria.

Por outro lado, a multiplicação e disseminação das “Casas da Académica” pela região transformando-as nos principais pontos focais relevantes para atrair novos associados, novos patrocinadores e potenciais atletas.

Existe ainda a necessidade óbvia de uma estratégia de relacionamento institucional amigável e continuado da Académica com os munícipios da região, podendo a imagem da Briosa – agora internacional por via da Liga Europa – servir para promover não apenas a cidade do Mondego mas muitas das atrações e pontos de interesse dos distritos da região.

Concluindo, esperar que a região – dos cidadãos anónimos aos seus principais líderes – venham ter de mote próprio com a Briosa é uma ingenuidade ou atavismo, por isso mesmo cabe-nos a todos os academistas e, em especial, à direção da Académica traçar um rumo claro. Acima ficam algumas ideias. O contexto atual é o ideal por força da dinâmica gerada pela vitória na Taça de Portuga e a futura presença na Liga Europa.




quinta-feira, 7 de junho de 2012

O CIRCO



Começa em breve mais um desafio europeu para Portugal. Desta feita dentro de quatro linhas. Tal como fora delas, a Alemanha aparece-nos no caminho. Desta vez não há Troika a mediar, mas vamos ver como se comporta o juíz da partida.

Como sempre, os alemães partem favoritos, mas vejamos se – como no passado – os surpreendemos com a nossa criatividade e improviso peculiares. Na economia real não há espaço para improvisar, mas em campo e no 11 contra 11 é sempre bom deixar sonhar Ronaldo e Companhia. Há uma nação à espera de uma vingança desportiva. Ansiosos por um nó cego nas medidas que aprofundam a recessão e fazem aumentar o desemprego. Com “fair-play”, é certo, vamos dar tudo para derrotar em campo a rapaziada da Senhora Merkel. Já que para bater o pé, Passos e a trupe “não os têm no sítio”, esperemos, pois, que Paulo Bento e os demais mostrem com quantos paus se faz uma jangada!

Enquanto houver vida há esperança. E esperança é coisa que nunca faltou aos Portugueses. Falta-nos tanto, mas paciência temos para dar e vender, por isso até ao apito final acreditamos! Nas guerras dos euros – a do futebol e a da finança – estamos na mesma: com esperança e paciência. É o que nos resta.

Ora, foi neste difícil contexto que o patético “mister” Manuel José veio destilar fel relativamente à seleção portuguesa de futebol. Classificou de “circo” a fase de preparação para o Europeu da Polónia e da Ucrânia. “Mister” Carlos Queiróz, não querendo que a patetice fosse um exclusivo daquele, aproveitou a onda e veio dizer “esfola”.

Manuel José e Carlos Queiróz devem estar de mal com a vida. Afinal de contas, há muito que em Portugal ninguém os recruta...talvez seja por isso. Ainda que os resultados finais lhes venham a dar razão – e objetivamente a probabilidade é grande– o momento e a forma como decidiram vir publicamente atacar técnicos e atletas portugueses é um erro e uma traição. Somos uns craques a gerir mal o tempo. 

Agora, o lado bom desta coisa, é interpretar as críticas com motivação (“a la Mourinho!) e só há uma forma de responder aos algozes e anunciantes da desgraça: é em campo. Com raça, motivação e entrega!

Força Portugal!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

OS MISERÁVEIS


Dá título a esta prosa a obra prima do françês Victor Hugo em que a personagem principal, Jean Valjean, é o expoente máximo do Homem que luta contra todas as adversidades e injustiças da sociedade. Diria, hoje, um esterótipo de muitos milhares de portugueses que já estão, ou prestes a estar, no rol dos 15% de desempregados. A maior tragédia da sociedade lusa dos últimos 30 anos.

Os números assustam pelo crescente gigantismo, mas a inépcia política para os derrubar revolta. Sobretudo, quando todos percebemos que a receita dos últimos dois anos não resultou. Crescimento e emprego não se geram com mais impostos e cortes salariais. Cortar “as gorduras” do setor público não implica forçosamente estrangular empresas e pessoas.

Não preciso citar – uma vez mais, pois já o fiz amiúde – o Nobel Paul Krugman para reforçar que menos investimento e mais impostos só trazem recessão, invocarei, antes, a insuspeita economista Teodora Cardoso quando, ontem, reforçou a ideia de que “estamos à beira do Terceiro Mundo”, dada a perda de competitividade forçada por salários baixos e tamanha redução do investimento e poder de compra.  

Como Teodora bem lembrou a competitividade depende muito mais da qualificação das pessoas e da qualidade dos processos do que da redução dos custos de produção. Os setores de ponta e tecnologia são disso um bom exemplo.

Para confirmar este discurso, noutra latitude, as autoridades brasileiras decidiram agora baixar ainda mais as taxas de juro e ponderam reduções fiscais para estímular o crescimento que está em queda por influência global.

Portugal precisava mudar de vida? Sim. Pena é que as vítimas sejam as gerações que nenhuma responsabilidade tiveram no regabofe dos últimos 30 anos em que o desperdício e a incompetência foram a palavra de ordem. Ainda vamos a tempo? Sim. Mas expliquem-nos por favor o caminho e as razões do mesmo. Não estamos condenados a ser miseráveis!