segunda-feira, 5 de abril de 2010

MUDAR DE VIDA




“Este é um dos momentos em que podemos dizer honestamente a nós próprios que foi exactamente por isso que chegámos aqui. Foi por isso que vim para a política.” Esta foi a expressão emocionada usada por Obama, esta semana, após a recente votação que aprovou a Reforma da Saúde nos Estados Unidos. Finalmente, noventa e cinco por cento dos americanos passou a ter acesso a cuidados básicos de saúde.

Aqui, emocionamo-nos ao ler e aplaudimos efusivamente. Achamos mesmo uma conquista social inolvidável. Ao mesmo tempo, delapidamos paulatinamente o nosso SNS que bem podia servir de inspiração a Obama...e como se não bastasse plasmamos no PEC medidas que traduzem iniquidade fiscal flagrante. Enfim.

Em suma, saber porque se vem, para onde se quer ir e como se pode lá chegar é o mínimo exigível a qualquer político.

Obama acreditou que era possível, desde o início. Que era possível ganhar, e ganhou. Que era possível mudar, e mudou! Em síntese, este é um caso paradigmático do que é e para que serve a política: transformar em nome do interesse colectivo.

Só convictamente se usa a arte do convencimento. Só com coragem se consegue mudar. Só com capacidade para envolver o maior número se consegue transformar. À política, hoje em dia, falta muito de antecipação e mais ainda de mobilização.

Há um exercício que deveria ser mandatório para quem quer fazer política: explicar em 3 minutos o porque, o para onde e o como das respectivas ideias. A isto, no mundo empresarial chama-se “elevator pitch” e serve para recrutar talentos. Por que não se faz também em política?.. Desconfio que os resultados seriam reveladores...

Temo – e digo-o com mágoa – a maioria dos nossos políticos não tem a mínima ideia de como usar as ferramentas democráticas e, sobretudo, não tem um desígnio. Um sonho para o país.

Infelizmente, este deserto é uma tendência contemporânea, pelo que os recentes resultados da extrema-direita em diversos países da europa – veja-se a Frente Nacional em França - já não são apenas sintomas, mas evidências de uma doença que alastra.

Em Portugal, os maiores partidos (leia-se PS e PSD) têm a obrigação de se refundar e de, consequentemente, transformar o sistema político. A forma como estão organizados internamente não promove a meritocracia nem a competência e representa regra geral uma ficção de debate. Não reflectem de modo algum aquilo que o país é, e menos ainda o que precisa de vir a ser.

O PSD terá esta semana um novo líder. Se a teoria dos ciclos se confirmar tem elevadas probabilidades de chegar a Primeiro-Ministro. Isto só será realmente importante se conseguirmos perceber para onde vai e como deseja lá chegar. E isso deve-o dizer já com clareza, em nome da honestidade política e intelectual.

Confesso, que até ao momento – sobretudo durante o Congresso e nestes dias de debate interno tornado público – não consegui compreender que Portugal querem amanhã os candidatos a líder do PSD. Perdem-se demasiado na espuma que faz o dia de hoje e serve apenas para iludir.

A aspiração é, portanto, viver o momento em que um líder político português possa afirmar, como Obama, “que foi exactamente por isso que chegámos aqui. Foi por isso que vim para a política.” E mudar a vida de milhões de portugueses!

Publicado no Diário As Beiras

Sem comentários:

Enviar um comentário