quinta-feira, 29 de março de 2012

CUSPIR NA SOPA!



O Brasil tem no petróleo uma das suas riquezas atuais e um motivo de esperança assumida num futuro melhor. Enquanto os políticos discutem (e não se entendem) quanto à distribuição e afetação dos “royalties”, os derrames e desastres ecológicos sucedem-se. Pior: a ideia que fica é a de uma impotência absoluta face aos fatos. Ou seja, este exemplo serve apenas para demonstrar como o “país do pré-sal” tem no seu atual motivo de júbilo um elevadíssimo risco ambiental. E, “estão nem aí”...

Durante muito tempo, um pouco por todo o lado, a ecologia foi uma importante bandeira política. Sinal de modernidade. Criaram-se mesmo partidos com pendor ambientalista. Os anos passaram e “os verdes” até chegaram ao poder em relevantes países do mundo. Mas, e isso mudou alguma coisa?..

O que mudou mesmo foram as preocupações das pessoas. Hoje, a questão ambiental não aparece entre as prioridades dos cidadãos, ao invés do emprego, da saúde e da habitação, núcleo das inquietações individuais.

A Rio+20 – conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável  –vai ter lugar, em Junho, no Rio de Janeiro. Já muito se fala da dita, sobretudo porque há meses que a capacidade hoteleira do Rio esgotou e se abrem ótimas perspetivas de negócios para os diversos setores, em especial o turístico. Quanto ao objeto que se lá vai tratar, a espaços ouvem-se uns rumores...

Mas se observarmos o que mudou desde a Conferência do Clima, também no Rio, em 1992, chegaremos a tristes e decepcionantes conclusões.

Os Estados, na voracidade dos dias globais em que a competitivade internacional impera, acabam por estar mais preocupados com os baixos custos produtivos e com o acesso ao capital do que propriamente com a sustentabilidade ambiental.

Produzem convenções juridicamente pomposas – que uns assinam e outros não, mas que raramente alguém respeita porque não há verdadeiros mecanismos de fiscalização e penalização - criaram mercados para comercializar carbono e outro tipo de inovações que ninguém entende, mas o saneamento básico continua por fazer, o tratamento e reciclagem dos resíduos é uma miragem e as reservas de água seguem maltratadas um pouco por todo o mundo.

Em suma, andamos literalmente a “cuspir na sopa”.

quinta-feira, 1 de março de 2012

E A CULPA É DO GALLO!?


Uma das mais recentes campanhas publicitárias do Azeite Gallo, no Brasil, está a ser alvo de queixas por alegado racismo. A marca decidiu salientar a importância do vidro escuro para preservação de determinadas qualidades e características do produto. Simples. Na base da reclamação, pasme-se, está o slogan “Nosso azeite é rico. O vidro escuro é o segurança”. Como dizem por estas bandas: “me poupe”.

É um absurdo ver numa mera campanha publicitária que, por ser isso mesmo, recorre a efeitos linguísticos e de imagem especiais, um atentado racista. Neste caso a situação torna-se ainda mais ridícula quanto é sabida e reconhecida a associação no Brasil entre ricos e segurança e que a maior parte destes se veste de preto ou são mesmo de raça negra. Estavámos então perante estereótipos, apenas.

Acresce, que, no Brasil, o tema do racismo é ainda hoje uma questão mal resolvida e que muitas vezes serve (vezes demais, diria) para fazer ajustes com a história. Se a marca de azeite Gallo não fosse portuguesa teria havido semelhante reação? Fica a pergunta...

Por outro lado, o tema racismo responde e alimenta diversos interesses por estas bandas. Desde Organizações Não Governamentais que vivem por conta do erário público para tratar do tema até partidos políticos que fazem dessa bandeira um fantasma com intuito eleitoralista, vê-se de tudo.

O racismo existe. Seria impossível não existir numa sociedade onde a miscigenação cultural é tão evidente e, sobretudo, onde as desigualdades sociais são ainda tão gritantes. Porém estes problemas resolvem-se de outra forma que não acusando uma campanha publicitária inofensiva de um azeite português.

Finalmente, um dado relevante do Censos 2010: há mais pessoas declarando-se pretas e pardas. Este grupo subiu para 43,1% e 7,6%, respetivamente, na década de 2000, enquanto, no censo anterior, era 38,4% e 6,2% do total da população brasileira. Já a população branca representava, em 2010, 47,7% do total; a população amarela (oriental) 1,1% e, a indígena, 0,4%.

Arriscaria, assim, dizer que, hoje em dia, quando quase metade da população é negra ou parda o racismo é um fenómeno muito mais económico que cultural. E a culpa é do Gallo!?..