terça-feira, 22 de junho de 2010

DE BESTIAL A BESTA!



Saramago passou de besta a bestial em poucas horas após o falecimento. O habitual neste cantinho à beira-mar plantado... As vendas dos seus livros aumentaram dez (10) vezes em 48 horas. Arriscaria dizer que muitos comentaram publicamente a morte sem nunca lhe terem lido uma linha...talvez os mesmos que o criticaram ferozmente em vida.

Saramago era polémico. Tinha opinião e pensava em alta voz. Tinha coragem. Tudo isto é bom e faz falta. Não agradar a todos era o preço normal a pagar por tamanha ousadia. Que importa?

Pior que a frontalidade excessiva e a conflitualidade assumida de uns (entre os quais Saramago) é a hipocrisia e o fariseísmo de outros (tantos com foto publicada nestes últimos dias...).

Incomoda-me profundamente que na morte se levante o coro das homenagens e das ossanas póstumas, sobretudo quando em vida se ostraciza, despreza ou critica injustamente o homenageado.

Saramago pensava o país. Desejava um outro país. Sobretudo porque o observava de fora e essa distância dava-lhe uma perspectiva contundente mas tantas vezes realista. Por isso mesmo uma das suas intervenções mais polémicas terá sido quando defendeu a “unificação” de Portugal e de Espanha.

Saramago vivia, em casa, uma união do coração com a Espanha. A mais forte e indelével. Daí a pensar num espaço ibérico único foi um pequeno passo. Quando há três anos afirmou essa perspectiva ainda se vivia a euforia do crescimento. Hoje, em crise, fica mais claro que a Europa não responde aos nossos problemas e que a associação cultural e económica de Portugal e Espanha se apresenta como uma solução interessante. Antero de Quental no século XIX já o havia defendido... Têm ambos razão do meu ponto de vista.

Goste-se ou não do estilo literário de Saramago, da sua visão política das coisas e do Mundo e da sua postura social, a verdade é que ficará para sempre como protagonista da nossa história. Mais, como símbolo das letras mundiais.

E nós que precisamos de tantos símbolos, sobretudo vivos!..

segunda-feira, 21 de junho de 2010

DEMOCRACIA DIGITAL LI



Há um sem-número de “best-sellers” e as conferências sucedem-se sobre como vender através do Facebook, encontrar emprego no Linkedin, casar no Twitter, ser feliz no Hi5, etc etc.

O que aqui vos exponho é o relato fiel de uma experiência pessoal passada recentemente.

Quem não tem uma estória para contar com um serviço ou linha de apoio ao cliente que atire a primeira pedra?.. Todos, arriscaria a dizer sem excepção, já esperámos horas por um atendimento telefónico; já nos indignámos perante a chamada urgente que do “outro lado” apenas tem por interlocutor um máquina; já “trepámos paredes” com a chamada que cai – depois de minutos infinitos de espera – sem que o operador nos devolva a chamada apesar de saber bem quem somos...Daria para escrever um livro (se já não existe) sobre o pesadelo das linhas de atendimento.

Em suma, o relacionamento comercial entre empresas e clientes, estados e cidadãos passa cada vez mais por mecanismos não presenciais, logo alternativos aos modelos clássicos.

Por isso mesmo os “call centers” são dos negócios mais rentáveis e emergentes do momento.
A TAP é um caso paradigmático de mau funcionamento da sua linha de apoio (?) ao cliente, dando da empresa uma manifesta má imagem e gerando uma danosa percepção pública.

Ora, sucede que a TAP está (inelutavelmente) presente no Facebook. Usei esta via para tentar resolver um problema urgente que não tinha conseguido pela forma dita-normal no 707 blá blá blá. O problema resolveu-se em tempo adequado e de forma civilizada.

