Os países mais desenvolvidos são, regra geral, mais atentos às ditas “pequenas coisas”, que podem influenciar de modo determinante o bem-estar colectivo. Isto significa que nem sempre os grandes anúncios e projectos coincidem com a satisfação do maior número de necessidades.
Mesmo nas artes os detalhes são quase o exclusivo dos grandes criadores. O elemento distintivo.
Vem isto a propósito de duas situações de que tomei recentemente conhecimento e que me parecem verdadeiras aberrações civilizacionais num país que se deseja moderno.
A primeira: quando é sabido o elevadíssimo número de crianças que esperam em instituições de acolhimento pela oportunidade de uma família adoptiva, eis que a lei determina que apenas podem candidatar-se casais com, pelo menos, quatro anos de comprovada vida em comum. Mais estranho ainda quando a própria lei permite a adopção individual, mas que raramente é conferida por sinistras avaliações psico-sociais…
Ora, a questão, desde logo, é qual o racional para este prazo de vida em comum? Por que não antes um, dois, três ou cinco anos? Se a questão é de estabilidade a análise é puramente subjectiva, pois casamentos ou uniões com 20 anos têm desgaste superior a outras de 1 ano e, por isso mesmo, menos preparadas para adoptar.
Eis, pois, uma sociedade que não é solidária quando permite que crianças permaneçam anacronicamente institucionalizadas em vez de as entregar a casais transbordantes de amor e carinho para dar, que crescem na razão directa da infertilidade.
E, a segunda situação: estão clinicamente comprovadas as qualidades do leite materno para o bebé por comparação com o leite industrial. É, igualmente, conhecido o número crescente de mães que, pelas mais diversas razões, não produz leite, devendo socorrer-se das alternativas existentes no mercado.
Ora, o absurdo é precisamente em Portugal não existir um banco para doação de leite materno por parte de quem tem em excesso, destinando-se, assim, a auxiliar quem carece e, sobretudo, os nascimentos precoces. Não há uma maternidade ou hospital preparados para receber algo tão simples quanto leite materno. A alternativa é o desperdício por um lado e desespero de quem não tem por outro.
Em suma, os pormenores são muitas vezes considerados insignificantes, prescindíveis e negligenciáveis, quando, na verdade, creio serem prova de modernidade.
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