Numa oportunidade única de ter à mesma mesa o Senador
Cristovam Buarque (ex-Ministro da Educação do Brasil) e o atual embaixador de
Portugal no Brasil, Francisco Ribeiro Telles, tive o privilégio de escutar e
aprender com as perspetivas políticas e diplomáticas para alguns dos principais
problemas que afetam os dois países e o mundo em geral.
O Senador Buarque mencionou um exemplo que o marcara em
recente visita à Grécia e que diz muito do que se está a passar – e continuará
- na velha europa em recessão. Um professor universitário ateniense a quem o
governo cortara drasticamente o salário e o horário de trabalho viu-se na
contingência de rever todas as opções orçamentais familiares, desde logo passar
a usar transportes públicos ao invés de carro próprio e colocar o filho numa
escola pública retirando-o de um colégio privado. Até aqui, nada de novo. Temos
escutado todos semelhantes histórias, em Portugal também.
Acontece, que o inovador da estória reside no fato do dito
professor universitário, uma vez com o horário de trabalho reduzido, decidiu
emprestar o seu conhecimento e experiências académicas à nova escola pública do
filho, que se preparou para este tipo de novas circunstâncias. Ou seja, um novo
modelo de voluntariado a despontar que aproveita o “know how” e as
qualificações de uns para melhorar o ambiente e as competências escolares de
outros. Tal como ao Senador, também me pareceu oportuno e interessante.
O maior desafio que o mundo moderno está a atravessar é no
seu modelo de distribuição de riqueza e de competências. Afinal de contas,
apesar da crise profunda, o número de milionários aumentou. Ao mesmo tempo que
o desemprego não pára. Existe aqui uma incongruência profunda que merece
respostas disruptivas.
Pensar em rever a jornada de trabalho pode ser uma opção para
repartir por mais a oportunidade de emprego. Assim, não se olha o problema
apenas do lado do salário. Concomitantemente, tem de refletir-se sobre o que
fazer e dar a fazer nos novos horários livres. Pois bem, o voluntariado
qualificado e qualificante como o expresso no exemplo do professor grego pode
ser uma opção, que o estado estimule através de benefícios fiscais quando
verificado em domínios públicos ou de elevado impacto social, económico e
educativo. Afinal, uns vão dedicar parte do seu tempo a melhorar a vida dos
outros.
Até aqui o
voluntariado era para consumo pessoal e alimentar a auto-estima, a partir de
agora deve ser um modelo pensado publicamente, articulado com setores
estratégicos ou onde a crise impacta demais e com óbvio suporte governamental.
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