Vale a pena observar o que se está a passar no Irão. Os resultados eleitorais cozinhados estão a ser denunciados por milhões de iranianos que descem às ruas para numa imensa “manifestação verde” advogarem a anulação das eleições.
Até aqui como habitual. Mais um de tantos filmes idênticos: tiranos e tiranetes que pretendem perpetuar-se no poder adulteram a expressão da vontade popular em detrimento de movimentos pró-democráticos ou transformadores.
O que efectivamente tem sido novidade é o tremendo impacto das novas tecnologias na mobilização das reacções e das manifestações. Apesar do controlo brutal dos clássicos meios de comunicação, das redes telefónicas e até do uso de algumas aplicações tecnológicas, o “status quo” iraniano esqueceu que a internet é demasiado grande para ser subitamente domada.
Ora, os jovens iranianos, aos milhares, dentro e fora do país, rapidamente se aperceberam do potencial do Tweeter, por exemplo. Criaram inclusivé um hashtag #iranelection que se tornou num dos mais populares a nível mundial e por via do qual se cruzam informações, partilham fotos, lançam convocatórias e denúncias. Com idêntico fim foi criada a conta “Musavi1388”, etc etc. Surgiram então novas fontes informativas para preencher a lacuna deixada pela submissão e controlo efectivo da imprensa e televisão.
Curiosamente, o Irão é um “heavy user” de novas tecnologias e, em particular, de blogues e redes sociais. Existe mais de 1 milhão de blogues iranianos alimentados por internautas residentes na pérsia e na diáspora. Isto representa um potencial de dinamismo cívico tremendo, ou seja, apesar do estrangulamento oficial do regime, os cidadãos encontraram na net espaços de debate e de partilha de informação que foi musculando a escolha eleitoral. Fruto disto o reformista Musavi ganhou de facto as eleições e o embuste de Ahmadinejad começa a ruir.
Apesar de muito se falar no fenómeno Obama, a verdade é que, hoje no Irão como ontem na Moldávia, surgiu o que já se apelidou de “Twitter Revolution”. Estes são exemplos eloquentes do poder que as novas tecnologias adquiriram na construção de consciências colectivas, movimentos políticos reformistas e regimes democráticos.
Publicado no JORNAL OJE
Sem comentários:
Enviar um comentário