segunda-feira, 11 de maio de 2009

O PARTIDO PIRATA

Desde há muito que reflectimos sobre a decadência dos partidos políticos enquanto entes mobilizadores de vontades nas novas democracias. Por isso mesmo é inelutável que: sucedam diversos exemplos de entidades informais em torno das quais os cidadãos se organizam; os níveis de abstenção disparem para números nunca vistos (projecções de quase 70% nas próximas europeias) e esteja em curso uma mudança da agenda política e do “modo de fazer política”.

Em Portugal, pouco atentos a estas mudanças, os mesmos de sempre teimam em não ver o óbvio e, pior, cometem erros crassos como a recente aprovação de uma lei de financiamento partidário que provoca mais suspeição e maior alheamento popular.

Por estes dias na Suécia, onde tantas vezes surgem novos fenómenos políticos e sociais, foi criado o “Partido Pirata”. Assim mesmo. Conta, em poucas semanas, com cerca de 45.000 filiados – sobretudo jovens - e é já a terceira maior organização política nacional, muito próxima dos conservadores que já governaram a Suécia durante anos!

O “Partido Pirata” surgiu na sequência do caso “Pirate Bay”, por via do qual uns jovens suecos foram condenados por pirataria informática ao usarem o sistema “peer-to-peer”. No fundo, o denominador comum entre os associados é o desejo da “livre” partilha de conteúdos na internet sem que sejam reconhecidos os direitos de propriedade intelectual.

Sem analisar a questão de fundo – que do meu ponto de vista é complexa porquanto desprezar os direitos autorais e a propriedade intelectual é destruir valor e entravar a inovação – o que daqui resulta como digno de registo é que os cidadãos se mobilizam por causas concretas, muitas das vezes sem cunho político evidente; desprezam os partidos clássicos para o efeito e usam crescentemente as novas tecnologias para esse desiderato.

O que daqui pode resultar ninguém sabe, mas garantidamente sairá algo. Senão vejamos: vão introduzir na agenda política sueca novos temas; desejam eleger já eurodeputados e, com certeza, defendem posições totalmente radicais. Os efeitos não se resumirão a Estocolmo, mas chegarão a Bruxelas com o impacto que tal tem no espaço europeu. Os cidadãos, sobretudo mais jovens, fartos do mesmo estão disponíveis para qualquer aventura.

Pois bem, e salvaguardadas algumas condicionantes constitucionais, não andaremos muito longe da verdade se um destes dias, um pouco por todo lado, começarem a surgir movimentos partidários e com força política real mobilizados por temas totalmente imprevistos. Foi assim que há 30 anos surgiram os partidos ecologistas. Hoje, sinais dos tempos, a pirataria começa a ter a mesma força. Dá que pensar!

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