sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

DEMOCRACIA DIGITAL (IV)

Na passada semana, em Lisboa, Don Tapscott, autor do “bestseller” “Wikinomics” e um dos “cyber gurus” do momento, dizia que a internet e, em particular, as redes sociais estavam a substituir a televisão num processo inexorável, conduzindo a novos modelos familiares, sociais e educativos. E, acrescento eu, políticos.
Um estudo actual da “Childwise”, organização de pesquisas de mercado, mostra que “mais de um terço das crianças britânicas entrevistadas disseram que não poderiam viver sem os seus computadores. O YouTube é o site preferido dos jovens entre os 5 e 16 anos, seguido por redes sociais”. Curiosa e cumulativamente, e Don Tapscott também sublinhou este detalhe, “a maioria dos jovens continua a dedicar várias horas por semana a actividades físicas”. Ou seja, é mesmo a televisão que está em perda de “share” e de influência.

Não por acaso, a casa real britânica cedo compreendeu a importância de estar próxima dos súbditos mais jovens, regra geral os mais descrentes nas virtudes do regime monárquico, que nos últimos anos foi perdendo consistência e apoios populares. Foi, assim, criado no “You Tube” o “The Royal Channel” e, esta semana, apresentada publicamente a nova versão do site oficial da monarquia britânica (http://www.royal.gov.uk/). Quem disse que as monarquias são atávicas?..

Estamos, pois, a assistir a uma mudança radical no paradigma da comunicação e da informação. Até aqui a televisão exerceu um papel-chave na difusão de mensagens; ora, factos actuais comprovam que as audiências estão mais ligadas à World Wide Web e, em especial, presentes nos sites de relacionamento social e de partilha de vídeos.

Para as marcas comerciais, assim como para as mensagens políticas provindas de governos ou de entidades públicas, há um desafio de adaptação ao novo meio. Nesta fase há ainda uma convivência de modelos, por isso os canais televisivos recorrem a ferramentas e conteúdos da Web para alimentar as respectivas edições noticiosas.

Mas, por outro lado, o “ciber-jornalismo” é a expressão máxima de uma nova relação com a notícia, em que o público, até aqui destinatário passa a ser autor. Isto significa que o controlo da mensagem – que tanta tinta faz correr no universo democrático – é cada vez mais difícil, obrigando os actores (comerciais/públicos) a estar crescentemente presentes na net, onde estão clientes/eleitores. É, pois, natural que os próximos “tempos de antena” passem no “You Tube” e, quiçá, editados pelos próprios militantes e simpatizantes…

PUBLICADO NO JORNAL OJE

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