Ao contrário da chamada telefónica em que há uma relação sigilosa de 1:1, no Facebook os 17.930 “amigos” da TAP puderam acompanhar o caso que apresentei: a crítica e o descontentamento. E, no final, a minha satisfação. Imagine-se o impacto na imagem da TAP e no valor da marca se as más experiências se sucederem!...Está aqui o poder das redes sociais.

PUBLICADO NO JORNAL OJE

quinta-feira, 17 de junho de 2010

LA RED INNOVA 2010 MADRID



Participação na Conferência Red Innova, em Madrid, dia 15 de Junho, para falar sobre Cloud Computing.

JÁ NÃO HÁ MILAGRES



O presente texto é escrito exactamente após o empate com a Costa do Marfim. Esse facto dá-me a vantagem de já saber o resultado. Apesar de tudo, não pude ver o jogo, por isso mesmo não me pronunciarei sobre a performance desportiva. Não sei se jogaram bem ou mal, mas para o caso é irrelevante. Asseguro, todavia, que aquilo que aqui deixar registado já o tinha em mente antes mesmo de saber do malfadado empate.

Feito o esclarecimento inicial, entremos então no tema. Há que distinguir, desde logo, duas coisas: o que gostaríamos que sucedesse não coincide (infelizmente) com o que regra geral acontece.

Portugal tem alguns dos melhores jogadores do Mundo, mas não tem um colectivo forte. O total nem sempre é igual à soma das partes. Seria importante perceber por que motivo a performance de Ronaldo, Simão e Liedson (por exemplo) na selecção nunca é tão boa quanto a que têm nos clubes respectivos. Alguém na FPF já se fez essa pergunta?.. Creio que essa seria a questão-chave para muitas das nossas apreensões e para o “credo na boca” dos últimos anos. A segunda pergunta tem que ver com o modelo organizativo que a FPF afecta à selecção: é a preparação para as grandes provas feita adequadamente?.. A terceira pergunta assenta como uma luva no treinador: sem pré-juízos, será Carlos Queiróz o melhor treinador para a selecção?... Estas e outras questões deveriam ser, sem peias, levantadas, pois creio sinceramente que há muito se insistem nos mesmos modelos, nas mesmas pessoas e nas mesmas estratégias para os lados da FPF. E os resultados comecam a aparecer.

Acresce, que com Scolari – mérito absoluto e exclusivo dele! – o país envolveu-se e abraçou a selecção nacional. O movimento das bandeiras foi notável e a alegria contagiante um momento para recordar sempre. Hoje, o nosso povo (com excepção dos emigrantes lusos na África do Sul) está muito apartado dos 12. Aliás, logo na Covilhã se multiplicaram as críticas pelo distanciamento que Queiróz imprimiu!...

Curiosamente, hoje, muito mais do que no Europeu de 2004 e no Mundial de 2006, o país precisa como de “pão para a boca” dos bons resultados da selecção, da alegria contagiante do futebol e da unidade nacional reforçada para subir os baixos níveis de confiança e auto-estima. A crise não tem de ser uma inevitabilidade e muito menos arrastar-se aos campos de futebol.

De regresso à África do Sul apenas para dizer que não tenho grande “fezada” nesta selecção. Creio que não passaremos da segunda-fase. Já não há milagres!

Enfim: temo que para história fique apenas o desconfortável ruído das vuvuzelas e mais uma oportunidade perdida...

DÉJÀ VU



A polémica gerada em torno do encerramento de algumas escolas no país é em tudo idêntica à que vivemos no passado recente por causa do fecho de maternidades. Um “déjà vu”, portanto. E isto sucede sobretudo porque o governo foi, uma vez mais, incapaz de comunicar e explicar o respectivo plano.

No meu entender, a questão central não é o encerramento em si, mas as razões que consubstanciam essa decisão. Vejamos então: são apenas motivos economicistas e orçamentais (o que já não seria pouco) ou há causas mais profundas (no caso das escolas de ordem pedagógica e no das maternidades de ordem clínica)?.. Em todo o caso, as razões pedagógicas são as mais relevantes no tema em apreço.

