terça-feira, 6 de janeiro de 2009

OBAMA E SÓCRATES

O Presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, tem em Abraham Lincoln (ex-presidente americano) uma das suas mais importantes referências pessoais e políticas.
"Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o carácter de um homem, dê-lhe poder" – disse um dia Lincoln. Obama decidiu levar à letra este pensamento e, por isso mesmo, para a constituição da sua futura equipa governativa convidou adversários políticos directos: quer Democratas (caso da Senadora Clinton), quer Republicanos (actual responsável da Defesa na administração Bush).

Obama interpreta o actual contexto de forma singular: em momento de crise profunda importa unir os americanos e para o efeito conta com todos. Mesmo com aqueles que não o apoiaram inicialmente. Mesmo com aqueles que pertencem a famílias politicas diferentes. Mesmo com os que até à pouco o criticavam.

Obama quer, como sugeria Lincoln, aferir do carácter de alguns influentes políticos norte-americanos, para tanto deu-lhes poder, contrariando assim o paradigma habitual que conduz à exclusão dos que pensam de modo diferente.

É cedo para aferirmos da eficácia desta generosa (e muito estratégica) opção de Obama. Mas duas conclusões podem ser de imediato retiradas: há um evidente esvaziamento dos opositores e gera-se a convicção popular de tudo está a ser feito para defender a unidade nacional. Este é, pelo menos, o sentimento traduzido pela esmagadora opinião publicada e estudos recentes.

Em Portugal, assistiremos, no próximo ano, a três actos eleitorais (europeias, autárquicas e legislativas) a que deve acrescentar-se, no caso socialista, o Congresso Nacional. José Sócrates tem assim a oportunidade de experimentar como estratégia o “Modelo-Obama”.

José Sócrates tem - quer pelo contexto actual e pelo capital pessoal que apurou, quer pelo seu perfil disruptivo – todas as condições para chamar ao poder algumas das vozes mais críticas e figuras com pensamento diferente que possam complementá-lo. Pode ir além de…!

José Sócrates tem a seguinte alternativa: no seio do PS – onde não terá opositores formais - poderá isolar os críticos e contribuir assim para o respectivo protagonismo alimentando especulações sobre possíveis dissidências ou, pelo contrário, promover um movimento de agregação em que todos possam participar. Não apenas os críticos mas os muitos que nestes últimos anos ficaram de fora pelas razões mais esdrúxulas… O PS ganharia com este somatório e desta diversidade nasceria uma força para demonstrar ao país que o contexto obriga a esforços de unidade.

Observando, assim, os desafios nacionais, José Sócrates, faria como Obama – o que, aliás, não seria novidade, porquanto recordemos Freitas do Amaral como Ministro dos Negócios
Estrangeiros em 2005 – uma equipa que de modo pragmático teria na competência e no mérito os principais denominadores comuns.

Afinal de contas, o poder une muito mais do que separa!

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