quarta-feira, 28 de julho de 2010

ANOREXIA COIMBRÃ



Coimbra perdeu peso nas últimas – diria essencialmente duas - décadas. Este facto é insofismável. Perdeu influência política, económica, social e académica. Em suma, “caiu do pedestal”, ainda que muitos se recusem a ver essa realidade. E essa resistência tem sido assassina.

Basicamente, Coimbra perdeu peso por três razões: ausência de um plano de desenvolvimento estratégico; desqualificação das lideranças e inadaptação à mudança.
Então, vejamos: uma qualquer empresa, seja pequena ou grande, pode até sobreviver mas não cresce sem um plano de negócio e sem uma linha de orientação clara.

Ora, com os países, com as cidades e com as regiões passa-se exactamente o mesmo. Coimbra, que até tinha alguma indústria, assentou a sua (sobre)vivência em serviços sobretudo públicos e relacionados com a saúde.

Porém, os processos industriais foram-se alterando, a dimensão do Estado está inexoravelmente a reduzir-se e a saúde vem-se privatizando e especializando crescentemente, pelo que se perderam os pilares económicos e sociais.

Acresce, que Coimbra não soube planear e por isso mesmo não antecipou as tendências, sejam económicas ou outras, e, por isso mesmo, raramente é proactiva e liderante no contexto nacional.

“O que queremos que Coimbra seja dentro de 15 anos?”- este é o debate que vale a pena travar, agregando todos sem excepção. Sem esse desafio será sempre mais do mesmo.

Por outro lado, como se não bastasse a falta de um rumo claro, os protagonistas locais com responsabilidades (independentemente do partido político, a sublinhado) não têm merecido o reconhecimento nacional. Coimbra era tido por alfobre de lideranças – Primeiro-Ministro, Ministros, Secretários de Estado, Directores-Gerais,... – tantas vezes causando a inveja da macrocefálica capital. Hoje, uns artigos no jornal local e dois minutos numa televisão já dão estatuto e auto-confiança para poder ser reeleito...

Há muito que nos “corredores do poder” (económico, político, cultural) Coimbra é sinónimo de arqueologia e de um certo odor a mofo. É triste, mas é assim. Quem nos representa nos foruns de decisão é anónimo, não tem vida própria, nem pensamento conhecido. Move-se pela vidinha...e pela reforma...

Paradoxalmente, Coimbra continua a formar todos os anos muitos recursos de qualidade, contribuindo para uma assinalável exportação de talento. Há-os às centenas por esse Mundo fora. Há ainda os que resistem estoicamente a sair...até um dia.

Coimbra tem uma diáspora própria que poderia ser usada como bolsa de valores e de criatividade. Estão muitos disponíveis para esse contributo. Mas quem “ordena” (gerir é outra coisa!) não sabe nem que eles existem, nem lhes interessa o que têm para dizer...

Finalmente, Coimbra não se adaptou àquilo que o filósofo Heraclito trata por “devir”: a mudança. Nunca como hoje o Mundo mudou, transformando-se a cada minuto. Coimbra resiste a um modelo de cidade e de região em que comandava sobranceira a partir da Torre da Universidade os destinos do país. Infelizmente, para todos, os pressupostos mudaram radicalmente. A Universidade portuguesa não é a mesma, o país não é o mesmo e os portugueses também são outros.

A habilidade para a adaptação é um “skill” essencial para o sucesso, desde que assente num plano e nas pessoas certas, de outro modo é puro oportunismo que cheira a perversão e trará apenas a vantagem de alguns e não de todos como se deseja.
Enfim, mas tudo isto interessa pouco a Coimbra (a esta Coimbra, explico). Afinal de contas, estamos no fim de Julho e vamos a banhos para a Figueira...

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