Fechar uma escola e transferir os alunos para outra mais distante e com iguais condições físicas e pedagógicas é um erro. Pior: injustificável. A mudança tem que trazer vantagens evidentes para os jovens: melhores condições de aprendizagem, melhores instalações, um ambiente multicultural e professores mais motivados por exemplo. Se estas foram as justificações do governo para tal decisão, logo, qualquer família sensata compreenderia a necessidade de mudança. Mas foram mesmo?..Não se percebeu.

Por outro lado, este tipo de decisões não podem ser “cegas” e tomadas por decreto do alto da “5 de Outubro”, isto é, sem atender casuisticamente a cada situação concreta. Há casos em que a escola é o único pólo vivo da aldeia ou vila ou em que a mudança dos alunos os distancia exageradamente das famílias sem vantagens pedagógicas. Não deve decidir-se sem olhar com ponderação para todos os factores.

Para situações complexas que geram forte impacto social como estas mandaria a prudência que se envolvesse na decisão o maior número de “stakeolders”: os municípios, os representantes dos pais e dos professores. Não o fazendo fica o decisor mais exposto...

É, claro, muito mais fácil, demagógico e populista estar contra este tipo de decisões e instrumentalizar as vontades populares. Aliás, recordemos as manifestações que então pediram a cabeça do Ministro Correia de Campos...e conseguiram. Vejamos o que acontece à da Ministra da Educação...

ATAVISMO SINDICAL



“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Mas será que mudam mesmo?...
Diria que a tecnologia avançou nas últimas décadas como nunca; que a medicina e a ciência oferecem hoje respostas inimagináveis para perguntas que há anos atrás pensávamos meramente retóricas; o Homem pisou a Lua e nos dias que correm organizam-se excursões para que outros o façam. Enfim, há um movimento perpétuo que comanda a vida.

Todavia, há coisas que parecem não mudar: as organizações sindicais continuam a obedecer às mesmas lógicas seculares e em busca dos mesmos objectivos. Quais sejam?..

Os sindicatos vivem da “luta” e da conflitualidade. A paz social não serve aos sindicalistas. A concertação social esgota a razão de ser do sindicalismo. Ou seja, as manifestações e as greves são legítimas (e constitucionalmente plasmadas) formas de expressão e de reivindicação laboral.

A história obriga-nos a respeitar o papel dos sindicatos e de muitos heróis sindicalistas na luta pelos direitos de quem trabalha. O bom-senso impõe-nos que salvaguardemos sempre a dignidade constitucional do sindicalismo. Porém, o patriotismo moderno deveria obrigar a repensar o contributo dos sindicatos para o bem colectivo.

Dito de outro modo: no estado actual da nossa economia e perante a grave crise que estamos a viver de que modo greves gerais, manifestações sucessivas e instabildade social ajudará à recuperação? Como pode o discurso agressivo e de agitação social propalado pelos líderes sindicais promover o aumento de produtividade?

As respostas a estas questões são óbvias: na rua não se alcançarão, nesta fase da nossa existência crítica, soluções úteis, nacionais e patrióticas. Não se salvará um posto de trabalho com mais greves. Não se exportará mais com manifestações sucessivas. Não obteremos mais crédito externo com conflitos nas ruas.

Este é um tempo diferente. Mudou muita coisa. Mudaram as relações de trabalho. Mudaram as organizações dos mercados. Mudaram as qualificações dos trabalhadores. E os sindicatos mudaram?...

Mais grave: é sabido e aceite que os sindicatos estão intimimamente ligados a forças partidárias e muitas vezes dependentes da agenda desses partidos e não dos interesses dos sindicalizados. Há uma perversão na forma como os sindicatos organizam a respectiva acção, sobretudo porque assente em gente mais desprotegida e, por isso mesmo, disponível para tudo...

É tempo de mudar. É tempo de acabar com o atavismo sindical. Esta crise é também uma oportunidade para quem diz ser representante dos interesses dos trabalhadores.