"Se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável" (Séneca)
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
ARRISCAR PRECISA-SE!
Por estes dias, li num site brasileiro de empreendedorismo a história de uma jovem paulista de 23 anos, com um currículo impressionante, que formada na melhor escola do Mundo de tecnologia – o Massachusetts Institute of Technology– depois de trabalhar no Google e na Microsoft decidira sair para montar o seu próprio negócio.
O que faz alguém tão jovem dispensar a notoriedade e a estrutura dos gigantes tecnológicos Google e Microsoft para se lançar por si no mercado? As respostas para esta questão ajudam a compreender em parte o mundo atual e, sobretudo, a meu ver, podem auxiliar na saída para a crise de um país como Portugal.
O Mundo global da Internet não tem fronteiras, é sabido. Mais, hoje há soluções tecnológicas que a baixos custos permitem começar um negócio rapidamente e vender para os quatros cantos do mundo. Ideia impensável há uns anos. Afinal, o mais importante é a ideia e o modelo de negócio.
A Isabel Mattos, a tal jovem brasileira, pensou num aplicativo gratuito (sublinhe-se) que ajuda a gerir as finanças pessoais. É uma espécie de folha de cálculo organizada e disponível de forma simples em todo o lado, do telemóvel ao computador. No primeiro mês teve 400.000 “downloads” e neste momento já emprega 18 pessoas. Impressionante!
São inúmeras as histórias que diariamente se conhecem deste tipo, sobretudo nos Estados Unidos, mas um pouco também nos países emergentes. Ou seja, há um espírito empreendedor em marcha, um gosto pelo risco que é premiado e não recriminado, um papel estimulante da universidade e o prazer da auto-regulação individual.
A transposiçao para Portugal é óbvia: temos de ter uma ideia de país, um desígnio nacional e, depois, um modelo de desenvolvimento/governação. Neste momento faltam-nos os dois. Honra seja feita ao governo de Sócrates que tinha, pelo menos, o primeiro: um país de tecnologia e de energias renováveis para o Mundo.
Portugal tem um potencial humano imenso, uma posição geográfica privilegiada, uma relação histórica ímpar com o Mundo e vários casos de sucesso que comprovam que vale a pena arriscar. Há por aqui muita “Isabel Mattos” em potência!
Que o novo ano nos traga mais estímulo e boa energia!
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
COISAS DA DEMOCRACIA...
1.O “Economist Intelligence Unit” elabora anualmente um “Índice da Democracia”. Portugal – assim como outros países europeus, entre os quais a França, a Itália e a Grécia – desceu no ranking, sendo que foram apontadas diversas falhas ao nosso sistema democrático. Portugal não é mais uma “democracia plena” (na expressão daquela entidade), mas apenas uma “democracia com falhas”.
Os critérios de avaliação abordam o processo eleitoral e pluralismo, o funcionamento do Governo, a participação política, a cultura política e as liberdades cívicas. Os piores resultados são nas categorias de funcionamento do governo e de participação política.
É uma má notícia para o governo. É sabido que, em Portugal, a administração pública e os ministérios podem melhorar a perfomance, assim como serem criados novos e melhores programas para a participação cívica e política dos cidadãos. Desde logo a revisão da lei eleitoral e a reforma no funcionamento dos partidos.
Agora, é interessante reter o seguinte: com a crise a soberania nacional diluiu-se muito, ou seja, percebemos que depende muito pouco de cada país resolver os seus próprios problemas; porém – piorando a coisa – observámos ainda que não existe uma entidade europeia que congregue esforços para uma superação comum dos efeitos da atual crise.
Há, hoje, uma sensação de perda e de insegurança. A dita identidade europeia é um conceito mais vago e as resoluões que impõem taxas de juro, cortes salariais e medidas de austeridade resultam de fatores intangíveis, obscuros e nada legitimados democraticamente.
2.O Partido Comunista Português votou contra um voto de pesar pela morte do ex-Presidente Checo, Vaclav Havel. Inacreditável! Ficaram isolados na homenagem a um político que combateu pela democracia checa, que foi por isso reconhecido e eleito Presidente da República e, além disso, um grande escritor e dramaturgo.
De uma penada, o PCP deixou cair a máscara e revelar uma vez mais que vive fora do tempo e que a democracia tem por aquelas bandas signficados distintos em função dos contextos...Talvez por isso mesmo tenham lamentado publicamente a morte do assassino e ditador coreano, Kim Jong Il, como é sabido um paladino das virtudes democráticas!..
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
CARTA ABERTA AO MINISTRO PAULO PORTAS
*Carta publicada no Diário As Beiras em 9 de Setembro de 2011
Distinto Ministro dos Negócios Estrangeiros,
Desejo lançar-lhe um desafio: irmos do “brain drain” para o “brain bank”. Passo a explicar.
Portugal vive atualmente um dos maiores fluxos de emigração desde as décadas de 50/60. Todavia, hoje, as saídas ocorrem por motivos diferentes e com perfis absolutamente distintos: quem sai é altamente qualificado e não busca sobretudo sobreviver; sai para conhecer mais e progredir profissionalmente.
Desde então o mundo também mudou. Acabaram as fronteiras e a tecnologia permite-nos continuar cá dentro vivendo lá fora. Até a saudade é um conceito em mutação mitigado por inovadoras formas de comunicação.
A presente crise, em Portugal, tem muitos contornos. Gostaria de destacar o que, sendo de algum modo intangível, considero o mais relevante no médio e longo prazo: o país está a perder capital humano. O que não é coisa pouca, sobretudo quando nos faltam reservas financeiras, riquezas naturais e minerais; este “brain drain” é absolutamente crítico.
