Os comentadores são quase uma instituição em Portugal. Temos os que fazem considerações sobre futebol, sobre política, sobre economia. Sobre tudo e um par de botas. De tal modo que, tantas vezes, o comentador adquire maior notoriedade que o comentado, seja facto ou pessoa.
Pois bem, a entrevista do Primeiro-Ministro à RTP1 gerou um novo fenómeno e uma mudança de paradigma: o micro-comentário político. Democratizou-se na internet o comentário instantâneo e espontâneo. Passo a explicar: em simultâneo à prestação televisiva de José Sócrates milhares de cidadãos comentavam no “Twitter”. Em liberdade permitiam-se ridicularizar os adereços da Judite de Sousa, criticar alguma agressividade do político ou elogiar a capacidade argumentativa do mesmo e até pôr em questão a preparação estratégica dos entrevistadores.
Até ao momento, nunca em Portugal se tinha assistido a fenómeno idêntico. Tão interessante quanto reflecte a criatividade lusa, pois que tudo se reconduz apenas a 140 caracteres. Mais, a ferramenta adequa-se em tudo à nossa idiossincrasia: simplicidade e comodidade. Não temos de reflectir muito nem ter muito cuidado com a forma. Mas nem por isso as considerações tinham menor acutilância ou acuidade.
Acresce, que com o “Tweeter” podemos testemunhar debates e troca de argumentos entre protagonistas que habitualmente não nos estão acessíveis; levanta-se um manto de privacidade opinativa de alguns (designadamente jornalistas) que fogem assim à objectividade da notícia e passam a comentar em liberdade. Em suma, passamos a conhecer-nos melhor.
Essencialmente, a política (ou qualquer outra actividade com dimensão pública) está agora mais sujeita a escrutínio popular. Os palcos não se resumem aos “plateaux” televisivo ou às pianhas dos comícios. A política faz-se em todo o lado e por toda a gente. Ainda bem!
A riqueza dos micro-comentários ficou evidenciada quando, imediatamente após o debate, entraram em cena os comentadores profissionais, daqueles que nos entram em casa dia sim dia sim, com uma mão cheia de banalidades e evidências. Sobretudo, depois de ter assistido ao desfiar de ironia e à assertividade de alguns “tweets” fica sensação do “déjà vu” e compreendemos melhor porque os estudos recentes demonstram que a televisão perde – crescentemente - em tempo dedicado para a internet.
Publicado Jornal OJE
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