Ouvi, esta semana, no Rio de Janeiro, o seguinte comentário:
“Há 20 anos, na “ECO92”, a Europa dominou a agenda ambiental, hoje não se
pronunciou sequer sobre o desaparecimento dos icebergs, porque o foco é outro
afundamento, o da Grécia”. A verdade é que as agendas regionais e a atual crise
económica deixaram para segundo plano os objetivos centrais da Conferência das
Nações Unidas sobre Sustentabilidade. A economia real impôs-se à “economia
verde”.
As principais potências mundiais acabaram por participar de
forma tímida no debate e, consequentemente, os demais países – sobretudo os
emergentes – reagiram de igual modo. Em suma, o desinteresse de uns justificou
a inépcia dos outros. Postura preocupante.
O Secretário-Geral das Nações Unidas alertou várias vezes
para o fato de podermos não ter mais tempo para organizar a “Rio+40”, ou seja, em
20 anos os danos causados no ambiente serão (como em muitos casos hoje já
sentimos) irreversíveis. Sinceramente, o clima diplomático era de algum otimismo,
porém custa-me aceitar pacificamente que nestas conferências as declarações
finais sejam boas em si mesmo, apenas porque resultam da “arte do possível”.
Rever os modelos de crescimento dos países é imperativo não
apenas porque gera as manifestas desigualdades sociais que conhecemos, mas
igualmente porque têm sido feitos à custa de uma exploração desregrada e
desproporcionada dos recursos naturais. A situação é de emergência real,
todavia na agenda política a crise financeira e o desemprego deixam pouco espaço
para o ambiente e sustentabilidade. O que é um erro, pois eles são
concomitantes e não excludentes.
Enquanto isso, sabe-se já que a receita turística destes dias
de Rio+20 na “cidade maravilhosa” é superior a 60 milhões de reais. Impressionante
aporte! Porém, a verdade é que o Rio não estava preparado para receber este
tipo de eventos globais. Não tem infraestruturas (hoteleiras, viárias,
aeronáuticas,..) nem profissionalismo organizativo. As coisas acontecem porque
têm de acontecer, a custo elevado e consumindo muito da paciência e do tempo
coletivos.
É uma pena. O Rio tem todas as condições naturais, mas
falta-lhe ainda o resto, que é muito. Vejamos agora como vai ser com a Copa do
Mundo e, em especial, com os Jogos Olímpicos. O temor aumentou!