No Brasil, onde me encontro, vejo chegar diariamente ondas de portugueses (entre os 25 e os 40 anos sobretudo) para desempenhar cargos de responsabilidade nos mais diversos setores de atividade. Rapidamente se impõem pelas competências profissionais associadas a qualidades humanas.
Basta navegarmos pelas redes sociais para observar que este fenómeno está a acontecer pelos “quatro cantos do Mundo”.
E então?.. Poderemos “assobiar para o lado” e continuar focados exclusivamente na vidinha ou, ao invés, compreender como pode uma ameaça transformar-se numa oportunidade.
Os portugueses são reconhecidos como “hard workers”, confiáveis e criativos. As competências para nos adaptarmos naturalmente ao contexto vêm de há muito. Não é coisa pouca numa economia do tempo.
Quando é sabido que a nossa diplomacia económica é frágil deveria aproveitar-se esta nova vaga de talento, geograficamente dispersa, para promover lá fora a imagem nacional: os nossos símbolos, marcas, inovações. “Embaixadores” da nova economia.
O MNE deveria institucionalizar esta rede de talentos nacionais, composta pelos novos emigrantes, para recolher contributos e boas práticas de inovação. E, acima de tudo, criar vínculos que permitam o regresso um dia, fortalecendo o país. Isto é “brain bank”: o objetivo.
Ainda estamos a tempo. Basta querer, Senhor Ministro!
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
UMA MORTE ANUNCIADA
Um jornal de Coimbra noticiava os pedidos sucessivos do Provedor do Ambiente à Câmara de Coimbra para proceder ao controlo efetivo do ruído na Alta da cidade. Para quem leu ficou interessante perceber as visões contraditórias entre dois vereadores da maioria àcerca do mesmo problema e, acima de tudo, uma ausência total de estratégia do município para a histórica Alta da cidade.
A questão do barulho no centro histórico de Coimbra é apenas um dos muitos problemas daquela área urbana há muito deprezada pelos dirigentes da cidade. Insegurança, insalubridade, degradação urbana...são obviamente outros.
Coimbra tem o privilégio de ter um dos mais belos patrimónios históricos do país e não tem sabido cuidar dele. Desde candidaturas a Património Mundial que se arrastaram décadas até à ausência de uma visão estratégica para fixar população jovem naquele espaço tudo tem acontecido.
Não precisamos de ir muito longe na Europa – fiquemos pois pelos nossos vizinhos espanhóis – para experimentarmos a sensação magnífica de recuar no tempo em espaços urbanos plenos de vida que são os centros históricos das cidades. Os ”cascos antiguos” têm museus, casas de artesanato e idosos, mas também têm muitos jovens, bares e livrarias. Ou seja, o velho convive com o novo e a história com a modernidade.
Numa cidade universitária – que cada vez mais vive apenas e só disso!.. – acabar com a vida noturna, própria da juventude, na alta da cidade seria condenar definitivamente à morte a alta e os seus já poucos residentes.
Obviamente que o ruído deve ser controlado (e respeitada a lei), mas ao invés de multar apenas – como veio propor o Provedor - caberia ao Município ter um plano para apoiar e estimular jovens empreendedores a fixarem-se na alta com os seus negócios (dos bares até a oficinas de inovação), uma parceria com a Universidade para que determinados departamentos/projetos ali pudessem funcionar dia e noite, uma parceria com os empresários da construção civil da cidade para um consórcio imobiliário, etc etc.
À Alta já falta quase tudo. Tudo menos o passado, porém é de futuro que Coimbra precisa e, quer se goste ou não, o ruído naquela àrea da cidade ainda é sinal de vida!..
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
BACO EM VEZ DE TROIKA...
Passaram vários séculos desde que alianças estratégicas privilegiaram a exportação de produtos portugueses ajudando a balança comercial. O vinho do Porto adquiriu então notoriedade por força do mercado inglês. Ainda hoje se sentem os efeitos.
Hoje, Portugal volta a mergulhar numa das suas mais profundas crises. É já um lugar comum dizer-se que a saída passa pela internacionalização da nossa economia e pela exportação de produtos e serviços. Mas é tão verdade que deve repertir-se à exaustão.
Esta semana ao ler a Revista Veja, no Brasil, tive a grata oportunidade de confirmar a qualidade e o reconhecimento público dos vinhos portugueses. Uma reportagem indicava que a Proteste Brasil considerou três vinhos portugueses (em 10 analisados e testados) como os melhores na relação qualidade/preço, sendo que o “campeão” é da região demarcada do Dão.
É bom ler notícias destas. Sobretudo nos tempos que correm.
Confirma-se assim que - como há séculos - o sector vitivinícola pode ajudar (e muito) a nossa economia a recuperar e a internacionalizar-se, através da exportação direta, mas também aproveitando o elevado potencial turístico do setor. Países como o Chile e a Argentina podem ser boas fontes de inspiração!
O Brasil é, hoje, reconhecidamente um dos mercados de consumo mais relevantes do Mundo. Também nos vinhos começa, quer na produção e sobretudo no consumo, a despontar.
Apesar de tudo há ainda muito a fazer, essencialmente na promoção, pelos vinhos portugueses nesta geografia. Por experiência pessoal digo que nem sempre a oferta de vinhos portugueses é a adequada (seja porque escassa ou pelos preços exorbitantes), sobretudo se comparada com os vinhos chilenos e argentinos. Há ainda, pois, um caminho a percorrer, simultaneamente desafiante e gratificante pela qualidade intrínseca dos nossos vinhos.
Ainda assim, pode Baco fazer mais pela economia nacional que a Troika...
Subscrever:
Mensagens (Atom)