Diversas edições do Inquérito Social Europeu, levado a cabo por entre os vários países que compõem a UE e a Europa central, confirmam que os cidadãos portugueses estão descontentes com a qualidade da respectiva democracia. Só os russos, húngaros, ucranianos e búlgaros estão mais descontentes e politicamente mais desinteressados.
Esta tendência tem vindo a acentuar-se desde 2001, sendo que o nível elevadíssimo de abstenção nas recentes eleições legislativas e europeias são disso a prova irrefutável. Porém, ninguém pára para pensar!
O rescaldo nacional do acto de domingo passado já foi sobejamente feito, por isso mesmo vou atentar no aspecto distrital.
Foi, obviamente, uma surpresa (e quem disser o contrário, mente!) a eleição de um deputado do CDS/PP por Coimbra. Não está em causa o mérito pessoal do candidato, mas antes um conjunto de circunstâncias que permitiram a sua eleição. São essas que interessam agora.
Serpa Oliva beneficiou em grande medida da capacidade e da eficácia política de Paulo Portas. É um caso sério em campanha. Tão assertivo quanto populista e perigoso; todavia o que diz parece soar bem, fazendo o povo esquecer que em 3 anos no governo nunca praticou nada do que agora advoga e exige.
Mas, acima de tudo, o CDS/PP no distrito de Coimbra usufruiu do facto do PSD estar desacreditado e, evidentemente, da fraca prestação de Manuela Ferreira Leite. O eleitorado de Serpa Oliva não é dele nem do CDS. É, sobretudo, do PSD e de uma direita conservadora que não havendo alternativa preferiu fazer um voto duplamente de protesto: contra Ferreira Leite e contra a maioria de Sócrates. Curiosamente são aqueles que, hoje, mais torcem para que Sócrates se entenda com Portas…
O PSD em Coimbra – apesar do esforço regenerativo de alguns – viveu muitos anos longe da qualidade mínima exigível e está agora a pagar esse preço. Não é, em suma, alternativa a coisa nenhuma!
Observemos agora o caso Bloco de Esquerda: ao contrário do CDS/PP, José Manuel Pureza tinha praticamente o lugar assegurado, fruto de um crescimento local continuado, do “hype” nacional e da qualidade intrínseca do próprio candidato.
Mas, mais importante, o BE cresce sempre à custa do PS. No distrito de Coimbra é fácil de compreender porquê:
O PS local há muito que não tem ideias nem propostas credíveis e mobilizadoras; há muito que falta quem comunique de forma diferenciada; há algum tempo que não existe no PS quem seja considerado no meio social, académico e empresarial. Dizer o contrário (por muito que possa parecer simpático) é farisaico e distorce a realidade.
Dizer – como alguns (os suspeitos do costume) – que a culpa é da cabeça de lista é tapar o sol com a peneira. Ana Jorge era a 2ª dos ministros mais populares e, conforme se viu, fez uma campanha sóbria e igual a si própria: séria e credível. O que se pede a um médico emprestado à política. Conseguiu, aliás, na defesa do SNS fixar gente de esquerda que de outro modo engrossaria o voto no BE.
Aliás, a verdade é que nem quando Sócrates, o Ministro do Ambiente, impôs a co-incineração a Coimbra o PS aqui perdeu. Não! Ganhou e elegeu seis deputados. Significa que o problema não é Sócrates, mas antes os que há vários anos (os do costume) gerem o PS virado sobre si próprio, alheio ao que se passa na cidade e no país. Sem imaginação e, mais grave, sem reconhecimento.
Veremos agora quais os resultados autárquicos e se, então sim, têm o decoro de se afastar. Não se pode exigir a Ferreira Leite consequências que os próprios em casa não assumem!!