quinta-feira, 12 de julho de 2012

O PROFESSOR GREGO



Numa oportunidade única de ter à mesma mesa o Senador Cristovam Buarque (ex-Ministro da Educação do Brasil) e o atual embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Ribeiro Telles, tive o privilégio de escutar e aprender com as perspetivas políticas e diplomáticas para alguns dos principais problemas que afetam os dois países e o mundo em geral.

O Senador Buarque mencionou um exemplo que o marcara em recente visita à Grécia e que diz muito do que se está a passar – e continuará - na velha europa em recessão. Um professor universitário ateniense a quem o governo cortara drasticamente o salário e o horário de trabalho viu-se na contingência de rever todas as opções orçamentais familiares, desde logo passar a usar transportes públicos ao invés de carro próprio e colocar o filho numa escola pública retirando-o de um colégio privado. Até aqui, nada de novo. Temos escutado todos semelhantes histórias, em Portugal também.

Acontece, que o inovador da estória reside no fato do dito professor universitário, uma vez com o horário de trabalho reduzido, decidiu emprestar o seu conhecimento e experiências académicas à nova escola pública do filho, que se preparou para este tipo de novas circunstâncias. Ou seja, um novo modelo de voluntariado a despontar que aproveita o “know how” e as qualificações de uns para melhorar o ambiente e as competências escolares de outros. Tal como ao Senador, também me pareceu oportuno e interessante.

O maior desafio que o mundo moderno está a atravessar é no seu modelo de distribuição de riqueza e de competências. Afinal de contas, apesar da crise profunda, o número de milionários aumentou. Ao mesmo tempo que o desemprego não pára. Existe aqui uma incongruência profunda que merece respostas disruptivas.

Pensar em rever a jornada de trabalho pode ser uma opção para repartir por mais a oportunidade de emprego. Assim, não se olha o problema apenas do lado do salário. Concomitantemente, tem de refletir-se sobre o que fazer e dar a fazer nos novos horários livres. Pois bem, o voluntariado qualificado e qualificante como o expresso no exemplo do professor grego pode ser uma opção, que o estado estimule através de benefícios fiscais quando verificado em domínios públicos ou de elevado impacto social, económico e educativo. Afinal, uns vão dedicar parte do seu tempo a melhorar a vida dos outros.

Até  aqui o voluntariado era para consumo pessoal e alimentar a auto-estima, a partir de agora deve ser um modelo pensado publicamente, articulado com setores estratégicos ou onde a crise impacta demais e com óbvio suporte governamental.



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