quarta-feira, 17 de março de 2010

QUEM É FELIZ NA ESCOLA PORTUGUESA?!..





Tenho da escola primária – hoje chamam-lhe pomposamente 1º ciclo do ensino básico - as melhores recordações. Fui muito feliz naquele pequeno espaço do ensino público.

Olhando para trás é fácil compreender porquê: tinha uma professora tão exigente quanto divertida, colegas igualmente felizes onde se forjaram as Amizades que permanecem, contínuas (agora são pomposamente auxiliares de acção educativa) atenciosas e pedagogas. Enfim, sair de casa e começar o dia às oito não era um tormento, antes um enorme prazer.

É certo que era uma escola simples como tantas outras. Não havia internet nem banda larga, não havia campos sintéticos nem consolas, não havia Magalhães nem quadros interactivos. Era apenas uma escola simples com crianças, professores e gente feliz!
O país ao tempo não estava melhor. Lembro-me de Mário Soares falar em bancarrota e a adesão à CEE ainda demoraria acontecer. Não havia o PEC mas ainda pairava a sigla do FMI. Pelo menos lembro-me de a ver pinchada em tudo o que eram paredes. Por isso, Portugal era com certeza outro. Bem pior.

Mas e a escola?.. A escola – sublinho pública – era como um oásis onde não havia, além das escramuças próprias de miúdos de 6, 7 ou 8 anos de idade, o tal de “bulliyng” de que agora se fala. Professores a suicidarem-se? Nem pensar, afinal eram o que sonharam ser! Faltas de educação na sala de aula? Apenas uma vez, até se conhecer uma pedagógica reguada ou outra cominação. Pais a criticar professores? Ora essa, afinal de contas a D. Maria de Lurdes era a extensão óbvia da mãe Gena!..

Depois da primária, veio o ciclo e a rebeldia emergente não apagou o siginficado e o papel quotidiano do ensino. A seguir, o liceu e dele tenho as melhores recordações: dos projectos da rádio, do teatro e dos torneios inter-turmas. Dos primeiros passos no associativismo juvenil que confirmava o gosto pela política e pela cidadania activa. De alguns professores absolutamente fascinantes e de muitos funcionários amigos.

Enfim, a escola era isto: aprendizagem, camaradagem, Amizade e despertar cívico. Por isso não poderia deixar de ser bom!

O país mudou muito. Ainda bem, pois transformou-se, regra geral, para melhor. Mas a escola portuguesa tenho sérias dúvidas que tenha acompanhado esta evolução positiva.
Desde logo, os professores são hoje gente desmotivada, a maioria deles sem vocação. E isso é grave. De que vale termos as melhores estruturas se nos falta o conteúdo?..
Mais grave: o discurso desresponsabilizador. Nas Universidades dizem que os estudantes não sabem escrever nem interpretar. Chegam lá sem os mínimos indispensáveis. No Secundário desculpam-se dizendo que a culpa vem detrás, do básico que não prepara para coisa alguma. E, afinal em que ficamos?..

Durante anos as reformas e contra-reformas educativas foram desastrosas, é certo. Mas, tenho para mim que há algo que nunca crescerá por Decreto: a felicidade de quem constrói uma escola, seja professor, aluno ou auxiliar. E aí há, pelos vistos, muito por fazer.

É caso para perguntar: quem é feliz na escola?...E, depois, pensar!..

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