Comemorar efemérides provoca-me sempre sensações mistas. Satisfaz-me pensar que os motivos para a respectiva institucionalização já estão superados e que se mantém o “Dia X” no calendário por razões apenas de memória histórica; mas, ao mesmo tempo, assusta-me pensar que em pleno século XXI se cometem tamanhas atrocidades que justificam a existência do “Dia Y” para provocar a reflexão colectiva.
O Dia Internacional da Mulher é um desses exemplos. Para a minha geração mulheres e homens nascem iguais em direitos e deveres. Não existe o sexo forte!
Mais, confesso que não saberia o verdadeiro valor da vida nem conheceria os maiores prazeres desta acaso não fossem as mulheres, desde logo a minha mãe, mulher e filha!
Habituei-me, desde sempre, a partilhar tempo e espaço com mulheres de elevada capacidade intelectual e com competências profissionais superiores à média, por isso mesmo não me causa nem embaraço nem perplexidade conviver de igual para igual com elas ou até mesmo ser liderado por elas.
Não existem, à luz dos meus valores individuais e das minhas regras de convivência social, quaisquer motivos para uma discriminação positiva ou negativa em função do género. Todavia compreendo que, face ao atraso civilizacional de algumas sociedades, exista a necessidade política de construir modelos que favoreçam e discriminem positivamente algum dos géneros: regra geral o feminino.
Foi com base neste pressuposto que há uns anos se aprovou o famigerado “sistema de quotas” para participação de mais mulheres na vida política nacional. Ora, deu-se um impulso tremendo, de tal modo que o parlamento português, hoje, é dos que mais mulheres têm no espaço europeu.
Todavia, passados alguns anos, conviria fazer um balanço. Não basta impor quotas, é preciso avaliar e perceber o seguinte: qual o perfil das mulheres que passaram a ser eleitas com as quotas? Que tipo de intervenções passaram a ter e a fazer no espaço parlamentar? Que cargos de direcção ocupam? Que tipo de actividade passam a ter depois de uma experiência parlamentar? Qual a incidência da reeleição?.. Estas e outras questões permitir-nos-ão chegar a algumas conclusões que, suspeito com fundamento, não foram decerto aquelas que os promotores das “quotas” desejariam…
Todavia, passados alguns anos, conviria fazer um balanço. Não basta impor quotas, é preciso avaliar e perceber o seguinte: qual o perfil das mulheres que passaram a ser eleitas com as quotas? Que tipo de intervenções passaram a ter e a fazer no espaço parlamentar? Que cargos de direcção ocupam? Que tipo de actividade passam a ter depois de uma experiência parlamentar? Qual a incidência da reeleição?.. Estas e outras questões permitir-nos-ão chegar a algumas conclusões que, suspeito com fundamento, não foram decerto aquelas que os promotores das “quotas” desejariam…
Em suma, há um caminho a fazer. Nem sempre as mudanças legislativas só por si produzem efeitos. E, tenho para mim, que mais importante do que medidas simbólicas ao nível político é a atitude das próprias mulheres, que não podem continuar a pensar e a mover-se dentro de esquemas sociais e de pensamento machista.
Actualmente, mais importante do que decretos e portarias são as decisões que as empresas internamente possam tomar para promover uma maternidade activa, um equilíbrio entre trabalho e vida familiar e a partilha de responsabilidades em cargos de direcção. Aqui sim se criam condições efectivas para promover as mulheres e as suas competências próprias.
Apesar de tudo abundam os bons exemplos e os números demonstram que em muitos sectores, sobretudo na Universidade, as mulheres se afirmam e se impõem. De tal modo que um amigo com responsabilidades políticas neste país dizia com graça que um destes dias será preciso instituir o Dia Internacional do Homem, pois estamos a passos largos a gerar modelos sociais e económicos em que o sexo feminino é manifestamente o mais forte. Esperemos que não artificialmente!..
Publicado no Diário As Beiras
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