"Se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável" (Séneca)
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
CONVERSA DA TRETA
A pior coisa que pode acontecer a um país que está meio-perdido e quase moribundo é gastar tempo com o acessório desprezando o essencial. Exemplo gritante de como o governo está a lançar poeira para os olhos dos portugueses é o iniciado debate sobre feriados e horário laboral.
Acabar com quatro feriados e aumentar 30 minutos na jornada de trabalho são, aos olhos do governo português, medidas necessárias e eficazes para aumentar a produtividade nacional, dizem.
Ora, com o devido respeito, nunca se ouviu tamanha barbaridade. Primeiro: está por provar o nexo causal entre essas medidas e o aumento de produtividade; segundo, sabemos todos que produtividade (que é conceito distinto de produção) se aumenta com mais competências nos trabalhadores, com mais empenho profissional, com mais regalias socias e com mais reconhecimento de mérito. Em suma, com mais responsabilidade de todos os lados: de quem emprega e de quem trabalha. Isto aplica-se ao setor privado e, muito, ao setor público.
Não será com certeza por trabalharmos mais quatro dias por ano em Portugal ou mais trinta minutos por dia que o país sairá da crise, sobretudo se os portugueses forem para o emprego desmotivados, desiludidos e sem perspetiva de progressão ou (pelo menos) reconhecimento.
Interessante seria o governo encomendar um estudo sobre o impacto social e económico – aí sim na produtividade do país – de decisões como as que anunciou: acabar com os subsídios de natal e de férias; aumentar o IVA; aumentar o IRS; reduzir o investimento em educação e formação... Com toda a certeza estas são medidas que impactam diretamente no estado de espírito, na motivação, nas qualificações e nas estruturas sociais dos portugueses, consequentemente na forma como nos comportamos no local de trabalho, seja ele qual for.
Finalmente, ao invés de inventar poderia o governo convidar algumas das empresas consideradas mundialmente pelas respetivas boas práticas no relacionamento com os trabalhadores (felizmente trabalho na número um mundial nesse aspeto) e compreender como replicar modelos. Seria mais fácil, mais barato e mais eficaz.
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