quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

SEM VERGONHA!


Em Espanha, o governo de direita recentemente eleito acaba de anunciar que vai rever a Lei da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), num injustificado retrocesso civilizacional. Aqui, o governo português, também de direita, já anunciou que pretende muito provavelmente fazer o mesmo. As más práticas replicam-se...

Num caso como noutro estamos perante embustes do tamanho do défice! Na verdade – e a direita é exímia nisso – os governantes de um e de outro lado da fronteira estão-se borrifando para a saúde pública, para os direitos das mulheres e para o combate ao aborto clandestino. Este tipo de decisão, num caso, e anúncio noutro, corresponde a uma manobra antiga de diversão, isto é, criar um fato paralelo que distraia as mentes face ao essencial.

Portugal, como Espanha, vivem hoje os momentos sociais e económicos mais difíceis desde a implantação das respetivas democracias. O desemprego atinge as mais altas taxas de sempre, o poder de compra nunca foi tão escasso, as empresas definham sem mercado, a banca está comprometida sem igual, etc etc. Ora, e perante este cenário pré-catástrofe os governos de direita eis que tiram da cartola a necessidade de rever a Lei da IVG, pois isso sim impacta no quotidiano das pessoas e vai, com certeza, mudar o rumo das coisas...

Lamentável! Vergonhoso! A direita sabe que o tema do aborto mobiliza consciências, divide, agita opiniões e tem espaço mediático, por isso o “show off” premeditado. Enquanto o “zé” estiver ocupado no café a discutir sim ou não ao aborto, enquanto nas missas se fizem sermões sobre o tema, enquanto as televisões alimentarem debates fraturantes, o governo descansa...tem mais tempo para pensar como (não) enfrentar a crise!

Como se não bastasse, ouvindo os responsáveis da direita, em Portugal e em Espanha, usam o mesmo argumento: foi uma promessa eleitoral e por isso está legitimada. Legitimada? Uma porra! Na verdade, também prometeram não aumentar impostos e conter o desemprego e nenhuma das duas está a ser realizada. A legitimidade democrática é outra coisa, bem mais séria e responsável!

Para já, perguntem às milhares de mulheres portuguesas, a maioria de baixa condição económica, que deixaram de abortar (e de correr risco de vida) em abortadeiras de vão de escada qual a respetiva opinião. Isso sim, conta e legitima!


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