segunda-feira, 5 de abril de 2010

A PALHAÇADA



O Canal Parlamento, cujos níveis de audiência são em regra muitíssimo baixos, atingiu com as recentes audições sobre a suposta falta de “liberdade de expressão” no “Caso TVI” os maiores “shares” de sempre. Digno de registo. Mas, quando visto e revisto o que se lá passa conclui-se que é uma mão cheia de nada. Factos sem relevância e performances ensaiadas que culminarão num quase certo relatório final que estaria escrito à partida...

Alguma novidade?..Não!

Quando, durante anos, as comissões parlamentares de inquérito redundaram em fracassos sucessivos não poderá esperar-se grande coisa das mesmas.
Quando, desde sempre, a motivação para a constituição das comissões parlamentares de inquérito assenta na politiquice e não na busca efectiva da verdade material não poderá ser grande a expectativa.

Quando na maioria das vezes os que são inquiridos não reconhecem nem valor nem mérito aos que inquerem o resultado só pode ser negativo.

Enfim, o problema não está na natureza das comissões de inquérito – que existem em muitos dos parlamentos do mundo – mas sim na forma como são constituídas e na respectiva motivação. Regra geral, estas comissões surgem com base em temas que marcam a agenda mediática e não necessariamente em assuntos que pela sua gravidade e relevância merecem a atenção da sede democrática.

A revisão do funcionamento das comissões de inquérito devia ser objecto de uma mudança mais profunda: das leis eleitorais e do próprio parlamento. A democracia está a perder qualidade, porque os cidadãos estão cada vez mais afastados; o escrutínio público é sobretudo adjectivo e feito por um jornalismo de qualidade duvidosa. Os deputados ainda não perceberam isto e, por isso, irritam-se muito com quando lhes tiram fotos aos computadores, mas esquecem que isso é apenas o início do fim...

Mas se formos mais fundo aumenta a apreensão: há uns anos, entrar num tribunal era um momento de enorme solenidade e respeito, hoje ir ao dentista impõe mais temor.
Vivemos tempos de crise profunda, que não apenas económica e financeira. Como dizia Manuel Alegre não podemos ser governados por economistas, pois o resto parece passar despercebido. Mas esse resto é o essencial!

Publicado no Diário As Beiras

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