terça-feira, 5 de janeiro de 2010

ERROS DE CASTING


Um amigo costuma dizer que “uma bananeira não pode dar laranjas”. É bem verdade! Serve a imagem para descrever que há perfis dos quais não poderemos esperar resultados ou performances, apesar de muito o desejarmos. Ora, na vida política – nacional e local - isso sucede amiúde…

Cavaco Silva é, manifestamente, um erro de casting. Não por que não tenha qualidades para o cargo, mas, sobretudo, porque tem mais virtudes para um outro cargo que já exerceu e que gostaria de voltar a desempenhar. Mas o tempo não volta atrás e os ditos cargos podem ser (e são-no tantas vezes) conflituantes!

Belém foi para Cavaco Silva, essencialmente, uma aventura imposta por amigos e conselheiros (interesses difusos…conforme se tem provado), ou seja, a sua circunstância, recordando Ortega y Gasset, mais do que a sua idiossincrasia e vontade individual. Por tudo isso, o resultado não poderia ser grande coisa…

Apesar de tudo (e sem retirar uma vírgula acima), sou dos que, confesso, acho que na primeira parte do mandato, Cavaco Silva acertou no modo e no tempo de exercer a respectiva magistratura de influência. Aliás, o ambiente de “beijo-na-boca” que então se viveu entre Belém e São Bento é disso a prova contundente: deixou governar e influenciou q.b. numa óptica de cooperação estratégica, como teve oportunidade de qualificar a dita relação institucional.

Historicamente, os problemas de relacionamento entre o Presidente e o Primeiro-Ministro, os actuais ou os anteriores, tiveram regra-geral origem em Belém e na tentação para extravasar os respectivos poderes. Quando o Presidente quer governar o caldo entorna-se!

Ora, Cavaco durante os primeiros anos – longe ainda do ambiente eleitoral – teve a clarividência de se afastar do que mais aprecia: intervir e executar, em suma, governar. Porém, o ciclo eleitoral de 2009 associado à fragilidade política da Amiga Manuela e o aproximar no horizonte das presidenciais foram introduzindo as variáveis necessárias para alterar por completo o equilíbrio de forças entre Cavaco e Sócrates. Cavaco ficou até toldado, conforme comprova o lastimável episódio das escutas, até hoje não devidamente esclarecido!

Nesta época natalícia, aquilo que seria mais uma mensagem de paz e de esperança do Presidente da República rapidamente se transformou numa declaração política com múltiplas interpretações e significados, alimentando os mentideros, as colunas e os opinadores políticos nacionais.

Não percebo porquê!? Cavaco já está em campanha eleitoral e, pela primeira vez na história, parte para uma possível reeleição sem a mesma garantida à partida. Facto inusitado. Mais, tem à esquerda um candidato muito forte (Alegre) e de perfil absolutamente oposto, logo tem que marcar terreno e fazer o “homem-a-homem” a Sócrates. Uma vez mais vai querer “governar”…

O grave de tudo isto é que os portugueses não entendem e têm razão: o país não se compadece com mais jogos de sombras e de bastidores…Talvez não voltem a repetir os erros de casting.

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