António Arnaut dispensaria, estou certo, os elogios. Seja o advogado, o político ou o escritor. Mas, a verdade é que qualquer uma das facetas dessa singular figura toca o brilhantismo. Sobretudo para quem, como eu, também é advogado e se interessa por política e gostaria de um dia saber escrever bem.
É sabido que a convivência próxima com os ilustres cidadãos Adolfo Rocha e Fernando Valle lhe deixou marcas. E que marcas!
Mas a verdade é que quero sublinhar a relevância e a oportunidade das considerações que o DC deu à estampa. Quero homenagear António Arnaut, sobretudo, pela fidelidade aos valores essenciais da liberdade, da igualdade e da fraternidade. E desejo fazê-lo agora, ao contrário do que é comum em Portugal: no habitual “está morto, podemos elogiá-lo à vontade”, tão bem retratado pelo “Bruxo do Cosme Velho” (Machado de Assis).
A entrevista a António Arnaut, ontem aqui publicada, é uma peça essencial para compreender o actual “estado da arte” de Coimbra e os desafios que se lhe colocam. A clarividência e a pureza da análise são esmagadoras.
Arnaut começa pelo desabafo: “temos de pensar Coimbra!”, para logo depois insistir que “em primeiro lugar, temos de saber o que queremos para Coimbra”. Mas, digo eu agora, será que quem tem a responsabilidade da condução desta cidade ainda não percebeu isto?.. Face à realidade só podemos, pois, concluir que há quem já saiba o que quer para Coimbra e para onde deseja que ela caminhe. Que o explique então pois este definhar constante é aterrador.
Arnaut toca na ferida ao referir que “houve um desinvestimento sobretudo emotivo; as pessoas deixaram de se interessar pela cidade”. Isto é tão mais evidente quando alguém se preocupa ou faz algo para quebrar a modorra logo irrompe a síndroma da pequena inveja coimbrinha. Ele há pequeninos poderes e capelinhas instaladas a quem interessa este “status quo”. A mediania agradece e o país ri.
Mas, Arnaut, ainda tem a esperança viva e por isso acredita que “também há condições para recuperar; porque atrás de ciclos maus vêm sempre ciclos bons”. Assim seja, meu caro António Arnaut. Coimbra precisa do seu fraternal contributo.
Deixo-lhe, ainda, um desafio sentido: na Maçonaria, no Partido Socialista, na Ordem dos Advogados ou em qualquer outro areópago provoque e conduza o debate necessário sobre o futuro de Coimbra. Esta é uma responsabilidade que está ao alcance de poucos. E aqui se possível, tal como no SNS, torne a fazer poesia!
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