É deprimente ler os jornais portugueses. Desemprego, crise, depressão, crime, cortes salariais e emigração são, com certeza, as expressões mais usadas. Mais grave se torna, quando não percebemos onde termina este buraco recessivo e em nome de quê se estão a impor tantos sacrifícios.
Valeria, pois, a pena enviar parte do governo português, qual viagem de estudo, à Coreia do Sul para compreender como aquele povo, com orientação do Estado mas sem castração da iniciativa privada, se reabilitou da gravíssima crise financeira de 1998 e, hoje, se apresenta como país-modelo com taxas de crescimento elevadas e desenvolvimento sustentado.
Samsung, LG, Hyundai e Daewoo são exemplos, entre outros, de marcas coreanas que se tornaram globais e casos de sucesso. Na origem está o suporte estratégico que receberam do poder público para se transformarem em empresas exportadoras e com elevado índice tecnológico. Ou seja, cedo os coreanos compreenderam que o crescimento sustentado não pode depender apenas do mercado interno e que o Estado, sobretudo na definição das políticas de acesso ao crédito e aos estímulos à exportação, pode dar uma ajuda inestimável.
Por outro lado, os coreanos foram motivados a associar-se. A criar grupos económicos fortes pela soma das partes. Ou seja, a globalização dos mercados exige níveis de competitividade muito elevados que apenas uma cooperação estratégica pode dar escala. Dito de outro modo, grandes grupos portugueses (na construção civil, distribuição alimentar, energia, etc etc) são “nano-entidades” à escala mundial, pelo que os agrupamentos de empresas, sobretudo voltados para estratégicos mercados externos, deveria há muito ter sido opção nacional.
Finalmente, e talvez o mais importante dos condimentos do sucesso coreano, o investimento público em educação. Hoje, o modelo educativo coreano contém inúmeras “boas práticas” mundiais, fomentando o conhecimento das ciências exatas e estimulando competências para a economia do conhecimento e para a sociedade da informação, afinal de contas aquilo que hoje faz mover o mundo.
Com a “estratégia do pastel de nata“ não chegaremos a lado nenhum. Mais vale ir a Seul aprender intensivamente como se faz.