sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

APOLOGIA DO CINZENTO


A democracia vive de alternância e de alternativas, por isso mesmo quanto mais opções tivermos mais simples e consciente se torna a escolha. O problema está no cinzento, naquilo que gera indiferença e não se distingue.

Uma oposição forte credibiliza o sistema e valoriza o próprio governo, porque o torna mais atento e mais eficiente. Isto tem faltado, manifestamente, nos últimos tempos, em Portugal.

O processo de escolha de uma nova liderança no PSD é, por isso mesmo, um momento não desprezível. Algo resultará: mudará o líder, mas o que mais poderá mudar? Nesta fase é uma incógnita.


Aliás, em bom rigor, muito pouco sabemos sobre o que pensam os candidatos do PSD. Como resolveriam o problema do desemprego? Como relançariam a economia nacional? Qual a aposta na educação? Continuariam com o Plano Tecnológico? Que ideias para reformar a Justiça?.. Sobre tudo isto ainda nada se disse.

Muito se tem dito e escrito sobre a crise das ideologias, de tal modo que se construiu a tese de que as eleições se ganham, regra geral, ao centro; numa massa eleitoral volátil que ninguém consegue identificar, mas que fica algures entre a esquerda e a direita. Ora, se isso existe será pois aí que os candidatos do PSD se quererão posicionar. Aqui está o primeiro risco: a ausência de compromisso e, consequentemente, de factores diferenciadores.

Mas, sobretudo, o poder não se conquista, perde-se. Quer isto dizer que o actual governo, cuja legitimidade eleitoral é inquestionável, tem todas as condições para governar – aliás, uma crise política nesta fase seria trágica para a nossa débil economia – e, portanto, deve prosseguir o seu rumo, dependendo, assim, da respectiva performance o sucesso ou insucesso desta legislatura, sendo, pois, um pouco indiferente – nesta data – quem será o senhor que se segue no PSD. Sócrates depende essencialmente de si próprio.

Seria, em suma, importante para Portugal que no PSD se travasse um combate entre o “preto” e o “branco”, retirando da zona cinzenta de conforto os candidatos.
Publicado no Diário As Beiras

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