quinta-feira, 20 de maio de 2010

HAJA ESPERANÇA!

O jornal espanhol “El Pais” na sua edição desta segunda-feira referia que o plano do governo para atacar a crise significava que se teria apagado a última luz ao fundo do túnel! Impressionante a imagem, sobretudo se pensarmos que a Espanha há apenas dois anos tinha a maior taxa de crescimento da UE!

Quero acreditar que ainda há esperança para todos nós!

Mas para compreender a actual crise e a possibilidade dela sair costumo fazer o seguinte exercício: um dado agregado familiar tem como receitas mensais, provindas da remuneração do trabalho e de algum capital, um dado valor. Esta mesma família regista como custos certos mensais – em empréstimos, despesas correntes com electricidade, água, gás, alimentação, escolas,... – um valor superior ao globalmente recebido. Acresce, que – e apesar do diferencial negativo – cogita ainda ir de férias para o Caribe, nem que para o efeito recorra ao crédito ao consumo.

Ora, este é o cenário em que vivem milhares de famílias portuguesas. Esta é a situação dramática em que mergulharam nos últimos anos muitos concidadãos nossos animados por um aparente crescimento global e por uma mensagem de confiança de um mercado que hoje se sabe desregulado e especulativo.

Afinal de contas, o drama de muitos portugueses é também a desastrosa realidade do país no seu todo, enquanto Estado. Esta situação incomóda-me e muito, pois não estou entre os insolventes, tenho as minhas obrigações fiscais em dia e nunca usufruí das contribuições sociais. Por que motivo agora tenho de pagar mais impostos directos e indirectos?!

A minha indignação só pode ter uma resposta: a crise resolve-se forçosamente pela redução da despesas pública muito mais do que pelo agravamento fiscal e pelo estrangulamento de empresas geradoras de riqueza ou reduzindo o rendimento disponível das famílias indutor de consumo.

Não sou economista, devo dizê-lo. Mas também não preciso de sê-lo para compreender bem o que haveria de ser feito no caso do exemplo familiar acima referido. O futuro e o equilibrio daquele agregado passa forçosamente por afastar a possibilidade de férias no Caribe este ano e possivelmente nos próximos, não contraindo assim mais empréstimos para bens/serviços que são dispensáveis. Por outro lado, se a família vir aumentada a carga fiscal dos rendimentos do trabalho e o IVA fica necessariamente com menos disponibilidade para o essencial, logo não melhora em nada a respectiva situação. Só existe pois outra forma de viver melhor: reduzir os consumos supérfluos e seleccionar criteriosamente onde aplicar o dinheiro disponível na exacta medida do que recebe e não do que tem por via de compromissos com terceiros.

Em suma, entre esta família e o nosso Estado não existem – grosso modo – muitas diferenças no problema e na solução.

Não tenho dúvida de que se devem equacionar todos os compromissos com aquilo que não é estratégico (educação, competitividade, internacionalização e inovação) e racionalizar o Estado à medida das necessidades actuais. Com certeza temos ainda muita gordura por onde cortar antes de entrar na alma do povo. Haja esperança.

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