"Se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável" (Séneca)
sábado, 9 de outubro de 2010
DEMOCRACIA DIGITAL
No Brasil, 136 milhões de eleitores acabam de expressar a respectiva vontade cívica em eleições para a Presidência da República, Senado, Congresso, Governos e Parlamentos estaduais. Tudo feito através do voto electrónico. Algo complexo, diga-se, pois há que decorar chaves de candidatos identificados por números. Mas a coisa vai!..
Num país com aquela dimensão e dispersão geográficas - à parte uma certa suspeição política permanente – a verdade é que ao fim de poucas horas o escrutínio está feito, os resultados são publicados e aceites sem que se conheçam impugnações ou desconfianças face à natureza electrónica do voto. Um caso muito interessante.
Em Portugal, assim como noutros países europeus, ainda se receia pela transparência, confidencialidade e segurança deste modelo eleitoral. Confesso, que, depois de tantos pilotos realizados, não compreendo o cepticismo, sobretudo num país como o nosso.
O cartão do cidadão, projecto notável e pioneiro, detém mecanismos que garantem a segurança e confidencialidade dos dados que encerra. Esse dispositivo está, hoje, profusamente distribuído e pouco faltará para cada um ter o seu. Ora, essa chave electrónica é a porta de acesso a uma parafernália de utilizações que melhorarão a vida dos cidadãos e da sua relação com a administração, inclusive no exercício do voto.
Ser um mero repositório de informação (BI, Cartão de eleitor, NIF,...) é muito pouco para as potencialidades de uma ferramenta digital como o cartão do cidadão. Importa pois aprofundar nos usos e nas soluções que representa enquanto avanço cívico e democrático.
Tornar o Estado mais aberto e transparente, reduzir a burocracia pela desmaterizalização, promover a acessibilidade à informação pública, tornar a participação cívica mais activa e impactante são, com certeza, desideratos que promovem melhor democracia e mais legitimidade, pelo que as tecnologias da informação são ferramentas indispensáveis para os atingir. Alguém duvida?
DEMOCRACIA DIGITAL
Somos por natureza deprimidos, mas a forma como nos é apresentado o contexto actual, designadamente pelos media, aprofunda esse desânimo. Ora, na semana que termina, houve boas razões para mais optimismo e energia redobrada.
Foi apresentada a nova Agenda Digital 2015 para Portugal. Mais do que um programa de políticas é um desígnio e um compromisso com a inovação e a modernidade. De tal modo, que outros, sobretudo em Bruxelas, esperam com atenção pelo respectivo desenvolvimento para se inspirarem em medidas que concretizem a Agenda Europeia 20:20.
Podemos ter Orçamentos restritivos, o FMI ou o Berlaymont a entrar-nos porta-dentro, mas o que é verdadeiramente estratégico são apostas concretas em mais conhecimento, tecnologia e inovação, que alimentem um ciclo virtuoso de mais competências nas pessoas, mais internacionalização da economia e uma balança tecnológica positiva.
Esse é o caminho. Não há outro!
Um estudo da BCG, “The Economic and Social Impact of Next Generation High Speed Broadband”, revela que este programa de investimento previsto para a criação de uma rede de banda larga de nova geração de acesso universal poderá provocar um crescimento anual de 3000 milhões de Euros (1,8% do PIB) considerando o impacto directo e o efeito multiplicador noutros sectores, “criando 15 a 20 000 empregos qualificados e reduzindo 1,4 milhões de toneladas de emissões de CO2”.
Impressionante!
A Agenda Digital tem mais quatro eixos estruturantes (a que voltaremos): Melhor Governação, Educação de Excelência, Saúde de Proximidade e Mobilidade Inteligente. Convictamente, a Agenda Digital 2015 é o denominador comum do país – não conheço outro - deve pois ser aproveitado.
Publicado no Jornal OJE
DEMOCRACIA DIGITAL
O governo anunciou ao país, esta semana, um orçamento altamente restritivo e com medidas muito duras para fazer face à situação crítica em que nos encontramos. Enaltece-se a coragem.
Em Portugal, somos mestres em “lançar a primeira pedra” e nos anúncios com toda a pompa e circunstância. Já somos débeis na execução e no cumprimento das metas. Ora, o pacote de medidas de contenção da despesa pública e de relançamento da confiança externa no nosso sistema económico e financeiro é um bom ponto de partida para acrescentar uma outra iniciativa interessante às muitas práticas de “e-government” já tomadas.
À semelhança do que fez no passado ano o Presidente Obama (cfr. www.recovery.gov), aquando dos primeiros pacotes de estímulo, bem andaria o governo português se lançasse na internet um portal que reflectisse quase “on time” o evoluir e a execução das medidas políticas agora anunciadas.
Dito de outro modo, o escrutínio público é um dever e um direito cívico e por isso mesmo a transparência nos dados da administração permitem uma maior “accountability”. Sinal de maturidade e de desenvolvimento. Gostaríamos, decerto, todos de saber às quantas andamos para aferir se vale realmente a pena o esforço colectivo.
Um portal como o acima mencionado, cuja visita se aconselha, permitiria percebermos o ritmo das receitas fiscais; a flutuação da dívida externa; o grau de poupança no sector público e empresarial do Estado; os níveis de investimento público; o “rating” nacional; o comportamento dos mercados externos, etc etc.
Hoje em dia, o governo tem todos estes dados na sua posse seria um sinal de modernidade e maturidade democrática torná-los públicos para que todos nos sentíssemos parte da solução e externamente se observassem os indicadores. Além do mais, para um país que está muito bem referenciado no “governo electrónico” seria um passo natural!
Publicado no Jornal OJE
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